ARTIGO – Os impactos do coronavírus

Ernani Reis*

De acordo com a visão da Capital Research, a confirmação de novos casos de coronavírus dentro e fora da China elevam as chances de revisão do crescimento mundial no 1º trimestre de 2020 e entender a profundidade desse impacto é o principal desafio do mercado no momento.

A preocupação dos investidores gira em torno da transparência do governo chinês sobre o caso e seus esforços em conter a doença que, por sua vez, já superou os números da epidemia Sars de 2003, caso utilizado como referência por também se tratar de um coronavírus identificado na China. Dessa forma, os investidores demonstram aversão ao risco e estão adotando uma cautela mais conservadora, em um movimento que derruba as bolsas ao redor do mundo, como foi possível notar na última segunda-feira, dia em que o Ibovespa caiu mais de 3%.

No geral, o termo do mercado financeiro passa por dois motivos principais. Em primeiro lugar, como a China é a segunda maior economia do mundo, a queda do consumo interno e da produção de mercadorias impacta diretamente o “PIB do mundo”. Com as atividades interrompidas em grande parte do solo asiático durante o principal evento regional do ano, o Ano Novo Lunar, setores como transporte, hotelaria e entretenimento já sentem os impactos das ruas quase vazias de Wuhan, Pequim, Shanghai e outras cidades interditadas no país.

Além disso, a drástica redução do consumo chinês (país mais populoso do mundo) também vem derrubando o preço de commodities, como petróleo e minério de ferro, ao refletirem as preocupações sobre o possível aumento do estoque nos próximos dias, afetando diretamente o desempenho de países emergentes como o Brasil.

Por falar em Brasil, o excesso de oferta do petróleo pode até ter um impacto positivo no preço dos combustíveis nos próximos dias. Em contrapartida, o setor agopecuário brasileiro, em especial com relação à carne e à soja, preocupa. Isso porque, atualmente, a China é o principal destino da produção nacional e uma redução no consumo pode impactar as exportações de um segmento que ainda busca entender o impacto futuro do acordo comercial entre China e EUA, no qual o país asiático se compromete a consumir mais produtos agrícolas norte-americanos, fato que deve provocar uma revisão dos contratos com os demais países fornecedores.

Dito isso, é importante destacar que ainda é cedo para fazer uma leitura mais clara dos impactos econômicos decorrentes do coronavírus, já que, além da extensão da contaminação desconhecida, ainda estamos nas primeiras semanas do ano, historicamente influenciadas pelo baixo desempenho.

*Ernani Reis é analista da casa de análises Capital Research

Foto de capa: shutterstock

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