Antônio Chaker Neto*
Uma das aceitações mais difíceis para os líderes da pecuária é a de que sua fazenda precisa funcionar bem, mesmo em sua ausência. Para isso ele precisa empoderar a equipe para que ela seja capaz de executar as tarefas, com independência. Para avaliar nosso estágio de desapego das atividades de execução, aquelas que nos dão muito prazer e a falsa sensação de controle, propomos que o líder avalie se na maior parte do tempo ele está em “modo IN” ou em “modo ON”. A brincadeira tem por base, o significado das palavras em inglês, que nesse contexto significam, respectivamente, dentro e sobre.
O líder em modo “IN” é aquele que participa da lida diária. Nessa hora, ele está na função de executor e até sobe no cavalo para fazer a ronda ou pratica uma supervisão muito próxima no campo. É importante ser “IN”, pois há momentos em que o líder deve estar perto da execução, principalmente, nas etapas iniciais de processos de alto impacto financeiro, cuja sua participação leva ao engajamento como também traz segurança a equipe por seu poder de decisão. Exemplo é o início do plantio de soja, início da temporada de vacinação ou monta; acompanhamento do processo de ensilagem ou a abertura de um confinamento.
Por outro lado, o líder em “modo ON”, está fora da execução e dentro do controle. Apesar de longe, fisicamente das rotinas, ele estará completamente envolvido com a fazenda. Em “modo ON”, o líder poderá avaliar os relatórios mensais e trimestrais e confrontar as informações de processos, pessoas e finanças. Na verdade, ele estará ocupado com o planejamento. Estará buscando soluções e investigando alternativas. Estará aprendendo sobre outros negócios correlatos para propor novas saídas para velhos problemas.
Ser “ON” é muito bom para o negócio, mas se praticado em excesso perde-se a conexão com as pessoas e o equilíbrio do projeto. A boa liderança é aquela que consegue manter 70% de seu tempo em modo “ON” e 30% em modo “IN”, sem que a equipe sinta falta de sua presença física.
Isso é possível, pois nos momentos de decisão e fortalecimento da execução, o líder estava presente, nos demais a equipe sentiu-se segura para tocar a boiada. Essa segurança é possível a partir de tarefas que foram bem definidas como também pelo acompanhamento da métrica. A checagem periódica da distância do que está sendo executado para o definido pela meta é o que nos traz a real sensação de controle.
Foco em gerir o caixa
A infinidade de tarefas em “modo ON” também pode dispersar o líder, por esse motivo, se ele tiver de escolher por onde começar, minha recomendação é que ele opte por controlar, de forma impecável, o fluxo de caixa da empresa.
O fluxo de caixa é o controle das receitas e das despesas organizadas no período de um mês, comparando o real com um fluxo ideal previsto de doze meses. Para entender o impacto do fluxo de caixa dizemos que ele é o “poderoso chefão” da fazenda. É ele quem decide o que será aceito ou negado.
Engraçado que quando as pessoas internalizam o fluxo de caixa elas também assumem uma nova frase ao se deparar com qualquer proposta de desembolso. “Está no fluxo?”. Se sim, é aceito. Se não, vai para a análise. A mentalidade do “Está no fluxo?” não se restringe aos líderes, mas alcança a rapaziada do campo também, o que mostra um tremendo alinhamento de equipe.
O fluxo de caixa tem duas modalidades. O primeiro é o “baseline”, aquele inicial que foi programado no planejamento, para ser realizado durante o período de um ano. Ele é o norte que deve ser perseguido, mas difícil de ser realizado. Sabemos que na prática, há muitas mudanças. Há uma estiagem imprevista e a necessidade de comprar comida; oportunidade de venda de bezerro quando a relação de troca está baixa ou um gerente antigo que pediu para ser desligado e deve ser feito todo o acerto. Portanto, o fluxo de caixa “baseline” é a linha mestra de acompanhamento, é como um orçamento. Quem não tem o acompanhamento, mensal, do “orçado e realizado”, não tem nada! É esse acompanhamento que emite os avisos de alerta do projeto.
Como isso funciona? Ao fazer o acompanhamento mensal do fluxo de caixa, o líder atenta-se para o saldo mensal e o acumulado de doze meses. Todo mês, com base no que foi executado, ele irá checar o mês atual, fazer a atualização dos meses seguintes e prever mais um mês (este se chama Fluxo Forecast). Dessa forma, sempre terá a previsão de doze meses. Como a pecuária é viva, devido as mudanças ocasionais, posso ter sacado mais dinheiro do que o previsto e, com o controle do fluxo, já antecipo a informação de que em dez meses vai faltar dinheiro no meu caixa. Ciente, tenho tempo de tomar medidas preventivas. Quem não faz esse acompanhamento, do orçado e do saldo acumulado é surpreendido com emergências que tiram o sono. Nessas horas, são poucas as alternativas e caros os juros.
O fluxo de caixa é o “poderoso chefão”, por ser quem decide e tranquiliza o fazendeiro. Ele também é um companheiro como o tereré para o sul-mato-grossense; o chimarrão para o gaúcho ou o café do paulista. É preciso estar com ele mês a mês para não ter surpresa e se manter no positivo. Ele faz parte das atividades essenciais do “modo ON”, as quais o líder não pode negligenciar. Elas só dependem dele e dão o tom do negócio.
*Antônio Chaker Neto é zootecnista e Msc. em Produção Animal pela UEM, consultor sênior em projetos de gestão pecuária e coordenador do Inttegra – Scot Consultoria