ENTREVISTA – IoT no agronegócio: ABINC abre espaço para diálogo

Herlon Oliveira, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC) e CEO da AgrusData, fala sobre a implantação da Internet das Coisas  (sigla em inglês IoT) no Agronegócio e os impactos positivos do dessa tecnologia no setor de agronegócio. A ABINC foi fundada em dezembro de 2015 como uma organização sem fins lucrativos, por executivos e empreendedores do mercado de TI e Telecom. A ideia nasceu da necessidade de se criar uma entidade que fosse legítima e representativa, de âmbito nacional, e que nos permitisse atuar em todas as frentes do setor de Internet das Coisas. Entre seus objetivos estão incentivar a troca de informações e fomentar a atividade comercial entre associados; promover atividade de pesquisa e desenvolvimento; atuar junto às autoridades governamentais envolvidas no âmbito da Internet das Coisas e representar e fazer as parcerias internacionais com entidades do setor.

Confira!

No que se baseia o conceito de Internet das Coisas para o agronegócio?

O agronegócio tem expressiva participação na economia brasileira. Em 2017, o segmento representou, aproximadamente, 21,59% do PIB, deixando o País em uma notável posição mundial na produção agroindustrial. E esta realidade ainda tem grande potencial de melhoria com o investimento em novas tecnologias, que prometem aumentar a conectividade em áreas rurais e modernizar o trabalho dos produtores. O que parece futurista, já é realidade e merece, inclusive, investimento por parte do BNDES. Já é real um cenário rural ligado à internet e funcionando de forma automatizada, com os produtores contando com aplicativo para tomada de decisões mais assertivas na aplicação de fungicidas; acessando, em tempo real, dados sobre as condições climáticas da propriedade a partir de uma estação meteorológica para prevenir a instalação da ferrugem na soja; ou monitorando o ambiente de criação de bovinos para a cultura leiteira por meio de sensores que agregam os dados em uma plataforma de gerenciamento nutricional de animais; até mesmo usando sensores para captar dados como a umidade das folhas, o pH e a condutibilidade elétrica da água, além da temperatura e da umidade da estufa. O conceito de Internet das Coisas para o agronegócio tem relação com isso, pois baseia-se na evolução tecnológica dos sistemas de informática ligados à internet e busca a interação entre objetos inteligentes, possibilitando a comunicação entre eles. Assim o tempo do produtor será otimizado e o ganho de informações ao seu dispor sobre a lavoura e/ou criação e seus equipamentos aumenta em volume e eficiência.

De forma prática, que benefícios a tecnologia traz para o agronegócio?
O uso da tecnologia, como a implantação de sensores para captação remota de dados de equipamentos, ambiente ou animais, está ajudando a reduzir custos e aumentar a produtividade no campo. Embora ainda exista muitas limitações a serem resolvidas, o agronegócio brasileiro já é um dos setores mais avançados no uso de sistemas de Internet das Coisas, e o emprego dessa tecnologia está crescendo rapidamente. Segundo o MCTIC, a estimativa é que até 2025 o impacto do uso das soluções nesta área alcante entre US$ 5 bilhões e US$ 21 bilhões, apoiando uma queda de até 20% no uso de insumos agrícolas e alta de até 25% na produção das fazendas, dependendo do grau de adoção que essas tecnologias atingirem. Os números favoráveis mostram que a IoT é uma importante ferramenta para o aumento da produtividade do campo e da agroindústria, já que traz dados e recursos para a tomada de decisão em diversas áreas. Sendo uma atividade que permeia todas as regiões do Brasil, a agricultura é extremamente importante para o PIB e por isso deve ser fomentada. O Brasil é um país com potencial para exportar o conhecimento de IoT aplicado ao setor de agro para todo o mundo, uma vez que a agricultura brasileira desenvolveu uma permeabilidade à tecnologia e a IoT é uma importante ferramenta para o aumento da produtividade do campo e da agroindústria, trazendo dados e recursos para a tomada de decisão em diversas áreas, desde a logística, gestão de ativos, segurança, medição de parâmetros de produtividade e condições meteorológicas que vão dar subsídios para tomar decisões acertadas na hora de irrigar, colher, adubar e corrigir o solo. Com isso, a redução de custo em algumas culturas pode chegar a 10%. Esses serviços também resultam em melhorias como aumento de produtividade de até 15% na produção e redução de 50% no consumo de água e 40% do gasto de energia.

Ou seja, IoT gera conhecimento para o produtor rural?

Quando falamos em soluções de agricultura digital, o que o produtor rural está disposto a comprar são predições, ou seja, conhecimento gerado a partir da coleta e análise de dados, que possa lhe entregar subsídios para melhor tomada de decisão de plantio, colheita, compra, venda, distribuição, entre tantas outras operações intrínsecas ao setor. O que, de fato, paga a conta dos serviços de agricultura digital é antecipar cenários/ocorrências e entregar recomendações relacionadas a clima, solo, infestação de pragas, aplicação de insumos, controle do uso d’água, monitoramento de silos, entre outras variáveis do dia a dia da agropecuária.

A IoT pode ser vista como uma solução para a deficiência na conectividade em áreas remotas?

A implantação da IoT nos ambientes rurais pretende resolver é o problema com a conectividade em áreas mais remotas. Para integrar novas tecnologias àquelas já existentes no campo e utilizá-las para criar soluções rápidas e baratas para o produtor, é preciso solucionar problemas de indisponibilidade de conectividade 3G/4G nos serviços de telefonia móvel, a lentidão da conectividade de internet residencial, a indisponibilidade de banda larga na capacidade desejada, queda de chamadas de voz na telefonia móvel e baixa penetração dos serviços dos provedores nas propriedades rurais. A Abinc promete, com a Internet das Coisas, superar as dificuldades de infraestrutura e conectividade enfrentada em algumas regiões do país e adaptar as aplicações da tecnologia para a realidade de cada lugar. A falta de conectividade no campo pode ser contornada com um sistema de radiofrequência que permite a comunicação de um sensor com outro a distâncias de até 15km. Ao chegar na sede da propriedade os dados serão transmitidos por internet ou celular para o aplicativo instalado em um computador, tablet ou smatphone.

E vem crescendo significativamente o número de startups focadas no agronegócio…

Exatamente. Apenas em 2016 surgiram 24 AgTechs (empresas de tecnologia em agricultura) no Brasil que oferecem tecnologias de suporte a decisões, software de gestão e hardware e equipamentos inteligentes. São Paulo tem 50% de todas elas, sendo que Piracicaba abriga 19%. O Paraná tem 9 startups tecnológicas do setor. Um mapeamento das AgTechs feito pela Startagro, da Esalq-USP e divulgado no estudo do BNDES e do MCTIC, mostrou que a grande maioria das startups surgiram há cerca de três anos e atendem aos mercados de grãos e cana-de-açúcar. Elas estão concentradas nos estados do Sul e do Sudeste. Ainda segundo o relatório, existem quatro frentes de aplicação do IoT no campo: produtividade e eficiência, gestão de equipamentos, gestão de ativos/animais e produtividade humana.

Como a ABINC pode contribuir com o produtor rural quando o assunto é IoT na agricultura?

Pensando na aceleração da modernização do agronegócio do Brasil e para buscar inserir e adaptar tecnologias de acordo com a realidade de cada região do país, a ABINC criou um comitê de estudos do IoT no Agronegócio, o comitê de Agricultura Digital, para discutir as vertentes do trabalho agrícola, gargalos, legislações, padrões de interoperabilidade de dados e outros serviços que atendam às necessidades do agro brasileiro. A ideia é reunir empresários para discutir formas de acelerar e baratear o uso e produção dessas tecnologias e ainda fazer o meio de campo entre o mercado e o governo para disseminar nacionalmente os avanços. Temos certeza de que com os diálogos e investimentos necessários, a Internet das Coisas trará eficiência e soluções baratas para os problemas do campo ao aplicar ações simples que resolvem problemas de solo, clima, controle de pragas, pulverização, produtividade e outros.

Qual a influência do Plano Nacional do IoT no setor agrícola e onde entra a ABINC?

A difusão da nova tecnologia, que promete levar conectividade aos objetos com os quais as pessoas interagem no dia a dia, é considerada parte fundamental da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital definida em decreto assinado pelo presidente Michel Temer durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, em março de 2018. O agronegócio foi uma das quatro áreas prioritárias de direcionamento de iniciativas e políticas públicas para o desenvolvimento da IoT no território nacional. A escolha tem como foco aumentar a produtividade e relevância do Brasil no comércio mundial de produtos agropecuários, com elevada qualidade e sustentabilidade socioambiental, além de posicionar o país como o maior exportador de soluções de IoT para a agropecuária tropical. Outros segmentos escolhidos devido à sua relevância para a economia brasileira e por sua agenda de inovação já em curso foram as Cidades Inteligentes, Saúde e Manufatura Avançada. Iniciado no começo de 2017, o estudo “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil”, que subsidiou o Plano Nacional de Internet das Coisas, realizou um diagnóstico para propor políticas públicas para o tema no Brasil. Após as fases de diagnóstico e aspiração, seleção de verticais e horizontais, investigação de verticais e elaboração de visão e plano, o estudo, apoiado pelo BNDES em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), agora chega no momento de suporte à implantação do plano de ação. Estamos aguardando, ainda, o detalhamento das ações para os próximos cinco anos, bem como o funcionamento dos pilotos, mas acreditamos na perspectiva de financiamento para a aceleração do setor. No entanto, para ter sucesso, será necessário catalisar a cooperação entre todas as partes, tanto do governo quanto da iniciativa privada. A missão da Abinc é fazer este plano acontecer para que o avanço tecnológico impacte positivamente o setor agrícola, por isso estimulamos os nossos associados a tomarem a frente e assumirem uma estratégia para tirar as ideias do papel. Dessa forma teremos mais recursos e argumentos para cobrar do governo o cumprimento do que foi acordado em tempo hábil.

Como funciona a linha do BNDES direcionada a IoT no Agro e quais os valores disponíveis?

O BNDES juntamente com bancos privados a empresas nacionais estão investindo cerca de R$ 200 milhões em tecnologias de hardware, software e plataformas para a Internet das Coisas e fazem a conectividade cada vez mais presente nos ambientes rurais . Por meio do programa BNDES IoT, o banco estatal oferece uma linha de crédito de R$ 100 milhões em recursos não-reembolsáveis que vai financiar projetos-piloto de Internet das Coisas, considerada a próxima fronteira em termos de inovação, pesquisa e desenvolvimento em tecnologias de dispositivos móveis. O agronegócio, por ser um dos setores com maior potencial de desenvolvimento e exploração da tecnologia, será o mais contemplado. A iniciativa vai aproximar produtores rurais, fornecedores de tecnologia e institutos de pesquisa para sanar entraves, como a ausência da conectividade à internet em propriedades rurais. Além disso, estes investimentos prometem movimentar ainda mais o mercado da Internet das Coisas, que em 2016 gerou US$ 1,35 bilhão com uma expectativa de alcançar receitas de US$ 3,29 bilhões em cinco anos, segundo o mapeamento feito pela Frost & Sullivan intitulado “O Mercado industrial brasileiro de Internet das Coisas, Cenário para 2021”. A estimativa de receita se refere a hardware (módulo de conectividade e outros componentes), software e serviços diretamente ligados a soluções IoT.

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