Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão pensa o futuro da atividade

Uma visão sobre o futuro da Agricultura de Precisão no Brasil. Esse foi o foco predominante das apresentações do Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão (ConBAP 2018), promovido a cada dois anos pela Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP), de 2 a 4 de outubro, em Curitiba (PR). Em sua oitava edição, o ConBAP reuniu cerca de 700 participantes, na maioria formadores de opinião que, além dos debates, tomaram conhecimento de soluções e inovações apresentadas por um grupo de 40 empresas que montaram seus estandes na área de exposição.

José Paulo Molin, presidente da AsBraAP, destaca que a presença das mais importantes indústrias e prestadores de serviços do segmento também reforça a importância que o evento tem para os profissionais da área, ratificando o evento como o local ideal para as empresas “apresentarem suas avançadas tecnologias e exercitarem suas propostas mercadológicas”, comentou Molin, frisando que os participantes foram “os profissionais que influenciam diretamente o produtor rural na adoção das tecnologias e sistemas da Agricultura de Precisão”.

Os resultados levam a AsBraAP a definir como proposta para as próximas edições a participação de lideranças das áreas técnicas das empresas agrícolas e também de cooperativas rurais, uma vez que o evento tende a se consolidar “como uma referência no segmento, exatamente num momento em que está bastante aquecida a formação de startup no agronegócio em torno da agricultura digital. O Congresso confirma que já existe no Brasil uma atuante comunidade formada por especialistas de várias áreas e que está trabalhando nesse assunto há muito tempo”, resume Molin.

Tendo como tema principal Construção de Dados na Era da Digitalização Agrícola, tratou de assuntos como Agricultura de Precisão como um lado digital da agriculturaBigData Agro, Analytcs, Machine Learning, Data Mining, Deep Learning; inovação na gestão da variabilidade das lavouras para obter resultados positivos; plataformas da Agricultura Digital; benefícios econômicos e ambientais da Agricultura de Precisão; desafios da prestação de serviços em APeletrônica embarcada e automação para a mecanização eficientetntegração de dados, conectividade e compatibilidade; inovações da AP para cana-de-açúcar.

PRESENÇA INTERNACIONAL – Entre os destaques, conferência sobre Data-driven advances in agriculture, proferida por Kenneth A. Sudduth, pesquisador do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e que presidiu a International Society of Precision Agriculture de 2014 a 2016. Em sua apresentação, o pesquisador traçou um panorama histórico da Agricultura de Precisão nos Estados Unidos, destacando, entre as ferramentas a condutividade elétrica do solo, técnica por meio da qual é possível levantar, de forma prática e rápida, parâmetros como textura e umidade do solo.

De acordo com o palestrante, nos Estados Unidos a estimativa é de que 10% dos produtores já estejam utilizando tal instrumento de análise de solo. No Brasil, apesar de ainda ser bastante insipiente seu uso, a prática já é bem conhecida pelos produtores. “A principal vantagem é que a nova solução possibilita fazer uma rápida caracterização do solo numa área relativamente extensa para, em seguida, aprimorar a avaliação com análise convencional de solo apenas nos locais previamente identificados pela condutividade elétrica do solo”, explica o engenheiro Marcio Albuquerque, diretor da Falker, empresa que desenvolveu e fabrica um equipamento destinado ao teste de condutividade de solo.

O pesquisador norte-americano observou ainda que entre os produtores dos Estados Unidos ainda há certa indefinição quando à adoção da Agricultura de Precisão. “O que acontece é que muitos agricultores não conseguem enxergar valor nas informações fornecidas pelos instrumentos da Agricultura de Precisão. Um exemplo disso é a desconfiança quando a parâmetros que apontam para a necessidade de aplicação de fosfato ou potássio em suas lavouras”, comentou o pesquisador. A seu ver, muitas vezes as prescrições previstas pelos instrumentos de Agricultura de Precisão não surtem o efeito esperado, pois o produtor não acredita nas soluções. “E todos nós sabemos que o processo envolvido na ferramenta exige parceria entre o produtor, o agrônomo e os consultores”, concluiu Sudduth.

ESTUDOS DE CASO – Os ganhos da Usina São Manoel, localizada no interior de São Paulo, que esmaga anualmente 4,1 milhões de toneladas de cana, e os avanços obtidos pelo produtor Joel Raganin, em Goiás, foram apresentados no ConBAP.

No caso da Usina São Manoel, foi obtido ganho de produtividade que possibilitou aos gestores, mesmo sem aumentar a frota de tratores nos últimos 10 anos, dobrar a área de cultivo. “Além disso, com o aprimoramento do controle da vazão nas aplicações de defensivos agrícolas, se conseguiu uma redução de 1% no volume de aplicação do insumo, o que resultou numa economia de R$ 1 milhão por safra”, informou Guilherme Guiné Pinto Ferreira, supervisor agrícola da São Manoel.

No caso da manutenção inalterada da frota de tratores, apesar do aumento da área cultivada, o palestrante salienta que isso foi possível graças a ganhos de eficiência na operação das máquinas, troca dos tratores por outros modelos mais adequados ao tipo de trabalho realizado, aos mecanismos de controle que possibilitam monitoramento 24 horas da operação, otimização do uso evitando o retrabalho, entre outras ações decorrentes da adoção da Agricultura de Precisão. Salienta ainda que antes de se adotar tais ferramentas, se cogitava inclusive dobrar a frota de tratores.

O executivo da São Manuel relembrou ainda que opção da empresa por técnicas de Agricultura de Precisão remonta ao ano de 2007 e que o início se deu por meio da instalação de piloto automático, controladores de vazão, computador de bordo nas máquinas, entre outras medidas. Segundo Ferreira, apenas as técnicas previstas na Agricultura de Precisão não significam ganhos automáticos de eficiência e produtividade da lavoura. A seu ver, é necessário, entre outras coisas, operadores capacitados e treinados. “Lá na empresa temos uma máxima de que é necessário criar um meio para que a inovação aconteça. Nesse aspecto, já estamos evoluindo para modelos matemáticos, BigData e outros instrumentos que possibilitarão processar e tirar o máximo de dados acumulados nos últimos 10 ou 15 anos”, comenta o executivo, que participou do painel Inovações da AP para cana-de-açúcar.

Joel Raganin, por sua vez, relatou os avanços decorrentes da utilização das práticas de Agricultura de Precisão em 2003. “Na safra 2003/04, quando iniciamos a aplicação de técnicas de AP em nossas culturas, tínhamos uma produção média de 49 sacas de soja por hectare. Hoje, nossa média está em 65 sacas por hectare. Em milho, saltamos de uma produção média de 90 sacas por hectare, para 130 sacas por hectares no mesmo período”, comentou o palestrante.

PRÊMIOS E HOMENAGENS – Além dos debates promovidos nas conferências, palestras e painéis do ConBAP 2018, atraiu também a atenção dos participantes a Seção de Pôster onde foram expostos 67 trabalhos científicos, elaborados por alunos e professores, que foram selecionados pela Comissão Científica. Diversos deles foram apresentados oralmente em diversos auditórios sendo que quatro receberam prêmios concedidos pelos organizadores do evento. Dois foram escolhidos na categoria Pôster e dois na apresentação com sustentação Oral.

Os escolhidos na categoria Pôster foram: “Sistema computacional para previsão da dispersão da ferrugem asiática da soja a partir de dados meteorológicos e de ocorrência da doença”, elaborado por Franciele Marques do Nascimento, Ivairton Monteiro Santos e Paulo Afonso Ferreira, e “Resposta de híbridos de milho a semeadura em taxa variável”, elaborado por Robisom Josimar da Silva, Davi Gabriel Besson e Rodrigo Gonçalves Trevisan.

Já na categoria de sustentação Oral, os vencedores foram: “Sensor de indução eletromagnética (IEM) para mapeamento da variabilidade espacial do solo em lavouras de cana-de-açúcar”, de autoria de Guilherme Sanches e Paulo Graziano Magalhães; e “Metodologia para identificação e correção de erros causados pela inclinação da colhedora de grãos em mapas de produtividade”, cujos autores são: Yaroslau Miguel Kuzicz, Fabrício Pinheiro Povh, Leandro Solano Flugel e Angelica Iaros.

Durante o ConBAP foram prestadas ainda homenagens a profissionais e instituições que se destacaram na pesquisa e desenvolvimento da Agricultura de Precisão no Brasil. O primeiro homenageado foi o professor Antônio Mauro Saraiva, do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Poli/USP – Universidade de São Paulo e que é considerado um dos pioneiros no desenvolvimento e incentivo ao uso de técnicas de Agricultura de Precisão no Brasil.

Outra homenageada foi a Fundação ABC, uma instituição sem fins lucrativos voltada a pesquisa aplicada para soluções tecnológicas para o agronegócio. Ela é ligada a três cooperativas paranaenses que, no total, congregam 4.800 produtores rurais. Quem recebeu o prêmio em nome da Fundação ABC foi Fabrício Pouh, coordenador do setor de Agricultura de Precisão da instituição.

Crédito das fotos: Agata Foto e Vídeo

 

 

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