Em dois palcos simultâneos, nos dias 21 e 22 de junho, foi realizado o SolloAgro Summit 2022, com mais de 40 palestrantes, todos renomados especialistas que enfocaram os temas mais relevantes do agronegócio, relacionados à Ciência do Solo e suas interfaces. Promovido pela Esalq/USP – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo.
Com coordenação do professor Luis Reynaldo Ferraciú Alleoni, do departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, o encontro tratou de assuntos como agricultura 4.0, produtos biológicos, sistema de produção de plantas de cobertura, balanço de carbono no sistema solo-planta-atmosfera, mercado de fertilizantes e defensivos.
Na solenidade de abertura do SolloAgro Summit, o professor Alleoni comentou que o evento tem como objetivo estender o conhecimento da universidade para fora dos seus muros e trazer a comunidade do agronegócio para dentro da universidade. O SolloAgro Summit é uma iniciativa da SolloAgro e da Esalq/USP, com o apoio da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq).
Interação entre academia e setor produtivo – Levar conhecimento produzido na universidade para a comunidade e criar um efeito multiplicador de informações. Assim o professor Luis Reynaldo Alleoni destaca a importância da extensão universitária, carro-chefe do programa SolloAgro do qual ele é coordenador.
Criado em 1998, o programa de educação continuada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) promove cursos, treinamentos e eventos como o SolloAgro Summit, sempre com o objetivo de difundir conhecimento de qualidade sobre o agronegócio e formar profissionais que fazem a diferença no cenário agro brasileiro e mundial.
“A iniciativa sempre teve como ideia levar conhecimento em forma de extensão universitária, que não é aquela forma acadêmica de estudo científico e aprofundado e, sim, de interação com a sociedade”, revelou Alleoni. “A equipe envolvida nos projetos tenta ver o solo não só como produtor de alimentos, mas também a função ambiental do solo”, completou.
Segundo ele, em regiões de fronteira agrícola há um envolvimento grande em tecnologia de ponta, mas ainda existem lacunas na teoria aplicada que é exatamente o conhecimento científico produzido pela academia. “Muitas vezes não temos noção da importância dessa interação da academia com o setor produtivo. O conhecimento científico aplicado na prática diária faz muita diferença no trabalho do produtor”, ressaltou.
Por outro lado, essa vivência prática também traz retornos bastante positivos ao pesquisador. “Essa interação é fundamental porque você sabe exatamente onde estão as dores, os gargalos e os problemas encontrados no setor rural. Transferir essa informação para o aluno de graduação é muito enriquecedor”, completou.
Analise microbiológica para melhorar a eficiência do solo
E é justamente aplicar o conhecimento teórico de ponta na lavoura o objetivo de trabalhos como a análise microbiológica do solo, ferramenta que ganha cada vez mais espaço na produção agrícola. Para o professor Fernando Dini Andreote, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), cabe à análise microbiológica promover o conforto necessário para o máximo desenvolvimento da planta cultivada, minimizando perdas e maximizando ganhos ao produtor.
“A capacidade de medir um processo, quantificar algo, entender como aquilo é mensurado nos permite obter respostas. Se eu não medir, não consigo usar a ciência em prol daquilo e esse é o sentido da análise microbiológica do solo”, observou. “Existe a possibilidade de melhorar a eficiência do solo em pelo menos 70% das áreas cultivadas”, completou Andreote, em palestra ministrada durante o SolloAgro Summit.
Segundo o professor, a microbiologia do solo foi totalmente empírica até alguns anos atrás. “É mais fácil medir processos acima do solo do que estão abaixo do solo. Saber medir os microrganismos e fazer o manejo correto contribuem para transformar o solo no melhor ambiente possível para fazer agricultura”, afirmou.
Consumo mundial de alimentos exigirá aumento de produtividade
O consumo mundial de alimentos deve aumentar 62% até 2025, especialmente em países emergentes, o que significa mais produtividade por área cultivada. Além do aumento desta demanda, o desperdício de alimentos é algo preocupante. Para Godofredo Cesar Vitti, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o desperdício de alimentos diretamente pelo ser humano daria para alimentar 32 milhões de pessoas.
“O Brasil será responsável por 40% da produção de alimentos para o mundo, sendo que hoje o país já ocupa a liderança na produção de alimentos, energia e fibras”, observou Vitti, que foi responsável pela palestra magna do SolloAgro Summit, evento que acontece em Piracicaba (SP) e reúne, até quarta-feira (22), agentes do agronegócio – profissionais, empresas, universidades e instituto de pesquisa – em discussões sobre temas relevantes como agricultura 4.0, manejo de solo, balanço de carbono e sustentabilidade, entre outros.
Em sua palestra, com o tema Manejo de adubação e aumento da produção e qualidade de alimentos, Vitti ponderou que para satisfazer essa demanda crescente é preciso atuar em três frentes: aumento da área cultivada, aumento da produtividade e maior intensidade de cultivos e, dentro desse cenário, a adubação ganha importância como combustível na implantação das mais variadas culturas e a consequente melhoria do que é produzido.
“O Brasil, com sua base de terra, água e clima, é dotado de três dos recursos naturais críticos. Terra e água estão em escassez em todo o mundo. Se o Brasil puder implementar e manter as estratégias conhecidas, ele assumirá um papel de importante produtor e exportador”, salientou Vitti.
Para ele, nos próximos 50 anos, a humanidade vai enfrentar desafios como energia renovável, água doce, alimentos, meio ambiente, pobreza, educação e democracia, entre outros. “Dentro deste universo, a agricultura é algo que pode ser resolvido. Hoje em dia tudo está baseado em alimentos, se não houver alimentos há pobreza, fome, não há democracia, ocorrem doenças, terrorismo e guerras”, observou o professor.
Fortalecer o relacionamento com países produtores de fertilizantes
Mercado instável, preços oscilantes e possíveis riscos de falta de produtos movimentaram o cenário internacional de fertilizantes nos últimos dois anos e se intensificaram com os crescentes conflitos entre Rússia e Ucrânia. A preocupação com o desabastecimento por parte dos produtores brasileiros é plenamente justificável quando se sabe que a Rússia é o maior fornecedor de fertilizantes para o Brasil e que a soja consome 40% do produto.
“Há uma situação crítica no mercado de fertilizantes que começou com a Covid e envolve ainda outros problemas paralelos, como o fechamento de portos, paralisação das exportações e outras questões que interromperam o fluxo de recebimento de produtos no Brasil”, explicou José Francisco da Cunha, da Tecfértil, em palestra ministrada no SolloAgro Summit, que se encerra nesta quarta-feira, dia 22 de junho, em Piracicaba, interior de São Paulo.
O Brasil ocupa o quarto lugar entre os países que mais consomem nutrientes atrás da China, Índia e Estados Unidos, com taxa de consumo aumentando significativamente. No sentido contrário está a produção, com grandes volumes concentrados em poucos países como a Rússia, por exemplo. “O agro brasileiro é exemplo mundial em fornecimento de alimentos, eficiência e sustentabilidade, mas chegou a um estado de comodidade com relação à importação de fertilizantes”, observou Cunha.
Essa dependência externa, aliada às recentes questões internacionais, colocou o Brasil em estado de alerta e, desde o ano passado, há um foco maior na discussão sobre a necessidade de aumento na produção nacional dentro do Plano Nacional de Fertilizantes. “Essa iniciativa prevê ações que podem trazer benefício a curto, médio e longo prazo, mas a ideia de que o país deve ser autossuficiente na produção de fertilizantes precisa ser deixada de lado. Temos que fortalecer o relacionamento com os países fornecedores, intensificar a diplomacia com os países produtores”, disse Cunha.
Defensivos agrícolas
Quando se fala em defensivos agrícolas, considerar as diferenças regionais para estabelecer estratégias de acesso ao produtor é fundamental para ganhar mercado neste setor, conforme aponta André Malzoni dos Santos Dias, da Spark, durante o SolloAgro Summit. “É preciso entender que os hábitos de compra são diferentes entre as regiões do país e isso implica apresentar um portfólio mais adequado a cada cliente”, frisou.
Além das disparidades regionais, há ainda que se considerar a situação geracional, ou seja, a idade do agricultor bem como o nível de educação formal. “A absorção de tecnologia está cada vez mais rápida porque houve um rejuvenescimento de quem toma a decisão de compra do produto”, disse Malzoni. “Há 7 anos havia cerca de 30% deste público com nível superior, hoje esse percentual já chega a 45% em média. É uma geração mais jovem, com mais formação acadêmica, visão de preservação e adaptação tomando as decisões no campo”.
Segundo Malzoni, o agro brasileiro não está apenas crescendo, mas mudando em escala e é preciso entender esse cenário para a melhor venda do produto. “Os comportamentos são bastante distintos para cada comprador”, destacou.
Legislação para produção de insumos
Dentro da programação do SolloAgro Summit, Marcelo Marino Santos, da Abisolo (Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal), e Amalia Piazentim Borsari, da CropLife, falaram sobre legislação para a produção de insumos. De acordo com Amalia, os bioinsumos ainda hoje são considerados produtos extraídos da natureza e que, portanto, não necessitam de regulamentação. “Estamos falando de um leque grande de produtos que envolvem microrganismos de diferentes tipos que precisam ser avaliados antes de ser disponibilizados no mercado. Não é apenas uma questão de risco, mas de eficácia também”, afirmou.
Além dos riscos na segurança, a falta de regulamentação pode trazer prejuízos ao produtor com desinformação a respeito da eficácia do produto. “Há muito desconhecimento a respeito desse assunto. Trazer esse tema para o debate é aumentar o número de multiplicadores dessa informação, esclarecer equívocos e contribuir para que haja segurança na produção”, enfatizou Amália
Capacitação profissional
O agro, em consonância com outros setores da economia, segue a tendência de exigir, cada vez mais, a qualificação dos profissionais envolvidos. “É preciso mudar o conceito do que é ser bem sucedido e eficiente. Produzir muito não necessariamente significa ser eficiente e rentável. Existe uma série de outros fatores que vão da gestão financeira, custos e suprimentos, armazenamento e estratégias de comercialização que compõem o sucesso de um produtor rural”, enfatizou o palestrante César Burjaili Braga, da Hub Talents, durante o Sollo Agro Summit.
Entre as competências comportamentais mais demandadas estão o trabalho em equipe em cooperação, sentimento de pertencimento à empresa (perfil dono do negócio), perfil de liderança, empreendedorismo, flexibilidade, vontade de fazer diferença, engajamento, comprometimento, criatividade na resolução de problemas, alinhamento de propósito, resiliência e foco nos resultados.
“As características mais desejadas de um profissional do agro são semelhantes às de outras áreas e segmentos da economia. A contribuição destes profissionais é fundamental para o sucesso do agronegócio como um todo”, salientou José Roberto Pereira Castro, da Superação Treinamento e Consultoria.
Na opinião de Paulo Fernando Machado, da Clínica do Leite, propriedades agrícolas são negócios e precisam de métodos para funcionar e atingir o objetivo final que é a geração de lucro. “Há novas formas de pensar e gerenciar empresas e é possível fazer adaptações para as propriedades agrícolas. Isso gera produtos de melhor qualidade, é mais fácil produzir e com menos desperdício, além de contar com pessoas mais engajadas em todos os processos do trabalho”, disse.