Instituído pelas Nações Unidas, em 1975, o Dia Internacional das Mulheres é comemorado em mais de 100 países, como um dia de protesto das trabalhadoras por igualdade de direitos. A data foi inspirada em diversos movimentos e manifestações, que datam no início do século XX, em que eram reivindicadas melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária e equiparação salarial com os homens, entre outros aspectos.
Na agropecuária, a mulher sempre esteve presente, mas o Censo Agropecuário 2017 pesquisou pela primeira vez o compartilhamento de direção nos estabelecimentos. São 1.029.640 estabelecimentos compartilhados pelo casal, o que representa 20% do total pesquisado, com 817 mil mulheres dividindo a direção com o cônjuge. “Além de a mulher ter aumentado na direção diretamente, agora ela aparece também na direção compartilhada”, comentou, à época da divulgação dos dados, em dezembro de 2019, Antonio Carlos Florido, gerente técnico do Censo Agropecuário do IBGE.
Nessa edição do Censo Agropecuário foi possível identificar que 947 mil mulheres estão no comando de propriedades rurais no Brasil em um universo de 5,07 milhões de pessoas. Nesse número, 57% estão concentradas no Nordeste do País, com a Bahia constituindo-se o Estado com o maior número de mulheres que assumiram a direção de um estabelecimento agropecuário. As mulheres lideram 18,6% das propriedades rurais brasileiras, atingindo o percentual de 34,7% quando somadas as profissionais que administram as fazendas junto a suas famílias.
Segundo estudo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), da mesma forma que em outros setores da economia, as mulheres ligadas ao agronegócio precisam equilibrar várias frentes e atuar como proprietária, administradora, mãe e dona de casa, com 71% exercendo múltiplas tarefas e responsabilidades.
E mais: em áreas da agropecuária, mulheres são responsáveis por encabeçar a produção de 30 milhões de hectares, que representam somente 8,5% da área agriculturável existente no Brasil, mesmo após um crescimento de 6% em 11 anos.
Mesmo assim, por mais que os números pareçam animadores, de cada 10 cargos de gestão do agronegócio brasileiro, menos de 2 são ocupados por mulheres. O Censo Agropecuário de 2017 constata, ainda, que elas são proprietárias de 19% dos estabelecimentos identificados, enquanto os homens detêm 81% das operações.
Um pouco de história
Essas comemorações, historicamente, têm várias referências, que se reportam, de um modo geral, a 1907, quando da realização da 1ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, aprovou uma resolução em que eram exigidos “direito a voto; igualdade de oportunidades e de salários para igual trabalho e proteção social à mulher e à criança”. Dois anos depois, em 28 fevereiro de 1909, acontece a primeira celebração das mulheres nos Estados Unidos. Mas foi durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, na Dinamarca, que o Partido Comunista Alemão, propôs a criação de um dia dedicado às mulheres.
Outra data emblemática para o movimento relaciona-se a um incêndio, em 25 de março de 1911, na fábrica Triangle Shirtwaist Company matou 146 mulheres, dentre as 500 que trabalhavam lá – desse número, cerca de 20 eram homens. A maioria das funcionárias que morreram eram imigrantes judias e algumas tinham apenas 14 anos.
O dia 8 de março, especificamente, reporta-se a uma manifestação, em 1917, quando cerca de 90 mil operárias russas percorreram as ruas reivindicando melhores condições de trabalho e de vida.
Passados mais de um século, as reivindicações seguem praticamente as mesmas em todos os setores da economia brasileira quando considera-se as mulheres: o caminho para chegar a um cargo de liderança é tortuoso para a maioria, além de receberem salário cerca de 70% do salário dos colegas homens nas mesmas profissões, de acordo com pesquisa da economista Laísa Rachter, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), que analisou os salários pagos entre 1970 e 2010.
Outra pesquisa, dessa vez realizada em 2020 pela consultoria em marketing digital TRIWI, em 2020, denominada Representatividade das Mulheres nas Empresas, sinaliza que elas estão presentes em apenas 10% das posições de chefia no País e que o salário é 30% inferior ao dos homens em 46,8% das 2.542 companhias analisadas e mostra que não há mulheres exercendo qualquer cargo de chefia em 27,4% das empresas brasileiras.
Foto: Eduardo Montecino/ OCP News