A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com o apoio da Cooxupe, reuniu Embrapa, Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) e National Wildlife Federation (NWF) para apresentações durante Workshop de Jornalistas 2021 – Pós Congresso Brasileiro do Agronegócio, para debater temas relevantes para o setor como a Sojicultura e a Descarbonização, assim como apresentar o inpEV e seu Programa ESG.
A cargo do chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Lima Nepomuceno. esteve o Programa Soja Baixo Carbono (SBC), iniciativa coordenada pela instituição, que está congregando diversos atores da cadeia produtiva para definir as etapas de construção da iniciativa, que teve início em abril e será concluída em 2023. “O objetivo é que o Programa SBC ateste a sustentabilidade da produção de soja brasileira, tornando tangíveis aspectos qualitativos e quantitativos do grão, produzido com tecnologias e práticas agrícolas que reduzam a intensidade de emissão de gases de efeito estufa (GEEs)”, enfatizou o palestrante.
O Programa SBC permitirá a identificação da soja produzida sob um conjunto de práticas culturais e de tecnologias, que tornem o processo mais eficiente – por unidade de carbono equivalente (C-CO2) emitida – em relação ao que existe disponível no mercado global. “É importante ressaltar que a SBC buscará fomentar a redução das emissões de GEEs sem deixar em segundo plano o aumento de produtividade, necessário para atender à crescente demanda mundial pelo grão”, ressaltou Nepomuceno.
De acordo com Nepomuceno, o conceito está sendo pautado na mensuração dos benefícios e na certificação das práticas de produção que comprovadamente tenham baixa emissão de GEEs. O Programa SBC utilizará uma metodologia brasileira, baseada em protocolos científicos validados internacionalmente, a partir de critérios objetivamente mensuráveis, reportáveis e verificáveis. A certificação da soja brasileira será voluntária, privada e de empresas especializadas (certificação de 3ª parte).
A definição dos princípios, diretrizes, critérios, práticas agrícolas e indicadores a serem seguidos para produção da SBC será conduzida, sob a coordenação de um comitê gestor, e seguirá padrões internacionais de preparação de normas. “A construção metodológica do Programa SBC está envolvendo o levantamento, análise e compilação de dados científicos disponíveis na literatura, com a posterior discussão e validação públicas”, comenta Nepomuceno.
Mais informações estão disponíveis na publicação do Programa SBC – Soja Baixo Carbono: um novo conceito de soja sustentável e no vídeo.
inpEV e seu Programa ESG
João Cesar M. Rando, diretor-presidente do inpEV, apresentou os resultados que vêm sendo obtidos pela instituição com o Sistema Campo Limpo, programa brasileiro de logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas, que é responsável por destinar aproximadamente 94% de todas embalagens plásticas primárias de defensivos agrícolas colocadas no mercado brasileiro. Esse projeto evitou a emissão de 823.167 toneladas de CO2 na atmosfera entre 2002 e 2020. No último ano, o programa emitiu 70.509 toneladas de CO2 e o consumo de 3 bilhões de megajoules de energia e de quase 80 milhões de litros de água.
A economia circular promovida pelo inpEV e seu programa ESG, sigla vem do inglês, Environmental, Social and Governance, que em português corresponde a melhores práticas no âmbito Ambiental, Social e de Governança. A adoção dessas premissas relaciona-se diretamente com os objetivos do Instituto e do Sistema Campo Limpo.
Rando também destacou que o inpEV tem a informação do volume que é colocado no mercado e do estoque existente e explicou que os 6% que ainda não retornam tem relação com distâncias físicas do sistema, “mas o sistema está preparado para trabalhar com 100% das embalagens”. Outro ponto realçado pelo diretor-presidente é que por esse diferencial, os resultados por Estados são diferentes. Como exemplo, citou Mato Grosso e Paraná, onde os índices ultrapassam os 98%.
Potencial da pecuária brasileira
A cadeia da pecuária brasileira tem todas as condições para atingir o potencial de sua produção, que é de 10 a 12 arrobas/hectare/ano, uma vez que possui produtores altamente qualificados, linha de crédito disponível rebanho, genética, solo, clima e uma área adequada para pastagem. Essa foi a principal conclusão de Francisco Beduschi Neto, líder da National Wildlife Federation (NWF) no Brasil.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a produção nacional pecuária esteja entre 3 a 4 arrobas/hectare/ano. “Essa produtividade é considerada muito baixa pelo potencial que tem o setor no país”, afirmou Beduschi. No Mato Grosso, por exemplo, entre 2020 e 2015 houve um incremento de 32% na produtividade, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), passando de 3,47 arrobas/hectare/ano para 4,6 arroba/hectare/ano. E a estimativa da instituição é chegar até 2030 o valor de 6,45 arroba/hectare/ano. “Ainda estaremos aquém do nosso potencial, por isso precisamos buscar o aumento da produtividade”, pontuou o líder da NWF.
Conforme explicou Beduschi, a produtividade será fundamental para atender a demanda cada vez maior por proteína de origem animal e também por alimentos. Nesse sentido, será necessária uma porção maior de área para produção agrícola e é possível liberar pastos degradados para essa atividade, impedindo o desmatamento de novas áreas e contribuindo para o equilíbrio climático do globo.
“Hoje, sabemos que um terço do pasto degradado é viável para ser utilizado na agricultura”, comentou o líder da NWF, lembrando também a existência de tecnologias que podem colaborar para o aumento da produtividade estão: recuperação de pastagens degradadas; melhoria na nutrição animal por meio da suplementação à pasto, melhoria no manejo dos animais e incorporação em larga escala dos ganhos genéticos já alcançados: “O manejo de animais é fundamental, pois um animal menos estressado é mais produtivo e menos suscetível às doenças”.
O setor tem a possiblidade ainda de promover a melhoria da qualidade da carne, trabalhando aspectos como a idade de abate, o peso do abate, acabamento de carcaça e o marmoreio dos cortes. No caso do peso, Beduschi comparou que o Brasil possui animais com 18 a 20 arrobas, enquanto os Estados Unidos, os animais estão com 26 a 28 arrobas dentro da mesma idade de abate.
Outra questão enfatizada por Beduschi envolve benefícios dentro e fora da porteira, a exemplo de melhoria de atributos socioambientais, ou seja, tendo atenção aos aspectos ligados ao balanço de carbono na produção, a redução na pegada hídrica, as relações trabalhistas, bem como com a comunidade e os povos indígenas e quilombolas. E, caso a empresa realmente consiga comunicar suas contribuições para mitigar as mudanças climáticas, ela pode alcançar uma boa imagem perante consumidores e investidores, levando a uma maior valorização da companhia.
O executivo da NWF no Brasil ressaltou ainda que a adoção de boas práticas na pecuária é capaz de mitigar as emissões do sistema produtivo por quilograma de carne produzida. E, para alcançar o objetivo de ser Carne Carbono Neutro, é só inserir o componente florestal no sistema produtivo. De acordo com um estudo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), o Brasil tem o potencial de aumentar a produção de carne em cinco vezes, reduzir 50% as emissões de gases de efeito estufa por hectare da área produtiva e 90% das emissões por kg de carne produzida.
Além da produtividade, o executivo da NWF no Brasil ressaltou no Workshop de Jornalistas 2021 a importância de aprimorar a comunicação do setor, a fim de mostrar realmente o que tem sido feito pelo país e pelo setor para produzir alimentos saudáveis com mitigação das mudanças climáticas. “É preciso contar essa história para o mercado, pois eles estão em busca de informações sobre esse tema. Então, devemos mostrar nosso progresso”.
Em sua apresentação, Beduschi citou ainda que para comunicar bem, são necessárias algumas informações, como origem dos animais e as condições das propriedades cadeia produtiva. Com isso, o ideal seria ter no país um sistema de rastreabilidade nacional com identificação individual de todos os bovinos no sistema produtivo. Contudo, esse ideal ainda não possível, devido ao tamanho do país e a realidade nacional. Assim, ele sugere que haja a utilização das bases de dados disponíveis, transformando-a em um ativo financeiro para o agro brasileiro.
“Na Amazônia, os frigoríficos já utilizam as bases de dados atuais (CAR – Cadastro Ambiental Rural e GTA – Guia de Trânsito Animal) para monitorar seus fornecedores diretos”, exemplificou Beduschi, ressaltando que é preciso expandir também esse monitoramento para as fazendas indiretas também. Para ele, “comunicar o avanço e demostrar o progresso por meio de dados verificáveis é questão chave no comércio de commodities agrícolas. Desse modo, a transparência deve nortear o planejamento das empresas ligadas ao agronegócio brasileiro daqui para frente”.