Estudo de consultoria global mostra que produtor brasileiro está menos preocupado com os impactos da Covid-19 do que norte-americanos e alemães

O surto do novo coronavírus deve contribuir para a aceleração da digitalização no setor agrícola brasileiro e abrir espaço para o desenvolvimento de novos modelos de negócios. Essa é uma das constatações resultantes de levantamento realizado em quatro países – Brasil, Estados Unidos, Canadá e Alemanha – pela consultora global Boston Consulting Group (BCG).

A sondagem também confirma a vocação do brasileiro para o uso de ferramentas digitais no campo: 45% dos entrevistados planejam investir em mais automação após a pandemia e 36% afirmam investir regularmente em digitalização, índices superiores aos verificados entre seus colegas norte-americanos, canadenses e alemães.

Para Fleuri Arruda, diretor do BCG, os brasileiros são mais propensos à adoção de tecnologia em razão, entre outros, de atributos geracionais e culturais. “O agricultor brasileiro é mais conectado e está mais disposto a experimentar. Seja para fazer melhor o que já faz hoje ou para gerar novos modelos de negócios por meio de ferramentas digitais. Nesse sentido, a pandemia deve trazer diversas oportunidades para o agronegócio”, completa Fleuri.

O levantamento mostra ainda um agricultor brasileiro menos preocupado, na comparação com os demais países. Para 73%, a crise provocará alguns impactos na agricultura este ano, porém a maior parte da operação não será afetada, contra 67% e 47% para norte-americanos e alemães, respectivamente.

Porém, há desafios no futuro próximo para agricultores em todos os países pesquisados, em especial os relacionados a mudanças nos padrões de demanda, interrupções na cadeia de suprimentos e queda de preço das commodities. Também são citados como fatores de preocupação problemas com mão-de-obra e questões logísticas.

Ao serem questionados sobre se os impactos da Covid-19 irão influenciar as decisões para o plantio no próximo ano, 63% dos produtores brasileiros dizem que não irão alterar os seus planos. A tendência é seguida por norte-americanos (67%) e alemães (73%). Nota-se, entretanto, uma tendência de reduzir a compra de insumos e, especialmente, equipamentos: 43% dos brasileiros planejam comprar menos ou muito menos equipamentos nesta safra. Para fertilizantes a intenção de reduzir gastos abrange 33% do universo pesquisado; para sementes, 14%.

“Esses impactos poderão provocar mudanças duradouras na indústria agrícola, além das alterações de curto prazo. O contexto pré-crise já exigia mudanças e inovações no campo, como a digitalização, e isso se intensifica no momento atual. A adoção de tecnologias não será apenas fonte de vantagem competitiva. Será questão de sobrevivência no setor”, observa Fleuri.

Foto de Bayer Jovens