CAMINHOS DO AGRO SP – Aquecimento do mercado de exportação da soja e suas complexidades

A importância da cultura da soja para a economia brasileira, seu papel de destaque nas exportações e as pesquisas que avançam no campo para a evolução do cultivo foram abordados no episódio Soja, do projeto “Caminhos do Agro SP”, em 9 de dezembro de 2020.

O Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira, conversou sobre a cadeia produtiva da soja com representantes de seus diversos elos, como o pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Everton Luis Finoto; o produtor de soja Marcos Almeida; o Head de Marketing para Cultivos Extensivos da UPL, Lucas Rona e o CEO da AgriBrasil, Frederico Humberg.

“A soja é a principal cultura do agronegócio brasileiro e destaque das exportações. É um setor estratégico e essencial fornecedor de insumos para alimentação animal, com farelo e para a alimentação humana, com óleo de soja, além de combustíveis como o biodiesel. Parte desse sucesso vem de extensas pesquisas realizadas pela Secretaria, por meio de polos localizados em diferentes regiões do estado”, explica Junqueira.  

Everton Luis Finoto, pesquisador locado no polo de Pindorama (SP), falou sobre o trabalho desenvolvido pelo projeto Ambisoja, que estuda os ambientes de produção para a cultura em áreas de reforma de canavial. Segundo ele, o objetivo é identificar o perfil dos genótipos mais adaptados para atender esse ambiente de produção.

“As pesquisas têm proporcionado o aumento expressivo da área cultivada de soja nos últimos anos. Além disso, com o plantio direto na palha da cana, não há a necessidade de remover o solo. Essa é uma característica muito importante, já que a região Noroeste paulista tem um solo muito suscetível à erosão. Diante disso, muitas usinas sucroalcooleiras preferem ceder as áreas de reforma para a cultura da soja”.

 Finoto contou ainda que há um trabalho de avaliação de cultivares desenvolvido há cerca de 10 anos, que envolve uma rede de ensaios em diversas regiões do estado, em parceria com as Coordenadorias de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) e produtores rurais, para avaliação e indicação de cultivares mais responsivas para cada ambiente de produção. 

Um dos agricultores que contribuem para os estudos é Marcos Almeida, produtor de soja na região de Santo Anastácio. Ele conta que a produção do ano passado foi boa e que semeou cerca de 240 hectares com a cultura. “Esse ano o plantio foi se atrasando um pouco, por conta da falta de chuva, inclusive ainda estamos plantando. Mas pelas previsões tudo indica que será uma boa safra”. 

Aplique bem – O programa Aplique Bem, uma parceria da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo com a UPL, avalia pulverizadores em uso com base na ISO 16122 e realiza o treinamento de trabalhadores para o uso de defensivos. A atividade é feita com laboratórios móveis, chamados TechMóveis, levados às propriedades rurais do país.

Segundo Lucas Rona, o maior desafio de quem está envolvido com a agricultura, seja indústria ou produtor, é aumentar a produtividade numa mesma área, com qualidade, e isso só é possível com o uso da tecnologia. “Nos anos 90, a produtividade de soja estava na casa das duas t/ha, em média. Hoje, está próxima de três toneladas e meia por hectare. Temos um potencial produtivo para chegar a 18 t/ha de soja e o máximo que chegamos no Brasil foram nove, mas podemos avançar”.

Para isso, ele explicou que o propósito da UPL é olhar o cultivo como um todo, desde a semente que o agricultor planta, até a mesa do consumidor, interligando todas as cadeias, sempre pensando em produzir um alimento mais seguro, em que tenham sido respeitados todos os aspectos sociais, ambientais e de segurança do alimento. “Podemos trabalhar na interação de tecnologias, utilizando proteção de cultivos para minimizar perdas, associado a biosoluções para estimular o potencial genético do cultivo, visando entregar a saúde vegetal, conceito que trabalhamos há 12 anos”. 

Exportação e consumo interno – “Hoje temos em São Paulo cerca de 1 milhão de hectares que produzem soja e, em 2019, tivemos uma receita de exportação de aproximadamente 1 bilhão de dólares. Sem dúvida, a soja é uma cultura importante para o Brasil e que tem crescido também no estado de São Paulo”, frisou o Secretário.

Segundo Frederico Humberg, CEO da AgriBrasil, a crise gerada pela pandemia acabou estimulando os preços e o consumo. “Ao longo desse período pós início da crise, nós tivemos uma exportação muito violenta e um estímulo grande para o plantio, com preços altos e o produtor rural aproveitando dessa alta para fazer as suas vendas. Com isso, entraremos 2021 com cerca de 50% da soja já comercializada”. 

Ele comentou ainda que o consumo está amplamente aquecido, devido à retomada da produção de carnes da China, depois da peste suína africana, em 2018. “No ano passado a China importou 83 milhões de toneladas e esse ano já comprou 100 milhões. Há uma tendência de crescimento, tanto para soja quanto para milho, e imaginamos que os preços altos em dólares serão mantidos, não só para o ano que vem, mas para os próximos”.

No estado de São Paulo, que não é um expressivo produtor de soja no âmbito nacional, se concentram os mais importantes pontos de escoamento, principalmente o porto de Santos e por isso tem uma importância logística muito grande, já que é por onde saem mais de 30% do produto. 

Sobre o mercado interno, Humberg destacou que o país é extremamente competitivo, principalmente na produção de carne e aponta que na safra atual, o grande estímulo acaba sendo motivado pela exportação. “O nosso parque nacional de esmagamento de soja do Brasil é formado por indústrias mais antigas. Por isso, se nos compararmos à Argentina, ela está muito mais apta a ser um grande processador de soja para exportar o farelo ou exportar o óleo. O nosso foco está no abastecimento do mercado interno nacional, e não é nenhum demérito nós sermos um grande exportador de grão in natura. Hoje o nosso principal produto da balança de exportação comercial é a soja. O mercado interno tem a sua importância, mas o Brasil é o maior exportador global e tem essa missão de abastecer o mundo de soja”.