ATITUDE POSITIVA – Programa Bioinsumos: Mapa e Ipea definirão indicadores

Com previsão de ser lançado ainda neste ano, o Programa Bioinsumos foi motivo de parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para construção de indicadores que possam avaliar o impacto da implementação do Programa Nacional de Insumos para Agricultura Orgânica. O objetivo é organizar o marco legal do setor para facilitar o acesso dos produtores rurais aos diferentes insumos orgânicos e ampliar o uso de substâncias ou organismos de origem biológica na agropecuária.

Os bioinsumos abrangem desde sementes, fertilizantes, produtos para nutrição vegetal e animal, extratos vegetais, defensivos feitos a partir de microorganismos benéficos para controle de pragas e doenças até produtos homeopáticos ou tecnologias que têm ativos biológicos na composição.

O grupo de trabalho foi criado em abril e está sob coordenação da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação e conta com representantes de outras três secretarias do Mapa: Defesa Agropecuária, Política Agrícola e Agricultura Familiar e Cooperativismo. Os representantes serão indicados nos próximos dias.

Entre os objetivos do Programa está a harmonização de ações e experiências existentes de forma descentralizada no setor, identificando as necessidades do setor e propondo novas formas e processos que possam trazer inovação e fomento. E prevê a definição de eixos temáticos e a revisão do marco legal relacionado ao assunto. Um dos pontos, por exemplo, que deve ser discutido é a produção de insumos dentro das propriedades rurais.

A iniciativa também tem relação com a crescente adesão de produtores rurais brasileiros a práticas de agricultura sustentável e econômica em diferentes tipos de plantios, que envolvem, por exemplo, o uso de bioinsumos e organismos biológicos, com a finalidade de melhorar a fertilidade das plantas e reduzir os custos de produção. Especialistas apontam que este movimento tem possibilitado a busca por fontes naturais de nutrientes, como rochas e pedras, que contêm minerais com o potencial de recuperar solos em regiões mais áridas.

Os remineralizadores têm sido usados especialmente nos cultivos de grãos, mas há experiências positivas com resultados de melhoria na qualidade da produção e aumento da resistência a pragas em plantios de cana-de-açúcar, eucalipto, seringueira e frutas.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estima-se que a área plantada no Brasil com os agrominerais já ultrapasse dois milhões de hectares. Só em Goiás, estado pioneiro no uso dos novos insumos, há registro de pelo menos 250 mil hectares plantados com adubação mineral ou biológica.

O objetivo dos produtores, principalmente pequenos e médios, é reduzir a dependência de insumos químicos de preço elevado e garantir a rentabilidade da lavoura. No entanto, a principal queixa deles é a baixa oferta de insumos nacionais eficientes no mercado. Cerca de 95% do cloreto de potássio, por exemplo, um dos fertilizantes mais utilizados no Brasil, são importados.

Exemplo é o  Grupo de Agricultura Sustentável, conhecido como GAS, que foi criado com o objetivo de mudar os paradigmas de produção agrícola e defender a liberdade dos produtores na escolha dos insumos considerando o contexto regional das propriedades, e, em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), o grupo já mobiliza mais de 2.300 agricultores de todo o país que praticam diferentes métodos de adubação, manejos e buscam novos tipos de insumos de origem biológica. Um dos remineralizadores ou agrominerais regionais que os produtores de Goiás têm priorizado é o pó de rocha, que pode ser aplicado diretamente no solo ou junto com fertilizantes solúveis convencionais.

Levantamento do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (Ifag) aponta que fertilizantes e defensivos compõem praticamente metade dos custos de produção da soja convencional, por exemplo. Nas últimas estimativas da instituição, a rentabilidade dos produtores de soja tem sido negativa, fato que tem gerado endividamento dos agricultores, segundo integrantes do setor.

Efeitos – Um dos principais pesquisadores do tema, o agrogeólogo Eder Martins, que atua na Embrapa Cerrados, ressalta que o sistema alternativo de plantio traz efeitos diretos e indiretos para as plantações e representa uma solução viável para devolver a rentabilidade da agricultura.

“Todo esse movimento está ligado à sustentabilidade da atividade. A viabilidade da agricultura é uma questão crucial hoje. Na realidade, a agricultura sempre foi biológica, mas, ao longo do tempo foi sendo dada ênfase para os insumos químicos. Porém, existe exaustão tecnológica, e quando essa exaustão bate no bolso e não fecha as contas, significa que o modelo não está sendo viável”, ressalta.

Martins alerta que a agricultura baseada em insumos naturais pressupõe uso de fontes minerais de nutrientes, organismos biológicos para controle das pragas e plantas de cobertura para proteger e nutrir o solo, mas não substitui nem elimina os insumos convencionais, como fertilizantes ou defensivos químicos.

“Esse novo modelo é um tipo de agricultura biológica que não é incompatível com o modelo anterior, nem tem preconceito com os insumos tradicionais. Mas não é possível ter solução apenas por um aspecto, é preciso ter associação dos insumos. A gente ainda precisa dos agrotóxicos como uma das ferramentas. E a gente vai continuar utilizando fertilizantes, a diferença é que seremos mais econômicos”, explica Martins.

O especialista destaca que nas áreas onde há verticalização do processo produtivo de aves, por exemplo, os resíduos das agroindústrias, que são muito ricos em nutrientes e microorganismos benéficos para o solo, podem ser melhor aproveitados para fazer compostagem com os minerais de rochas.

“É a busca de sustentabilidade econômica e, neste processo, você vai encontrar também a sustentabilidade ambiental e social, porque vai se estimular o desenvolvimento de novas cadeias produtivas regionais e possibilitar que os recursos circulem nas próprias regiões agrícolas”, afirma, lembrando que “os fertilizantes convencionais solúveis, geralmente feitos à base de nitrogênio, fósforo e potássio, têm eficiência baixa se não forem bem aplicados, e a composição com os minerais têm a vantagem de melhor aproveitamento dos nutrientes. Quando o processo é bem feito, a gente consegue utilizar efetivamente apenas 50% desses elementos. Temos resultados recentes mostrando que é possível ter aumento de produtividade quando você combina a fertilização solúvel com esses novos agrominerais”.

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