Com relatórios divulgados periodicamente, o Sistema TempoCampo – iniciativa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que objetiva apoiar a tomada de decisão do agronegócio brasileiro, oferecendo projeções de produtividade das culturas de cana-de-açúcar, milho e soja, além de quantificar clima em termos de produção agrícola, trazendo um indicativo ao agricultor no sentido de averiguar se o clima está auxiliando ou penalizando a produção – começou 2022 apresentando a informações referentes a dezembro do ano passado, com relação a volume de chuvas, armazenamento de água no solo e relação entre o clima e as principias culturas, como soja, milho, arroz, feijão e algodão.
Na Região Norte, o total de chuvas passou de 240 mm enquanto na Região Nordeste as chuvas mais abundantes foram registradas no Maranhão, no Piauí e na Bahia. Nos demais Estados nordestinos o acumulado de precipitação não ultrapassou 90 mm. No Mato Grosso, o total de chuvas superou 240 mm nas mesorregiões norte e nordeste. Maiores volumes de precipitação também foram registrados no norte do Mato Grosso do Sul. Acumulados de 180 mm a 240 mm foram registrados na maior parte dos territórios de Minas Gerais e de Goiás. Na Região Sul, as chuvas totalizaram cerca de 90 mm na maior parte do Rio Grande do Sul e não superaram os 60 mm em quase todo o Paraná.
Devido ao grande volume de chuvas, a Região Norte apresentou os maiores valores de armazenamento de água no solo. Nos estados do Amazonas, Rondônia, Acre e Tocantins, a umidade passou de 90%. Em partes do Pará e Roraima a umidade variou entre 60% e 75%. Umidade do solo acima de 75% foi registrado em quase todo o Mato Grosso e, em Goiás, o armazenamento variou entre 60% e 90%. Já no Mato Grosso do Sul, foram registrados valores entre 45% e 75%. No Maranhão e na Bahia, o armazenamento foi de 45% a 75% na maior parte do território. No Piauí, a umidade variou entre 30% e 45% enquanto que nos demais estados da Região Nordeste a umidade foi inferior a 15%. Em Minas Gerais, o armazenamento variou entre 60% e 75%, chegando a 90% em algumas áreas. Em São Paulo, a umidade ficou entre 30% e 60% e na Região Sul, o armazenamento não passou de 30%. A situação é ainda mais grave em algumas regiões do Paraná, onde o armazenamento foi inferior a 15%.
De forma geral, na Região Norte, prevaleceram máximas entre 29 °C e 31 °C, com exceção do Tocantins, onde as máximas ficaram entre 27 °C e 29 °C. No Mato Grosso as máximas ficaram entre 29 °C e 31 °C, em Goiás, entre 27 °C e 29 °C, já no Mato Grosso do Sul, máximas de 31 °C a 33 °C foram registradas em algumas regiões. Com exceção da Bahia, onde as máximas variaram de 27 °C a 29 °C, a Região Nordeste apresentou os maiores valores de temperatura máxima no país, com picos de 33 °C. Em Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina, as máximas variaram entre 25 °C e 27 °C. Nos demais estados das Regiões Sudeste e Sul, as máximas mantiveram-se entre 27 °C e 31 °C. No Paraná, assim como no Mato Grosso do Sul, as máximas atingiram 33 °C.
As menores temperaturas do País ocorreram nas regiões Sul e Sudeste, ficando entre 16 °C e 19 °C. Nas regiões Norte e Nordeste, as temperaturas mínimas variaram, principalmente, entre 21°C e 25 °C. A Bahia foi exceção, com mínimas entre 19 °C e 21 °C. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as mínimas ficaram entre 19 °C e 21 °C, e em Goiás, entre 21°C e 23 °C.
Vale ressaltar que o padrão de precipitação que tem sido observado no País, com chuvas mais abundantes nas regiões Norte e Nordeste e com chuvas abaixo da média na Região Sul, é influenciado pelo fenômeno La Niña. As previsões apontam que os efeitos da La Niña devem se estender até o mês de março, tornando o verão nas regiões Norte e Nordeste mais chuvoso, e aumentando a frequência de estiagens na Região Sul, o que levanta um sinal de alerta para os produtores do sul do País.
Tempo e agricultura brasileira
A semeadura da soja foi concluída em quase todo o país e a colheita já se iniciou timidamente em áreas irrigadas do Mato Grosso. Cerca de 95% da área nacional destinada à cultura foram semeados até o final de dezembro. A semeadura já foi finalizada nos estados de Tocantins, Piauí, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. No Maranhão, 90% da semeadura foi finalizada até o final de dezembro, em Santa Catarina, 98%, e no Rio Grande do Sul, 91%. As condições meteorológicas foram favoráveis para as lavouras do Matopiba e das regiões Centro-Oeste e Sudeste, com exceção de pontos isolados do Mato Grosso afetados pelo excesso de nebulosidade, de poucas áreas da Bahia afetadas pelo excesso de umidade, e de algumas localidades do Mato Grosso do Sul acometidas por períodos de estiagem.
Já a Região Sul foi desfavorecida pelo clima, já que o baixo volume de chuvas e as elevadas temperaturas prejudicaram o desenvolvimento das lavouras do Paraná, sobretudo do oeste do estado. Mais de 40% das lavouras de soja paranaenses desenvolvem-se em condições regulares ou ruins. No Rio Grande do Sul, a restrição hídrica também impactou negativamente o potencial produtivo das lavouras implantadas e freou o avanço da semeadura.
Mais de 80% do milho da primeira safra brasileiro foram semeados até o final de dezembro. As condições meteorológicas contribuíram para o avanço da semeadura do milho no Matopiba e beneficiaram as lavouras em desenvolvimento. No Maranhão e no Piauí, 60% da semeadura foram finalizados, e na Bahia, onde o ritmo da operação é mais acelerado, 85% da semeadura já foram concluídos. Em Goiás, Minas Gerais e São Paulo, a semeadura do milho de primeira safra já foi completamente concluída. As condições meteorológicas favoreceram as lavouras desses estados, que se encontravam em boas condições até o final de dezembro. A falta de chuva e as elevadas temperaturas prejudicaram as lavouras de milho da Região Sul. Mais de 20% das lavouras de milho paranaenses encerraram o mês em condições regulares ou ruins. Falhas de polinização e má formação de espigas foram observadas no Rio Grande do Sul. No Paraná a semeadura já foi concluída, em Santa Catarina foi finalizada em quase 100% do território destinado ao cultivo de milho e, no Rio Grande do Sul, em 93% do território. A colheita do milho também já foi iniciada em áreas produtoras da Região Sul.
A semeadura do arroz já foi concluída na Região Sul, principal região brasileira produtora do grão. As lavouras irrigadas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul estão se desenvolvendo bem em decorrência da elevada incidência de radiação, das temperaturas diurnas elevadas e das temperaturas noturnas amenas. No entanto, os produtores sulistas seguem preocupados com a falta de chuvas para reabastecer os reservatórios. No Tocantins, a semeadura foi finalizada em 87% da área projetada e o excesso de chuvas continua restringindo as atividades de semeadura. Cerca de 86% e 60% da semeadura foram concluídos nos estados de Mato Grosso e Goiás, respectivamente.
A semeadura do feijão de primeira safra já foi concluída no Paraná, maior produtor de feijão do Brasil. As lavouras de sequeiro sofrem as consequências do déficit hídrico que atinge o estado e mais de 40% das áreas produtoras encerraram o mês em condições desfavoráveis. Em Goiás e no Paraná, a colheita foi iniciada na última semana de dezembro; em São Paulo, a colheita já foi finalizada. Na Bahia, o excesso de chuvas preocupa os produtores.
Mais de 25% da área nacional destinada ao cultivo de algodão já foram semeados em dezembro. No Mato Grosso do Sul, a semeadura está em reta final, alcançando 97% da área prevista. No Mato Grosso, a semeadura da primeira safra foi praticamente finalizada e a da segunda safra iniciada em áreas onde a soja já foi colhida. A implantação da primeira safra de algodão em Goiás também foi concluída e as lavouras encontram-se em boas condições; as operações de semeadura nas áreas de cotonicultura do estado devem permanecer paralisadas até o início da colheita da soja. A semeadura do algodão também avança no Matopiba, com 60% das áreas produtoras de algodão semeadas no Maranhão e no Piauí, e 83% na Bahia. A maior parte das lavouras implantadas encontram-se em boas condições de desenvolvimento e fitossanitárias, com exceção das localizadas no sul do Mato Grosso do Sul, que são afetadas pela baixa umidade do solo.