Bioinsumos podem ser aliados da produtividade em culturas orgânicas e convencionais. Com essa convicção, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há três meses, lançou o Programa Nacional de Bioinsumos. Os primeiros resultados são comemorados e envolvem aumento da produtividade, aliado à redução de custos e ao desenvolvimento de sistemas de plantio baseados em recursos mais sustentáveis são alguns dos principais atrativos para o uso de bioinsumos, que vem crescendo a cada ano no Brasil. Tanto na agricultura orgânica como na convencional, produtores buscam cada vez mais esse recurso para a nutrição de fertilizantes no solo ou no controle de pragas que atacam a lavoura.
O objetivo do Programa Nacional de Bioinsumos é aproveitar o potencial da biodiversidade brasileira para reduzir a dependência dos produtores rurais em relação aos insumos importados e ampliar oferta de matéria-prima para setor, comenta Cleber Oliveira Soares. diretor de Inovação do Mapa, ressaltando que o programa é um dos pilares da visão de bioeconomia que a pasta está desenvolvendo para promover o acesso, o desenvolvimento e o uso sustentável da rica diversidade biológica brasileira. “O Brasil é responsável por abrigar a maior biodiversidade do mundo. Os bioinsumos contribuem para o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, como também geram renda, riqueza e qualidade de vida para os produtores, inseridos nos diferentes elos das cadeias produtivas da agricultura”, avalia.
Produção orgânica – Há 30 anos, por exemplo, o produtor Joe Valle cultiva insumos biológicos em sua fazenda especializada em produção agropecuária de produtos orgânicos. Localizada no núcleo rural Lamarão, em Brasília, a fazenda tem 50 hectares de hortaliças e também produz frutas, leite, ovos e até carne orgânica.
Para ele, os bioinsumos facilitam a produção de orgânicos e proporcionam alimentos mais saudáveis para a sociedade. Ele destaca que os bioinsumos feitos na Fazenda são resultado de metodologias já consagradas. “Hoje, a maioria dos produtos usados nas lavouras são produzidos na própria fazenda. A cama dos animais da propriedade, por exemplo, é feita a partir de uma mistura de resíduos orgânicos com rochas remineralizadas”, esclarece.
Esta mistura passa por um processo de compostagem, com duas “reviragens” por dia, usando rochas sedimentares, com a adição de serragem, carvão e esterco. A mistura é processada e transferida para o processo de compostagem. Quando o composto está maduro, é utilizado como nutriente para as plantas.
A fazenda também produz um chá composto feito por um pool de microrganismos para garantir o equilíbrio do ambiente e, assim, deixar as plantas mais fortes. “Trabalhamos com extrato de alga, extrato de peixe, melaço e uma fonte de carboidrato que é o polvilho. Assim, criamos essa quantidade de microrganismo composto benéfico, com bastante oxigênio, multiplicador, que serve de insumo no campo”, explicou.
Para Joe Valle, o , é o caminho do futuro. “É uma ferramenta fundamental para aumentar a escala de orgânicos no Brasil”, explica.
Agricultura convencional – Mas não é só na produção de orgânicos que o uso de bioinsumos traz benefícios. Na Fazenda Nova Aliança, em Planaltina (DF), há oito anos os bioinsumos são usados no plantio de feijão, soja e milho. “Hoje quase não utilizamos mais produtos químicos. Nós preparamos o solo com o plantio direto e com o uso de adubos equilibrados”, conta o engenheiro agrônomo e produtor rural Hélio Dal Bello.
Para ele, é crescente no Brasil a adesão de produtores rurais às práticas de agricultura sustentável e econômica, que utilizam mais bioinsumos e organismos biológicos. “Investimos na agricultura sustentável, precisamos ser responsáveis, cuidar dos córregos e manter a mata auxiliar nas lavouras. O Programa Nacional de Bioinsumos incentiva a utilização de recursos biológicos na agropecuária brasileira. Os produtores estão obtendo resultados e buscando mais informações sobre os bioinsumos”, comenta.
O número de defensivos biológicos registrados no Ministério da Agricultura tem avançado. São 275 produtos, entre bioacaricidas, bioinsecitidas, biofungicidas e bioformicidas, e 321 inoculantes, um insumo biológico que contém micro-organismos com ação benéfica para o crescimento das plantas.
Pesquisa e mercado – Em 2019, o mercado de biodefensivos nacional movimentou R$ 675 milhões, crescimento da ordem de 15% em relação a 2018, e acima da média estimada de crescimento internacional. Os dados são da Croplife Brasil, associação que representa as indústrias de desenvolvimento e inovação nas áreas de biotecnologia, germoplasma, defensivo químico e biodefensivo. A média global de novos produtos biológicos registrados, por ano, aumentou de três para 11 na última década.
Ainda, de acordo com a associação, em 2018, o setor realizou uma pesquisa, envolvendo usuários de insumos biológicos em 15 estados e em 11 culturas diferentes. O estudo concluiu que 96% dos pesquisados acreditam que o uso (taxa de adoção) de biodefensivos irá crescer nos próximos cinco anos.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Mapa, conta com um extenso trabalho de pesquisa dedicado ao controle biológico. São 632 pesquisadores trabalhando em 73 projetos relacionados ao tema e distribuídos em 40 unidades.
A produção de insumos biológicos demanda conhecimentos técnicos e controle de qualidade durante as etapas de produção e do produto final para que possa promover os benefícios ambientais e econômicos.
Para o diretor do IMAmt (Instituto Mato-Grossense de Algodão), Álvaro Salles, a demanda por insumos biológicos para uso na agropecuária é cada vez maior na produção convencional. “Percorremos o Mato Grosso, Pará, Amazonas, Rondônia e Tocantins. Investimos em pesquisa contra fungos, vírus e bactérias para encontrar alternativas e usar bioinsumos que façam o controle biológico de fungos e praga”, explica.
O IMAmt investe no controle do bicudo, controle de lepidópteros, principalmente Spodoptera (que gradativamente vem aumentando a resistência), controle dos nematoides e controle da mosca branca, entre outras pragas.
“É necessário reduzir custos de produção, diminuir o impacto ao meio ambiente e buscar uma agricultura mais sustentável. Todos os trabalhos do IMAmt são voltados para a pesquisa e inovação, buscando a longevidade do sistema de cultivo Mato-Grossense”, conclui Salles.