O evento de negócios Pecuária 360º – Summit 2022 marca a retomada dos eventos presenciais do setor em um cenário após dois anos de pandemia. Realizada nos dias 15 e 16 de março, a conferência reuniu representantes da cadeia produtiva, gestores e um time de especialistas do segmento, no Hotel Pullman Vila Olímpia, em São Paulo (SP).
De pecuarista para pecuarista, sem deixar de lado o olhar macro sobre a cadeia produtiva foi o tom das conversas e das trocas de informações durante o evento. “O formato 100% presencial foi bem aceito, especialmente por ser um ambiente que favorece esse compartilhamento de ideias, de perspectivas, de análises dos reflexos do conflito na Ucrânia no agro, das discussões que afetam do dia a dia do pecuarista, além de promover network”, avalia o diretor da Originale Eventos e Turismo, empresa idealizadora e responsável pela organização do evento, Adalberto Vial. “O público ansiava por esse encontro neste formato”, completa.
De acordo com os organizadores, a próxima edição acontecerá em fevereiro de 2023. O GestAgro 360° esteve como apoiador de mídia do Pecuária 360º – Summit 2022.
Conflito na Ucrânia e reflexos no agronegócio – Uma análise do mercado de carne sob o pano de fundo do conflito entre Rússia e Ucrânia, as expectativas do pós-guerra e os possíveis desdobramentos em curto prazo para o setor permeou as apresentações no primeiro dia do evento.
Os custos dos grãos, especialmente os do trigo, a elevação das despesas de energia e a dependência do Brasil dos fertilizantes russos foram analisados pelo consultor, professor de Economia Agrícola pela Fundação Getúlio Vargas e pela Fundação Dom Cabral, Alexandre Mendonça de Barros em seu painel “Perspectivas do mercado de grãos e a pecuária”. Para ele, a eventual falta de potássio é a que mais preocupa o setor. “No entanto, existe um pleito importante em considerar adubo como alimento, o que faria com que o item não entre no embargo”, acredita Barros.
Neste sentido, o professor sênior de Agronegócio no Insper e coordenador do Insper Agro Global Marcos S. Jank aponta na palestra “O que esperar do mercado nacional e internacional” que uma das soluções para não haver crise no abastecimento é a diversificação de mercados com opções para importar fertilizantes de países como Irã, Canadá e Marrocos, como tem reforçado o Plano Nacional de Fertilizantes anunciado pelo Governo Federal. “É um desafio difícil de resolver, mas é um movimento que enxergo de forma bastante positiva”, afirma.
Apesar da instabilidade, Barros aponta que, com a guerra da Rússia com a Ucrânia, o mundo virá ao Brasil em busca de mais proteína, grãos e alimentos no geral. Jank observa que, no futuro, uma nova geopolítica mundial será desenhada com a aliança entre China e Rússia. Além disso, segundo o professor, haverá mais fornecimento de alimentos para o Hemisfério Oriental, onde a população cresce de forma mais acentuada e rápida, com destaque para África, leste da Ásia e Oriente Médio.
Tendências para a pecuária – Alexandre Mendonça de Barros avalia também que a queda do rebanho de bovino nos Estados Unidos abre espaço para que o país seja um cliente importante para o Brasil, assim como o Japão. “O Brasil tem elevado suas exportações de proteína aos Estados Unidos. Até então como nossos concorrentes, eles agora têm liderado a lista dos principais compradores de carne bovina do Brasil. É uma tendência”.
Diante deste mundo complexo, o Equity Research da XP Investimentos Leonardo Alencar, em sua palestra “Investidores olhando para o Agro”, incitou uma provocação. “O pecuarista não deve apenas se voltar para o preço do boi, mas também às margens da produção, dos frigoríficos e do varejo alimentar para que consiga, de fato, entender a saúde financeira da cadeia como um todo”, afirma Alencar.
Fechando a programação do primeiro dia, o zootecnista e pecuarista da Fazenda Pontal, em Itapirapuã (GO), Fabiano Tavares compartilhou em sua palestra “De pecuarista para pecuarista – como usar as ferramentas do mercado” suas experiências de gestão. Ele acredita na urgência em quebrar paradigmas na administração dos negócios, incentivando o produtor a aprender sobre mercado futuro.
Comunicação e sustentabilidade como foco para a pecuária – Mercado consumidor e o papel das mídias sociais foi tema de abertura do segundo dia da conferência com a CEO e fundadora da agência Rede Comunicação Flavia Rios. “Hoje em dia não adianta ter o melhor produto ou oferecer serviços de qualidade se esses diferenciais não são comunicados ao público consumidor por meio do universo digital”, provoca Flavia. Relacionamento com o cliente, planejamento editorial com conteúdo relevante e genuíno, que traga autoridade à marca são alguns pilares para essa gestão. Como tendência para o setor, a profissional destaca temas que estarão em evidência como pós-venda, vendas online, sustentabilidade, acesso ao crédito e mulheres no agro.
Gestão de pessoas no foco dos Recursos Humanos na Pecuária foi a tônica da palestra do veterinário e Consultor Especialista em Gestão de Pessoas no Agro Marcelo Cabral. Para ele, todos os envolvidos na cadeia produtiva necessitam de capacitação e treinamento constantes em um mercado cada vez mais competitivo. “No entanto, o olhar do produtor deve sempre estar voltado para o seu principal recurso: o capital humano, com inteligência emocional e relacionamento próximo”, aposta Cabral.
Entre os desafios, números e demandas do setor, o Sócio-Diretor da Athenagro Mauricio Palma Nogueira foi categórico ao abordar o tema pecuária responsável e sustentável: “É urgente tirar os ativos sem prejudicar o meio ambiente com boas práticas de manejo de forma responsável com foco em produtividade”, afirma Nogueira. O especialista relembra que o Brasil, na década de 80, importava carne e, atualmente, é um dos maiores exportadores do alimento. “E nem começamos a fazer produtividade. Essa nova demanda está em movimento, mas o pecuarista não pode deixar de focar nos desafios como carbono, água, desmatamento, eficiência produtiva e sistemas de produção”, pontua.
“Novas demandas e Oportunidades de Negócios em Sustentabilidade” foi o tema central da participação do Líder Global de Sustentabilidade e Soluções de Negócios da DSM Nutrição e Saúde Animal, Carlos A. Saviani. Ele destaca que o pecuarista precisa enxergar que a sustentabilidade é, sim, uma oportunidade de bons negócios. “Existe a oportunidade de a pecuária conseguir agregar valor ou reduzir risco ou mesmo diminuir custos por meio da sustentabilidade. O grande elemento que está sendo adicionado às demandas em relação à pecuária é a esfera ambiental”.