Após três anos de atividade no Brasil com equipe própria, a National Wildlife Federation (NWF) escala alguns degraus ao colocar no mercado uma ferramenta desenvolvida especialmente para o Brasil – a Visipec –, que permite analisar a conformidade das propriedades e mostrar o progresso e resultado de forma a conseguir manter o fluxo da cadeia. Por ser uma novidade, algo inédito no mercado, ainda estão sendo feitos análises e calibragem da ferramenta.
De posse dos dados sobre os critérios que não estão sendo atendidos pelo produtor, a Visipec permite ao frigorífico orientar o produtor e o esclarecer sobre a necessidade de que, para participar da cadeia de fornecimento, deve se preparar.
A ferramenta inédita – como informa Francisco Beduschi Neto – executivo da NWF no Brasil – está em testes nos frigoríficos e tem custo zero. Essa conquista soma-se à parceria com a ONG Amigos da Terra no Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos (GTFI), que, por exemplo, em 2019 estabeleceu as regras básicas para monitoramento dos fornecedores indiretos.
“A NWF atua diretamente com o mercado, dialoga com toda a cadeia para acordar as regras e, com isso, evita o nicho de mercado”, afirma, reforçando que a instituição está “dando um passo de cada vez, olhando as fazendas, ajudando o frigorífico a ampliar o olhar e chegar ao fornecedor, ajudar a fazenda do bezerro a atender as necessidades do mercado via frigorífico e o engordador”.
Por mais que o processo esteja ajustado e funcionando, no que diz respeito à relação pecuarista e frigorífico, há lacunas a serem preenchidas e muito espaço para crescer. “Também precisamos aprimorar nossa informação, para que tenhamos dados em nível de propriedade para comunicar melhor nossas conquistas e progresso. Falta a informação ir do frigorífico para o varejo. Falta, também, enxergar atras a cadeia, que é o produtor do bezerro, pois poucos entre 10% e 15% da produção é feita em ciclo completo”, sinaliza Beduschi, frisando que “no momento estamos preocupados com o fornecedor que engorda o gado e entrega no frigorífico”.
Esses ingredientes capazes de manter a competitividade da pecuária brasileira – informação e comunicação – são ainda escassos e, por isso, há gargalos, que favorecem o aparecimento de transtornos ao setor: “A irregularidade de poucos tem prejudicado a pecuária brasileira no mundo e preocupado investidores e consumidores a respeito dos impactos socioambientais da atividade agropecuária tem trazido transformações no setor”, diz o executivo da instituição.
Ação local
Envolvida desde sua fundação – em 1936, nos Estados Unidos –, com os temas de desenvolvimento, clima em âmbito global e a preservação das espécies de flora e fauna, a NWF tem como preocupação fundamental equilibrar prevenção e desenvolvimento econômico nas regiões em que atua, sempre respeitando a legislação local.
No Brasil desde a década de 1990 via parcerias e, a partir de 2017, com equipe fixa – composta por quatro técnicos (engenheiros agrônomo e florestal e zootecnista) que trabalham em colaboração com a equipe internacional da ONG – a NWF tem como foco a pecuária no bioma da Amazônia e, em 2021, está entrando no Cerrado brasileiro e no Chaco do Paraguai.
Maior nível de exigências
Entre as ações previstas, como informa o executivo da NWF no Brasil, está “ajudar a cadeia a demonstrar progresso e atender demanda de um público cada vez mais exigente quanto a requisitos socioambientais, tornando necessário conciliar produção e preservação ambiental”.
Nesse processo, a NWF faz a intermediação entre o pecuarista e o frigorífico, buscando entender o mercado e levar o entendimento ao produtor e a resposta do produtor ao mercado, tendo no horizonte, quase como um mantra, o princípio de que “o negócio tem de ser viável economicamente para contribuir com o meio ambiente, preservando o que tem e valorizando a floresta em pé”, frisa Beduschi.
“Para provar que monitora a cadeia de suprimentos e comprovar que não está se relacionando com a ilegalidade, o frigorífico, por exemplo, tem o Termos de Ajustamento de Conduta (TAC)”, informa o executivo da instituição, documento que define os procedimentos básicos, mas “alguns vão além e têm compromisso com o desmatamento zero”, comemora.
Um dos pontos centrais do trabalho da NWF são os fornecedores indiretos. Neste sentido, junto com a ONG brasileira “Amigos da Terra – Amazônia Brasileira”, ajudou a organizar um fórum para os atores da cadeia interessados em discutir possíveis soluções para o tema, o Grupo de Trabalho dos Fornecedores Indiretos – GTFI. “Ao trazer esses atores para junto do debate sobre as conformidades socioambientais é possível conhecer os obstáculos que precisam ser superados”, afirmou Beduschi. Como resultado – aponta ele –, “há o atendimento das demandas de consumidores e investidores, o cumprimento da legislação vigente e, ao mesmo tempo, o aprimoramento de toda a cadeia da carne”.
Amigos da Terra
Quando se trata especificamente de fornecedores indiretos, por exemplo, apenas de 3% a 4% apresentam irregulares. “Esse número é muito pequeno, mas ele fere a imagem de toda a cadeia”, afirmou o engenheiro agrônomo Francisco Beduschi Neto, executivo da National Wildlife Federation (NWF) no Brasil, durante evento online. “Assim, precisamos nivelar as informações. O comprador não exige perfeição do produtor brasileiro, mas ele quer ver progresso, comunicação e processos transparentes. Isso significa mostrar o que o país já faz de bom e também aquilo que está buscando melhorar”.
A NWF desenvolveu um trabalho, em parceria com diversos atores do mercado, da academia, grupos multissetoriais e outras ONGs, a fim de ser um elo de ligação entre o mercado (investidores, países e compradores) e os atores da cadeia produtivo (varejo, frigoríficos, pecuaristas, fornecedores diretos e indiretos). Atualmente, sua atuação permeia toda a área da Amazônia Legal, em especial nos estados do Mato Grosso e do Pará, devido a representatividade dos rebanhos.
Ao final de sua participação na live, Beduschi voltou a reforçar sobre a importância de melhorar a comunicação para poder contar a história verdadeira do produtor rural brasileiro.
Beduschi contou que ao iniciar o trabalho com os frigoríficos, foram feitas reuniões com os fornecedores, com o intuito de explicar a necessidade de olhar para toda cadeia de fornecimento, porque mesmo com a excelente qualidade fornecida pela fazenda, questões socioambientais impactam a exportação. Esse processo ajudou os produtores em suas dúvidas e para superar eventuais obstáculos, contribuindo para se adequarem nesse novo cenário do mercado. “Estamos construindo uma nova realidade, por meio da disseminação de informação assertiva e qualificada, que está resultando em entendimento, transparência e progresso”, complementou.