Cristiano Gotuzzo*
Por anos, era senso comum que o controle de pragas só era possível com o uso de agroquímicos. Mas este cenário mudou quando pesquisadores de vários países propagaram a ideia de que existiam formas de fazer o controle usando vetores biológicos, ou seja, insetos que são predadores de vários tipos de pragas, sendo multiplicados em laboratórios e lançados na lavoura para, através do parasitismo, eliminar o problema.
Inicialmente o uso desses agentes macro biológicos teve sua utilização restrita a pequenas áreas porque a aplicação só era possível ser realizada de forma manual. Provado que era uma solução altamente eficaz, a questão seguinte foi solucionar o problema da escala, ou seja, permitir que a tecnologia pudesse ser utilizada em lavouras comerciais.
No princípio foram usadas motocicletas, como solução para o problema. Mas é com o surgimento dos drones que o controle biológico ganha assertividade, precisão e produtividade. A tecnologia foi adaptada e foram criados sistemas de dispersão de inimigos naturais para o controle de pragas em lavouras, podendo, com isto, ser realizado em grande escala. Hoje, já está bastante disseminado no Brasil a dispersão de ovos de vespas, com drones, para o controle de lagartas e percevejos em diversas culturas, como por exemplo: soja, milho, cana-de-açúcar, abacate, entre outras.
Dentre as vantagens no uso dessa tecnologia está, a redução de investimentos em máquinas e equipamentos para pulverização, a redução do amassamento das lavouras com a menor necessidade de entrada de máquinas nas áreas e a praticidade na aplicação com um rendimento médio de 300 a 400 hectares por dia.
Além disso, os benefícios do controle biológico atingem positivamente – ao mesmo tempo – o fator econômico e a preservação ambiental. No caso ambiental, há a redução do uso de agroquímicos porque, em muitas situações, é eliminada por completo o uso de inseticidas nas lavouras. Com isso, se preserva o meio ambiente reconstruindo o equilíbrio entre pragas e inimigos naturais. Traz ainda como vantagem uma exposição menor do operador, uma vez que dentre os agrotóxicos, o inseticida é um dos mais tóxicos para as pessoas. A outra vantagem é que o produto resultante deste plantio, soja, milho, etc, vai estar livre para o consumo in natura, pois não terá resíduos de inseticidas, gerando um valor agregado à propriedade.
Sobre as vantagens econômicas, em muitos casos, apenas a substituição do uso de inseticidas para o controle biológico, já é mais atrativo financeiramente. Mas se pensarmos ainda que, em lavouras de milho e soja uma das tecnologias de transgenia é o de controle de lagartas e que essa semente custa praticamente o dobro de uma resistente apenas a herbicidas, só na escolha da semente o produtor já economiza cerca de R$ 200 por hectare.
Um exemplo prático desta última safra foi um comparativo feito em áreas no município de Alto Alegre, no Rio Grande do Sul, que utilizavam o controle convencional e outras onde foram aplicadas o Trichogrammapretiosum (uma microvespa) para o controle de lagartas em lavouras de milho. Diferente do manejo convencional que utilizou cinco aplicações de inseticidas para o controle de lagartas, o biológico realizou apenas uma dispersão de vespas para todo o ciclo da cultura do milho, gerando uma redução de cerca de R$ 250 por hectare. Se for somado a economia de cerca de R$ 400 por hectare na escolha da semente, é possível ter uma redução no custo total de, aproximadamente, R$ 650 por hectare com o uso dessa tecnologia, sem reduzir a produtividade da lavoura. Somado todos os fatores, é possível dizer que o uso do Drone mais o controle biológico, trazem para a produção agrícola uma nova dimensão. Além do ganho ambiental e econômico, que vai muito além da redução no custo de semente e inseticida, teremos uma lavoura e um meio ambiente mais saudável, com o retorno do uso de uma solução técnica que veio da própria natureza. E dadas as condições gerais que estamos vivendo hoje, acredita-se que é o melhor caminho agronômico.
*Cristiano Gotuzzo é engenheiro agrônomo, produtor rural e diretor executivo da Geoplan Soluções em Agronegócio.