Por Valéria Vilela, do Café em foco, com exclusividade para o GestAgro 360°
Um robô que cuida do terreiro de café, remexendo os grãos, está em desenvolvimento de uma equipe de engenheiros. Essa novidade foi apresentada em Muzambinho (MG), por uma startup dedicada a soluções tecnológicas para cafeicultora, vinculada ao programa Faemg Agro Conecta.
A demonstração foi realizada na propriedade da família Santos. Armando Santos, que tem mais de 60 anos como cafeicultor, abriu a propriedade para os testes do robô e comenta: “Aqui já tivemos outras invenções sendo testadas, mas confesso que esse robô me deixou entusiasmado, creio que com os ajustes que falamos durante as demonstrações logo vai estar pronto para atender os cafeicultores”, disse.
A invenção está em teste. Depois de ganhar um concurso de inovações tecnologias que tem como objetivo conectar a tecnologia da indústria ao cotidiano das pessoas. A equipe do programa da Faemeg Agro Conecta está levando o grupo de pesquisadores até os cafeicultores para a fase de validação do projeto, explica Gabriel Maia, coordenador de operações do programa.
Em Muzambinho, o dia de testes foi acompanhado pelos trabalhadores que fazem o serviço com o rodo de café, que gostaram da novidade “nossa fiquei bem impressionado, é inacreditável que vamos poder ter um companheiro de trabalho que faz o serviço do rodo sozinho, disse Marcelo Augusto terreiro há 8 anos.
O robô é programado por um sistema de GPS e mexe sozinho os terreiros de café, dando uniformidade ao serviço, como explica Caio Junqueira, engenheiro quem vem da indústria automobilística. “Como sou engenheiro e cafeicultor, estava com dificuldade para contratar mão de obra, em especial para o terreiro. Por fazer cafés especiais precisava de uma uniformidade no trabalho de mexer o grão durante o processo de secagem. Tínhamos uma demanda grande de mão de obra e aí veio a ideia de trazer a automação da indústria para o campo. Somos um grupo de cinco engenheiros que juntos desenvolveram o primeiro robô que conseguiu ficar entre os três primeiros lugares dentro do concurso Avança Café promovido pela Ufla, com isso a Faemeg nos convidou a damos continuidade ao projeto e ver a viabilidade de tornar o robô um produto comercial”, conta Junqueira.
Ouvir os cafeicultores e a cadeia do café faz parte dos ajustes antes que o robô seja colocado para comercializar, explica Felipe Madeira. Com experiência na indústria aeronáutica e automobilística os engenheiros que também são cafeicultores querem com a invenção resolver um problema do setor, disse Amando Santos Junior que esteve nas demonstrações do robô.
A família inteira acompanhou as manobras no terreiro do robô que tem vantagens para o setor, como coloca Clovis Piza, extensionista Emater “sustentabilidade é na minha visão a maior vantagem, energia limpa é uma demanda do mercado consumidor de café. Como profissional de certificação olho para essa inovação como uma resposta a um problema que muitos cafeicultores de cafés especiais enfrentam custo de mão de obra e contaminação no terreiro por combustíveis. Há necessidades de ajuste para os cafés especiais que são grão mais delicados e exigem maior rigor na secagem”, observou Piza.
Para a engenheira agrônomo Júlia que atende 22 cafeicultores do programa Educampo do Sebrae em parceria com a Exportadora Guaxupé. Ela também foi conhecer a inovação para a secagem. O processo de seca bem-feita, com a constante virada dos grãos garante uma homogeneização e um padrão além de evitar a formação de bolores que influenciam na bebida do café. O ideal é a uma hora fazer uma revirada no terreiro durante o dia, ou seja, de 8 a 12 vezes em cada terreiro, é preciso um funcionário exclusivo para cuidar da secagem no terreiro. Quando se quer trabalhar com cafés especiais há uma demanda muito grande de mão de obra e o custo está ficando algo. Para se ter ideia no caso dos cafés especiais houve um aumento de custo na mão de obra. Nesta safra cada saca gasta cerca de R$45,00 com mão de obra.
Para remanejar o robô de um terreiro para outro tem um mini controle que é a reprodução de um manche da cabine de um avião, quem testou gostou. Para os cafés especiais o projeto traz uma esperança, um manuseio delicado que não estraga o pergaminho que envolve o café, observou a cafeicultora Suzana Santos Passos. Para Wilson Passos técnico agrícola “percebo que em terrenos mais homogêneo o desempenho é maior e mais ágil, com a programação é feita no computador ou no celular vejo uma alternativa para o trabalho no terreiro” falou ao ver bem de perto o desempenho do robô.
Para a equipe da diretoria de agricultura que acompanhou os testes “é um desafio trazer a automação e inovações tecnológicas para o agronegócio, com essa demonstração tivemos informações de outros oito startups que estão sendo viabilizadas no estado e colocamos o município a disposição para outros testes, disse a diretora de agricultura Edna Costa.
Em agosto, os engenheiros voltam para o Sul de Minas para realizarem novos testes após fazerem as alterações sugeridas pelos cafeicultores de Muzambinho.
A equipe de inventores do robô para terreiro de café é composta pelos engenheiros Rodrigo Leite, Caio Arantes, Caio Arantes Filho, Felipe Madeira e Paulo Roberto Coelho, além do designer Marco Riso.