Maturidade do bem-estar animal é apontada em debate como nova temática em estratégias de negócios

“Assim como se diz sobre a beleza, o ESG está nos olhos de quem vê”. Com essa frase intrigante a professora do mestrado da Fundação Getúlio Vargas-SP e coordenadora do Programa de Pesquisa em Finanças Sustentáveis no Centro de Estudos em Sustentabilidade da entidade, Annelise Vendramini, buscou mostrar a diversidade de critérios e a complexidade da comentada tendência do universo dos investimentos (Environmental, Social & Governance, ou Ambiental, Social e de Governança) ao público do encontro virtual “Bem-estar animal na estratégia de empresas e investidores” promovido pela Proteção Animal Mundial.

Ao mesmo tempo em que a fala é reveladora da falta de padrões ainda absolutamente claros de ESG, evidencia como a discussão é um campo aberto de oportunidades para a incorporação de conceitos concretos que sejam interessantes aos investidores para alocação dos recursos, com ampla receptividade e possibilidade de avanço para o bem-estar animal na medida em que contribui, entre outros aspectos, para a redução de riscos e atende a expectativas da sociedade.

Para aqueles que trabalham diretamente pela difusão e ampliação das práticas de bem-estar animal, estes conceitos já são uma realidade e possuem calço científico. A missão então está em escrever as páginas de bem-estar animal nas cartilhas – em construção – das políticas ESG. As demais falas do encontro reafirmaram como os esforços necessários já estão sendo empreendidos. Mostraram como diversos atores já estão organizados e estão concebendo e aprimorando ferramentas para que o bem-estar animal possa ocupar papel central ante a outros itens mais consagrados de responsabilidade empresarial e de investimentos, como por exemplo a agenda de mudanças climáticas, seja nas ascendentes políticas ESG ou outras ainda mais ambiciosas e de impacto positivo.

O encontro de grandes especialistas realizado pela Proteção Animal Mundial – organização não-governamental que trabalha em prol do bem-estar animal e anteriormente era conhecida como Sociedade Mundial para a Proteção Animal – teve a parceria da Business Benchmark on Farm Animal Welfare (BBFAW), do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e da Compassion in World Farming (CIWF) e foi realizado em 7 de julho.

Assunto em evolução

Mediado pelo professor Celso Funcia Lemme, Doutor em Administração/Finanças e especialista em finanças e sustentabilidade e docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD-UFRJ), o webinar reconheceu que pautas voltadas ao bem-estar animal, como respeito à vida, relação entre espécies e práticas que evitam o sofrimento, não faziam parte do mundo dos negócios há alguns anos.

“É muito satisfatório notar que o trabalho vem ganhando tração ao longo dos anos e já é possível engajar participantes dos diversos elos da cadeia produtiva”, comentou o zootecnista José Rodolfo Ciocca, painelista do evento e gerente de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial.

Recursos de análise à disposição

Os dois primeiros painéis abordaram ferramentas complementares que envolvem o setor financeiro no bem-estar de animais de fazenda. O BBFAW, sistema de ranking elaborado já a uma década, permite que os investidores avaliarem trajetórias e comparem empresas do setor de alimentos e seu desempenho em bem-estar animal. O levantamento apresentado por Elisa Tjärnström, assessora do BBFAW e pesquisadora de Engajamento Corporativo na Chronos Sustainability, deixou claro que o bem-estar animal não é uma percepção, mas uma abordagem técnica e científica baseada em gestão, indicadores e estudos específicos. Já a FARMS Initiative, estabelece os critérios de bem-estar dos animais de fazenda que são usados como referência nas políticas de sustentabilidade de instituições financeiras. Neste painel, José Rodolfo Ciocca, destacou a importância do financiamento da inovação para que as empresas entendam o seu papel no direcionamento das melhores práticas. Além da importância da diversificação do portfólio para a promoção de sistemas de alimentação mais éticos e sustentáveis.

“O agronegócio representa uma parcela significativa do PIB brasileiro, e para manter essa operação são necessárias grandes movimentações financeiras, sendo assim, os bancos são fundamentais para garantir que a produção do nosso alimento seja ética, sustentável e comprometida com o bem-estar animal”, destacou Ciocca.

Na sequência, Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC, apontou a relevância da visão do consumidor como parametrizador de empresas e investidores em suas decisões, além da importância do diálogo, maior transparência e a preocupação das cadeias de valor. A economista falou ainda sobre a relevância da chegada da Proteção Animal Mundial à coalização brasileira do Guia dos Bancos Responsáveis. Com a contribuição da organização, o bem-estar animal passará a ser um tema independente na avaliação de políticas da próxima edição do GBR, a 9ª, a ser lançada em 2022, permitindo um diagnóstico mais preciso das políticas dessa área, tendo em vista que os bancos nacionais representam 74% dos investimentos na produção de soja e carne.

“Nosso objetivo é oferecer aos consumidores um panorama sobre o que as instituições financeiras fazem com seu dinheiro, que tipo de empresas financiam e se consideram aspectos como por exemplo, desmatamento, respeito aos direitos humanos, relações trabalhistas”, comentou Amorim.

Perspectiva do setor de investimentos sustentáveis

Os desafios do investimento ESG, importância e oportunidades foram tratados pela professora Annelise Vendramini, na palestra de conclusão. “Há pautas mais maduras dentro dos investimentos ESG, como mudanças climáticas. O bem-estar animal, apesar de muito importante, ainda é pouco compreendido”, comenta Annelise. “Temos dois caminhos para disseminar essa pauta: por meio de políticas públicas, que para o investidor entre em compliance, e práticas voluntárias, que nos ajudam a mostrar a relevância e trazer o tema para discussão”, explicou.

A painelista chamou atenção ainda para a importância de que os defensores da transição para os sistemas éticos e sustentáveis de produção olhem de forma abrangente para o ecossistema de investimentos na agropecuária, considerando não somente os bancos e o mercado de capitais, mas os próprios produtores e intermediários comerciais.

Para assistir o webinar na íntegra, acesse a área de “Programação” na página do evento: https://eventos.congresse.me/bemestaranimalempresasinvestidores/.
Sobre a Proteção Animal Mundial (World Animal Protection)

A Proteção Animal Mundial (anteriormente conhecida como Sociedade Mundial para a Proteção Animal) mudou o mundo para proteger os animais por mais de 50 anos. A organização trabalha para melhorar o bem-estar dos animais e evitar seu sofrimento. As atividades da organização incluem trabalhar com empresas para garantir altos padrões de bem-estar para os animais sob seus cuidados; trabalhar com governos e outras partes interessadas para impedir que animais silvestres sejam cruelmente negociados, presos ou mortos; e salvar as vidas dos animais e os meios de subsistência das pessoas que dependem deles em situações de desastre. A organização influencia os tomadores de decisão a colocar os animais na agenda global e inspira as pessoas a mudarem a vida dos animais para melhor. Para mais informações acesse: www.protecaoanimalmundial.org.br.