Com potencial de alcançar novo recorde, a 2ª safra de milho acabou limitada pela irregularidade do clima. Desse modo, o período foi de transformações, no qual o milho consolidou uma posição de protagonismo no agronegócio. Essa análise do Rally da Safra se materializa na estimativa de produção de 72,9 milhões de toneladas de milho na 2ª safra. Esse volume é 4,5% menor que a safra recorde passada, em função das irregularidades climáticas que marcaram essa temporada. Todos os principais estados produtores registraram queda na produtividade.
Destaque para o fato de este ter sido um ano atípico também na avaliação das lavouras que, devido à pandemia, foram avaliadas de modo digital e remoto. Desde meados de maio, mais de 60 produtores que atuam nas principais regiões agrícolas participaram de uma série de reuniões virtuais, passando informações sobre as condições desta 2ª safra. Os técnicos do Rally também intensificaram o levantamento remoto, num esforço que incluiu entrevistas com mais de 120 profissionais do agro e o lançamento de uma nova versão do aplicativo do Rally que auxilia na avaliação da produtividade das lavouras por meio de fotos tiradas pelo smartphone.
Por todos esses canais chegaram informações essenciais para compreender o que se passa no campo, formando não só um retrato da temporada, mas trazendo indícios sobre uma transformação estrutural no mercado de milho. O crescimento da demanda para produção de etanol no Centro-Oeste, os ganhos de competitividade proporcionados pela melhora da logística com os portos do Norte do país e a consolidação da comercialização antecipada da produção contribuem para dar mais protagonismo para o milho no agronegócio brasileiro. O que emerge do campo é um cenário no qual o patamar de investimentos na 2ª safra tende a permanecer elevado. “Não faz mais sentido usar o sufixo “inha” para designar a segunda safra de milho. O termo milho safrinha ficou no passado”, diz André Debastiani, coordenador do Rally da Safra
Plantio
O plantio atrasou em Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, empurrando o desenvolvimento de uma parcela significativa das lavouras para um calendário de maior risco climático. Isso contribuiu para perdas de produtividade nessas regiões, afetadas também pelo baixo volume de chuva em abril, período em que boa parcela das lavouras passava pelo estágio crítico de pendoamento.
De maneira geral, as condições foram bem diferentes do ano passado, quando as lavouras da 2ª safra foram semeadas antecipadamente e se desenvolveram sob condições climáticas próximas das ideais. “Isso ajuda a explicar a produtividade média de 91,7 sacas por hectare contra 101,0 sacas por hectare na safra passada”, afirma Debastiani. “Mesmo assim, os produtores estão colhendo bons resultados, devido à elevação dos investimentos e do aumento de área.” No Mato Grosso, o atraso do plantio foi menor e, apesar de alguns bolsões de seca no Oeste e Sudeste do Estado, a produtividade será boa: 108,5 sacas/hectare (112,5 em 2018/19). O estado de Goiás deverá fechar em 103,5 sacas/hectare (113,5 em 18/19), enquanto que o Mato Grosso do Sul e o Paraná ficaram com 78 sacas/hectare (89 e 100,1, respectivamente, na temporada passada).
Os resultados poderiam ser melhores. Os bons preços do milho e o histórico de excelentes resultados nas safras recentes estimularam uma expansão de 5,2% na área plantada, que chegou a 13,3 milhões de hectares. A significativa ampliação nos investimentos em tecnologia, que repercutiram no aumento de produtividade, também foi um fator positivo. Os híbridos mais produtivos tiveram prioridade e houve mais recursos em adubação e controle de pragas e doenças. Por tudo isso, havia condições para se chegar a uma produção de quase 81 milhões de toneladas nesta 2ª safra. “O teto produtivo das lavouras vem crescendo nos últimos anos, principalmente em função dos investimentos”, diz Debastiani.
Foto de capa: kai li por Pixabay