Bárbara Mangiaterra*
Engana-se quem acredita que no mercado de hortifrutis o grande desafio esteja apenas na disputa por clientes. Diferentemente do que muitos acreditam, também há uma acirrada concorrência pelos fornecedores. Neste contexto, além de preço e qualidade, vitais para qualquer negócio, também podemos destacar três fortes pilares: avaliação através de auditorias nestes fornecedores para verificação de qualidade, segurança de alimentos, responsabilidade ambiental e social; avaliação quantitativa e qualitativa do produto no recebimento; e, por fim, monitoramento de resíduos de defensivos no produto.
Esses três pontos são vitais para qualquer player do setor. A gestão de fornecedores deve se basear nos riscos, já que devemos considerar que muitas vezes o fornecedor do hortifruti compra de um grupo que, por sua vez, pode ser revendedor de outro grupo de fornecedores. E nesse caminho fica difícil para o consumidor saber “quem produziu de fato o que o mercado está comprando”.
Diante deste cenário o risco aumenta, pois o risco de comprar algo que tenha resíduos de defensivos não permitidos ou, ainda, acima do limite permitido é algo que não pode ser detectado em uma inspeção de recebimento. Com isso, os entes da cadeia, que são responsáveis perante a lei, ficam expostos sem nenhum tipo de defesa.
Nesse caso, vale citar que em situações diferentes desta, o comprador pode gerenciar a questão de resíduos de defensivos no produto. Isso porque atualmente existem análises de monitoramento que são amostrais e servem para detectar o problema de forma pontual. A melhor forma de ter o controle sobre a aplicação de defensivos acontece por meio do registro eletrônico por parte do produtor, que deve inserir os dados de aplicação de insumos e que deverão chegar ao comprador por meio do lote de produção, onde podem ser verificados.
Desta forma, destacamos dois pontos relevantes dentro desta cadeia: quem está produzindo deve ter cuidados ainda maiores, já que quem produz será identificado através da rastreabilidade. Por outro lado, quem está comprando consegue ter acesso ao manejo registrado em caderno de campo online, para cada lote adquirido. Lá, poderá encontrar todos os defensivos e insumos utilizados no lote comprado. Quanto maior transparência, melhor para todos os envolvidos. Vale também acrescentar que, pela legislação vigente, o comprador que consolida lotes, deve armazenar o dado de aplicação de insumos dos lotes adquiridos. Isso está explicitado na INC 02 de2018
A importância de conhecer o processo produtivo do que está sendo comprado
É preciso que compradores e produtores se atentem aos problemas oriundos de resíduos de defensivos, já que eles podem ser tratados em conjunto. O intuito de melhorar a cadeia de hortifruti e ter um produto cada vez melhor para o consumidor é o ideal para todos os envolvidos. A informação sobre quem produziu e como produziu deve acompanhar o lote comprado. Em linhas gerais, podemos dizer que é como se cada produtor ganhasse uma assinatura virtual para colocar em cada produto que sai de sua propriedade.
Por fim, antes de estabelecer qualquer parceria, é fortemente recomendado que os players deste setor olhem para as necessidades do seu negócio. Essa visão vai ajudar a definir quais tipos de fornecedores serão necessários tanto para os produtores com relação aos insumos, quanto ao mercado comprador na qualidade dos hortifrutis.
*Bárbara Mangiaterra é doutora em Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo (USP) e CEO da Eattae, empresa que oferece tecnologia simplificada de rastreamento para pequenos, médios e grandes produtores.