Por iniciativa da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, que conta com a participação de usinas interessadas na rotação com soja para a reforma de áreas de cana, foram abertas oportunidades para produtores cooperados do Paraná que desejam ampliar suas lavouras e desbravar uma nova fronteira para a soja na vizinha região oeste do estado de São Paulo, o Pontal do Paranapanema, onde reinam canaviais e pastagens. A novidade deve movimentar a economia de vários municípios, ainda mais porque, além das usinas, proprietários de terras onde é explorada a pecuária de corte, na região de Presidente Wenceslau, vão aproveitar o embalo e disponibilizar 3,7 mil hectares para a reforma de pastagens com soja na safra 2020/21. Com isso, a superfície cultivada com a oleaginosa pelos produtores da cooperativa vai saltar de 5,1 mil hectares na temporada 2019/20 para cerca de 25 mil no período 2020/21, cinco vezes mais.
O resultado foi tão positivo que para a safra de verão 2020/21, a ser semeada a partir de outubro, a Cocal está praticamente dobrando a área para 9,8 mil hectares e a Cocamar já firmou convênio com outras duas usinas da região, que querem replicar a experiência: a Atvos, instalada em Teodoro Sampaio, e a Umoe Bioenergy, de Sandovalina. Juntas, elas devem destinar aproximadamente 10 mil hectares de áreas. O programa também atraiu parceiros da cooperativa: entre outros, a Syngenta, que vai fornecer uma equipe de profissionais especializados na identificação de pragas na lavoura, e a empresa de seguros Fairfax.
Em formato de parceria inédito no País, a primeira experiência nesse sentido, na safra 2019/20, somou 5,1 mil hectares que foram arrendados pela Cocamar junto a usina Cocal de Paraguaçu Paulista (SP), em Narandiba e Iepê, municípios situados próximos à divisa entre os dois estados. A cooperativa distribuiu a área para 19 produtores selecionados, forneceu os insumos e estabeleceu o padrão tecnológico a ser seguido nas lavouras, designando um engenheiro agrônomo para prestar acompanhamento técnico.
No acordo, a usina cede as terras após fazer a correção com calcário e a adubação. Os técnicos explicam que o cultivo de soja contribui para a reestruturação física e química do solo, além de, como rotação, entre outros benefícios, interromper o ciclo de doenças e pragas da cana.
“A parceria com a Cocamar reforça o nosso compromisso com o avanço da sustentabilidade no campo. A rotação de culturas é comprovadamente uma iniciativa que alia ganhos ambientais à produtividade, possibilitando a prática de uso responsável do solo”, afirma Wagner Louwel Oliveira Peroto, gerente de parcerias agrícolas e fornecimento de cana da Atvos.
“É uma parceria onde todos ganham”, comenta o gerente de negócios da Cocamar, Marco Antônio de Paula, idealizador e coordenador do programa. Ele explica que o modelo de parceria é vantajoso para as usinas, as quais não precisam se especializar no cultivo de soja para promover a reforma, que tem como objetivo recuperar a fertilidade do solo e ampliar as médias de produtividade dos canaviais.
Economia – “Não fosse pela soja, as usinas teriam que investir em insumos, como defensivos”, afirma de Paula, explicando que as áreas ficariam temporariamente ociosas até o início do ciclo seguinte da cana – após a colheita da oleaginosa. Outro detalhe é que as usinas tratam unicamente com a Cocamar, responsável pelo arrendamento das terras, e não com os produtores, o que seria impraticável. Além disso, quando as lavouras alcançam um determinado patamar de produtividade, elas passam a ter direito a um percentual.
Para a Cocamar é um bom negócio, diz de Paula, porque a cooperativa cumpre a função social de gerar oportunidades para os cooperados, fornece os insumos e recebe a safra. De acordo com o gerente, no último ciclo a produção foi de cerca de 14 mil toneladas do grão, o equivalente a média de 45 sacas de 60 quilos por hectare. A colheita é depositada pelos produtores nas unidades operacionais que a cooperativa possui em Iepê e Cruzália.
Para que os produtores não tenham receio de apostar na região, a cooperativa garante suporte técnico, logístico e, por meio de sua corretora, oferece um seguro que cobre os custos de produção, estimados ao redor de 35 sacas de soja por hectare. “Nenhum dos 19 produtores que participaram do programa, em seu primeiro ano, pensa em desistir”, comenta de Paula, mencionando que a expansão da área, no ciclo 2020/21, deve gerar oportunidades para mais 50 cooperados.
A Cocamar trabalha com um potencial de produção de 70 mil toneladas de soja e um faturamento de R$ 40 milhões com o fornecimento de insumos nessa nova fronteira, detalha o gerente, salientando que a cooperativa, confiante no futuro da região, estuda realizar investimentos ali, como a construção de uma unidade destinada a receber soja e comercializar insumos em município próximo. Por ora, as entregas do grão continuam a ser feitas pelos produtores nas estruturas de Iepê e Cruzália, município este que vai comportar um centro de distribuição de insumos na próxima temporada, apoiado pela unidade de Presidente Prudente.
O diretor-superintendente da Cocal, Paulo Adalberto Zanetti, conta que quando a Cocamar, por meio do gerente de negócios Marco Antônio de Paula, procurou a usina para propor a parceria, a principal preocupação era saber se durante a aplicação do glifosato para o controle das ervas, na soja, as mudas de cana não seriam afetadas. “Colocamos a nossa equipe para ajudar na formatação e ficamos animados diante da oportunidade de fazer uma parceria com a Cocamar, ainda mais por ser um projeto inovador”, afirma Zanetti, que garantiu inexistir problema algum durante o ciclo da soja, o que levou a usina a ampliar a área ofertada.
Mesmo sabendo que a soja é a cultura mais indicada para fazer a rotação na reforma das áreas de cana, Zanetti diz que nunca avaliou a possibilidade de firmar parcerias com produtores. “Teríamos que montar um departamento exclusivamente para cuidar disso e a soja não é o nosso negócio”, explica. “Na parceria com a Cocamar, quem trata com os produtores é a cooperativa, o que fica cômodo para a usina”, acrescenta.
Os produtores – Douglas Chiconato, de Cambé, também participou do primeiro ano e na safra 2020/21 vai ampliar a área cultivada, nos municípios de Iepê e Nantes. “Estamos muito focados nesse programa, é a oportunidade de crescer”, diz.
“O solo arenoso e o clima quente do Pontal não intimidam os produtores paranaenses”, pontua o gerente, lembrando que, graças às tecnologias empregadas, vários deles obtiveram médias de produtividade parecidas ou até superiores em comparação às que conseguem no Paraná. Foi o caso dos irmãos Fabiano e João Paulo Rossi, acostumados à terra roxa de Sertanópolis (PR), onde residem: com o programa da cooperativa, eles praticamente dobraram o tamanho das áreas que cultivam e, para completar, as médias de produtividade foram semelhantes, ao redor de 60 sacas por hectare. “Colhemos uma safra excelente, deu tudo certo e queremos continuar”, afirma Fabiano Rossi.