José Paulo Peron*
Quando assumi a liderança da área de negócios de bovinos da Zoetis, adotei como missão pessoal o que, a meu ver, é o maior propósito da pecuária brasileira – promover a paz por meio do combate à fome. Esse trabalho envolve produção de alimentos de qualidade e em volume, a valores competitivos, com eficiência e otimização de recursos naturais.
Somos um país em posição de destaque nessa jornada, algo mais evidenciado agora durante a pandemia. Ao contrário de outros países, que tiveram suas exportações impactadas pelo cenário atual, nós fortalecemos nossa imagem como um país confiável no abastecimento de alimentos. Nosso sistema alimentar se mostrou competente na capacidade de produzir e exportar.
De acordo com relatório da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), nos sete primeiros meses do ano, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US $ 61,19 bilhões, montante 9,2% maior do que o período de janeiro a julho de 2019. O mesmo documento mostra ainda que o agronegócio respondeu por mais da metade (50,6%) de todas as exportações do Brasil no período. Essa é a maior participação do setor no comércio exterior desde o início da série estatística mantida pelo MAPA.
Sabemos que a demanda mundial por alimentos só aumentará e, apesar do cenário sanitário imposto a todos, temos o privilégio de poder nos preparar para ampliarmos nosso papel de fornecedor por meio de investimento em produtividade e eficiência, objetivo que caminha lado a lado com a conservação ambiental. Há mais tecnologia na produção de carne premium – seleção genética, técnicas reprodutivas e de manejo, nutrição, gestão ambiental – do que em grande parte dos setores da indústria nacional. A atividade pecuária é nobre, cada vez mais tecnológica, e em aperfeiçoamento contínuo.
A pecuária brasileira cresceu muito nas últimas décadas. E, de acordo com estudo realizado pelos pesquisadores Eduardo Pavão, Roberto Strumpf e Susian Martins, produziu mais e melhor com a redução do desmatamento. De 2008 a 2017, período analisado, o rebanho bovino de corte passou de 166,7 milhões de cabeças para 183,7 milhões de cabeças. A quantidade de carcaça processada cresceu de 6,6 milhões de toneladas para 7,7 milhões de toneladas no mesmo período. A área destinada à atividade passou de 139 milhões de hectares para 141 milhões de hectares. O que esses dados nos apontam é o aumento da eficiência na produção brasileira de carne bovina – com um crescimento de cerca de 10% do rebanho e de mais de 16% no processamento de carne, foi preciso um aumento inferior a 2% em área.
Esse desenvolvimento da produção de carne bovina, de acordo com balanço da Embrapa , só foi possível graças à implementação de tecnologias avançadas em alimentação, genética, manejo e saúde animal, que proporcionaram aumento do ganho de peso do rebanho, diminuição na mortalidade, crescimento das taxas de natalidade e diminuição do tempo de abate.
Em nossa jornada de aperfeiçoamento contínuo, podemos nos inspirar em modelos e tecnologias utilizados em outros países produtores, adaptáveis a nossa realidade, para agregar ainda mais valor à carne produzida aqui. Como maior produtor de carne bovina do mundo, os Estados Unidos, por exemplo, produzem 11 milhões de toneladas/ano de carne com um rebanho de 89 milhões de cabeças. Nós produzimos 10 milhões de toneladas/ano com um rebanho 2,5 vezes maior.
Temos espaço para continuar a avançar no cuidado com os animais em questões ligadas à sanidade, como o tratamento de verminoses, o uso responsável de antimicrobianos, um programa de nutrição bem planejado, um calendário vacinal, o manejo correto da pastagem, a utilização de tecnologias simples e acessíveis na área reprodutiva (inseminação artificial, genética), além da adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ou o uso de alguma ferramenta de pecuária precisão.
Como alguém que enxerga nobreza nessa missão, a de promover a paz por meio do combate à fome, entendo que estamos de parabéns pelo caminho que percorremos até aqui. Ter a possibilidade de construir ainda mais e cada vez melhor nos estimula a seguir trabalhando e evoluindo, em busca de um futuro de excelência para o Brasil e o mundo.
*José Paulo Peron é diretor da Unidade de Bovinos e Equinos da Zoetis Brasil.
Foto: Gabriel Rezende Faria/Embrapa