Francisco Medeiros – presidente-executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR)
2023 começou com a recriação do Ministério da Pesca e Aquicultura em um momento em que a piscicultura convivia com uma das melhores taxas de crescimento anual de sua história. O modelo enfrentava dificuldades, mas crescia a taxas robustas. O Ministério leva a atividade a subir a régua das expectativas positivas. O ano foi marcado pela aproximação com essa nova estrutura de governo.
Em relação às principais espécies, os peixes nativos – uma das promessas da piscicultura nacional – enfrentou em 2023 os mesmos problemas dos anos anteriores: baixo nível de industrialização e ainda nível indesejado de comercialização irregular, mas com uma vontade imensurável dos produtores e empresários em fazer acontecer. Afinal, o mercado gosta do produto. Um exemplo é o prêmio da costelinha de tambaqui na Seafood Expo North America, em Boston.
Já a tilápia cresceu, mas pouco em comparação aos últimos nove anos. Isso se deveu, basicamente, a problemas sanitários, responsáveis pela redução da produção de alevinos e aumento da mortalidade no campo, principalmente no cultivo em tanques-rede. Mas o setor reagiu e novas unidades de produção, com sistemas mais rigorosos de biossegurança, além de programas de vacinação mais robustos, proporcionaram já no último trimestre do ano passado uma oferta regular de alevinos. Os juvenis, porém, essenciais para quem produz em tanques-rede, não atenderam à demanda.
O mercado interno não se importou com a oscilação da oferta e manteve-se aquecido o ano todo, o que impactou diretamente as exportações com taxa reduzida de crescimento (4%) quando comparada aos anos anteriores.
Aliás, levantamento exclusivo da Peixe BR mostra que a tilápia é a proteína animal cujo consumo mais cresceu na última década, passando de 1.47 kg/hab/ano para 2.84 kg/hab/ano. Crescimento de 93%!
Os preços de insumos para ração foram mais amigáveis do que em 2022, o que contribuiu para melhor gestão dos custos de produção.
Os principais projetos de expansão da piscicultura, principalmente de tilápia, continuaram, principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. Juntos, eles representam o grande grupo de produção de tilápia no Brasil. Nada mais natural – afinal, estão próximos dos insumos e do consumo.
Terminamos 2023 com novos regulamentos do Ministério da Pesca e Aquicultura e do Ibama que podem impactar a produção em 2024, além – é claro – da chegada de um contêiner de filé de tilápia do Vietnã. Foi um dezembro cheio de preocupação.
Mas, bem-vindo 2024! A confiança da piscicultura brasileira continua e vamos em busca de maior safra de peixes de cultivo da história.
Foto: Peixe BR