Condições climáticas dificultam colheita de cana-de-açúcar e afetam safra

No acumulado desde o início da safra de cana-de-açúcar até 16 de julho de 2019, a moagem alcançou 258,13 milhões de toneladas, recuo de quase 4% na comparação com os valores apurados em igual período no último ano, sendo que a quantidade processada pelas usinas e destilarias do Centro-Sul totalizou 40,90 milhões de toneladas nos primeiros 15 dias de julho de 2019. Esse resultado é 9,53% inferior aquele observado na mesma quinzena da safra 2018/2019, quando foram moídas 45,21 milhões de toneladas. As informações foram divulgadas pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

“As condições climáticas observadas nessa primeira quinzena dificultaram a operacionalização da colheita em muitas regiões, prejudicando o processamento”, explica Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica.

Dados de produtividade apurados pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) baseados em uma amostra de 148 unidades produtoras indicaram um rendimento médio de 85,69 toneladas de cana-de-açúcar por hectare para a lavoura colhida em junho de 2019. Esse índice é 3,61% superior aquele observado no mesmo mês de 2018 (82,71 toneladas por hectare).

No acumulado desde o início da atual safra até o final de junho, a produtividade alcançou 84,87 toneladas por hectare, ante 82,11 toneladas verificadas em igual período do ciclo 2018/2019.

Esse incremento na produtividade agrícola foi neutralizado pela redução na quantidade de açúcares por tonelada de cana processada. Até 16 de julho, a quantidade de açúcares obtida por hectare colhido diminuiu 4% na comparação com o mesmo período da safra anterior.

Em relação aos efeitos da geada ocorrida na primeira quinzena de julho, levantamento conduzido pelo CTC em parceria com a UNICA indica que cerca de 400 mil hectares com cana-de-açúcar no Centro-Sul foram impactados. Dessa área, estima-se que aproximadamente 65% da área acometida ainda não havia sido colhida.

Cabe ressaltar que a proporção de área atingida pela geada varia entre as regiões produtoras do Centro-Sul. De forma geral, foram verificados impactos mais relevantes em Mato Grosso do Sul e Paraná, assim como na região sul do Estado de São Paulo. Áreas representativas com lavoura de cana-de-açúcar em Minas Gerais, norte de São Paulo e Goiás também foram prejudicadas.

“Em algumas unidades produtoras, a geada chegou a impactar quase 50% da área cultivada”, explicou o Rodrigues.

Nas áreas atingidas em que a lavoura já havia sido colhida, é esperado algum impacto na produtividade do próximo ciclo agrícola. Nas regiões em que a cana não havia sido colhida, o prejuízo causado pela geada depende do estágio de desenvolvimento da lavoura acometida. Isso porque, no caso de morte da gema apical situada no ápice da planta é necessária a antecipação da colheita da área afetada, mesmo que a cana-de-açúcar ainda não tenha atingido o estágio ideal de maturação e desenvolvimento.

“Na nossa visão, a área de cana adulta impactada pela geada poderá apresentar perda média de até 5 toneladas por hectare na produtividade esperada para essa safra”, acrescenta o diretor da UNICA.

Além da perda de produtividade, nas unidades em que o impacto da geada foi relevante, existe a necessidade de redesenho do planejamento da colheita. Como consequência dessa mudança, é esperada perda de qualidade da matéria-prima que não será processada no ponto ideal de maturação.

“A alteração no cronograma de colheita em algumas unidades deve comprometer a qualidade da cana colhida na safra 2019/2020. Esse aspecto pode reduzir ainda mais a concentração de ATR na planta, que já apresenta valor médio inferior ao do ano passado”, conclui Rodrigues.

No acumulado desde o início da safra até 16 de julho de 2019, a concentração de ATR por tonelada de matéria-prima colhida atingiu 126,31 kg, contra 131,71 kg no ciclo 2018/2019.  No comparativo quinzenal, a queda alcançou 4,89% (mais de 7 kg): 138,03 kg de ATR por tonelada na primeira metade de julho de 2019, ante 145,13 kg verificados no mesmo período do ano passado.

Produção de açúcar e de etanol – Reflexo da menor moagem e do mix mais alcooleiro, a produção de açúcar caiu 19,08% nos 15 primeiros dias de julho, com 1,94 milhão de toneladas fabricados frente às 2,40 milhões de toneladas contabilizadas no mesmo período da safra 2018/2019.

No caso do etanol, o volume produzido alcançou 2,17 bilhões de litros, sendo 724,29 milhões de litros de etanol anidro e 1,44 bilhão de litros de etanol hidratado.

Essas cifras só foram possíveis devido ao aumento de 2,28 pontos percentuais na proporção de cana-de-açúcar direcionada à fabricação do renovável (63,97% na safra atual, contra 61,69% na mesma quinzena de 2019/2020).

No agregado do ciclo 2019/2020 até 16 de julho de 2019, a produção de açúcar atingiu 10,86 milhões de toneladas, ante 12,17 milhões de toneladas em igual período do último ano.  A fabricação acumulada de etanol, por sua vez, alcançou 12,83 bilhões de litros, dos quais 8,87 bilhões de litros de etanol hidratado e 3,96 bilhões de litros de etanol anidro.

“Os números dessa quinzena acentuaram a percepção de uma safra ainda mais alcooleira neste ano. Até o momento, a produção de açúcar já registra queda de 1,32 milhão de toneladas”, comentou o executivo da UNICA. Ainda, enquanto a moagem quinzenal diminuiu 9,53% no comparativo com 2018, a produção de açúcar caiu mais de 19%, o que ratifica o entendimento de que a safra será efetivamente mais alcooleira e, portanto, com menor produção de açúcar.

Em relação ao etanol de milho, foram fabricados 44,12 milhões de litros na primeira metade de julho. Entre abril até o dia 16 deste mês, a produção somou 338,68 milhões de litros, crescimento de 80,34% sobre o volume apurado para o mesmo período de 2018.

Vendas de etanol – O volume de etanol comercializado pelas unidades produtoras da região Centro-Sul nos primeiros 15 dias de julho totalizou 1,38 bilhão de litros, sendo 109,44 milhões de litros direcionados ao mercado externo e 1,28 bilhão de litros vendidos domesticamente.

No mercado interno, a quantidade de etanol hidratado comercializado alcançou 914,08 milhões de litros, alta de 17,37% na comparação com o volume comercializado na mesma quinzena de 2018.

No caso do etanol anidro, as vendas domésticas alcançaram 361,02 milhões de litros, recuperação de 9,14% sobre a mesma quinzena do ano passado.

Rodrigues ressalta que “o levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que na última semana apenas 6 municípios da amostra apurada nos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás apresentaram paridade de preço com a gasolina acima de 70%”. Essa condição retrata a elevada competividade do hidratado para o consumidor e explica o maior volume de etanol comercializado pelas usinas, conclui o executivo.

De fato, análise compilada pela UNICA a partir de dados publicados pela ANP indica que na semana de 14 a 20 de julho de 2019, o preço relativo do etanol hidratado em relação à gasolina alcançou 53,9% no Mato Grosso, 61,9% em São Paulo e Goiás, e 67,6% no Paraná.

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