Baixa da Selic deve tornar investimento em florestas plantadas mais atraente que renda fixa, prevê consultoria

“As mudanças econômicas recentes no Brasil tornarão o investimento em florestas atrativos para o capital nacional e para o internacional”, avalia Marcelo Schmid, sócio-diretor da Forest2Market do Brasil, que fez uma análise do segmento de florestas no Brasil para 2020, com perspectivas. 

Essa conclusão de Schmid fundamenta-se na queda da taxa básica de juros (Selic) para 4,25%, o que – garante ele – reduz o interesse de investimentos em fundos de renda fixa como o CDB, LCA (Letra de Crédito Agrícola), LCI (Letra de Crédito Imobiliários) e faz com que investidores busquem alternativas de investimento em longo prazo, de baixo risco. Diante de uma baixa taxa de juros, o investimento em florestas plantadas é capaz de remunerar o capital acima da renda fixa.

No entanto, Marcelo não vê o cenário favorável para que ocorra em 2020 uma flexibilização das regras que restringem a aquisição de terras por empresas estrangeiras no Brasil. “Apesar de haver no Congresso Nacional um núcleo com boa vontade para trabalhar esta pauta, o acalorado – e mal informado – debate acerca dos incêndios ocorridos na floresta amazônica no início do ano, trouxe a comunidade internacional oportunista à porta de nosso país, questionando a capacidade brasileira em zelar por seus recursos ambientais e, consequentemente, questionando nossa soberania”.

Nesse cenário, mesmo que o projeto de lei que trata do tema e que já teve parecer favorável de duas comissões do Senado, no final de 2019, venha a ser aprovado, o efeito causado pelas críticas internacionais dificultará a sanção pelo presidente Jair Bolsonaro.

Clima de negócios – O sucesso do setor florestal brasileiro é altamente relacionado à saúde da economia mundial. Dela depende boa parte de produção florestal nacional, assim como o apetite estrangeiro para vir ao país fazer negócios. 

O ano de 2019 foi marcado pelo temor global aos potenciais impactos aos negócios causados pelo conflito comercial entre Estados Unidos e China, além de conflitos políticos em diversos países globalmente importantes.

Porém, a perspectiva de recessão econômica global, semeada ao longo de 2019, diminuiu bastante nos últimos meses. A sinalização de um possível acordo comercial entre os dois principais players da economia global e mudanças em políticas fiscais e monetárias de países importantes deve levar a um cenário de recuperação moderada da economia global, após desaceleração nos últimos dois anos.

Mas nem só notícias positivas vêm da China. “O surto de coronavírus precisa ser monitorado com muita atenção, pois poderá ter algum impacto para o setor, embora a conexão com a demanda seja indireta. Mas isso não altera as previsões neste momento”, afirma Marcelo Schmid, que também analisa o impacto dos incêndios florestais na Austrália: “Estes certamente terão algum impacto no preço de cavacos de madeira”, ele afirma.

Com o crescimento econômico da economia mundial ainda lento, o estoque de celulose continuará alto, pelo menos até o fim do primeiro semestre, quando espera-se atingir maior equilíbrio entre oferta e demanda e dar início à recuperação dos preços de celulose, que desabaram ao longo de 2019.

Crescimento interno – Segundo as análises da Forest2Market do Brasil, a construção civil será um importante cliente para o setor florestal. No Brasil, depois de 5 anos em recessão, a construção civil fechou o ano de 2019 em alta de todos seus principais indicadores e o setor projeta crescimento de 3% em 2020, como resultado dos juros baixos, inflação controlada e economia estável. Boa notícia para o setor de base florestal, fornecedor de insumos para a construção civil.

Já nos Estados Unidos, importante consumidor de produtos brasileiros de base florestal, uma pesquisa recente da Reuters apontou que a maioria dos especialistas de mercado espera que a construção civil aumente em 2020. As opiniões apontam uma redução dos preços das casas atingindo o menor valor em anos, o que favorecerá o desenvolvimento do setor. Segundo a prognose da Forest2Market, o número médio de housing starts em 2020 será de 1.264 milhões de unidades, um crescimento de 0,6% em relação a 2019.

Outra oportunidade interessante para o setor pode estar na produção de energia. Dos 1.528 projetos cadastrados no leilão A-4/2020, 21 são de termelétricas a biomassa, totalizando uma oferta de 1.145 MW. De acordo com Marcelo Schmid, se 20% desta oferta vier da biomassa florestal, isso representará um consumo adicional aproximado de 1,5 milhão de metros cúbicos de madeira. A energia de biomassa passará a ganhar importância cada vez maior em termos de consumo de madeira.

Madeira em alta – Os preços de madeira, de forma geral, manterão tendência de aumento em diversos mercados, tanto no pinus (em todos os seus estados), quanto no eucalipto (com destaque aqui a São Paulo e Minas Gerais), por questões internas resultantes do aquecimento econômico e externas, resultantes da demanda mundial por fibra de madeira, indica a análise da Forest2Market do Brasil.

Um nicho em especial continuará bastante movimentado este ano. Ao longo de 2019, devido ao aumento da demanda pela matéria-prima e estagnação da oferta, o suprimento de pinus teve procura histórica. Segundo os dados de monitoramento de preços de toras da Forest2Market, o preço das toras de pinus subiu para todas as classes diamétricas. Em 2020 essa situação tende a ser ainda mais nítida, à medida em que nos aproximamos da data de startup das expansões já anunciadas.

Em 2020 as indústrias de base florestal que dependem do mercado ou de fornecedores externos terão que entender ainda melhor a dinâmica de matéria-prima (disponibilidade e preço).

Para contribuir com o setor, a consultoria acompanha os preços de madeira baseada em transações reais coletadas empresa a empresa, assim como dados online de suprimento de madeira, por espécie e idade, nos principais Estados brasileiros, e disponibiliza as informações em duas plataformas digitais.

Foto de capa: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)