Produtividade da agricultura é desafiada por pragas resistentes, conclui Sindiveg

“O momento da agricultura é muito positivo, porém sempre depende de uma série de fatores. Começa pela preparação da terra; envolve a escolha de sementes selecionadas; é afetado pelo fator climático e o mercado interfere na disposição do produtor em investir mais ou menos em determinado cultivo. Decisão de plantio tomada, há inimigos terríveis a combater. Os desafios das pragas, doenças e ervas daninhas são cada vez maiores, exigindo a ação de soluções mais complexas e inovadoras para proteção das plantas”, relata Julio Borges Garcia, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).

De acordo com o representante setorial, os defensivos agrícolas constituiem-se investimento necessário para os agricultores, sendo utilizados exclusivamente porque representam uma potente ferramenta contra pragas, doenças e ervas daninhas, que são implacáveis. Desse modo, esses produtos “têm papel extremamente importante para a agricultura: evitar a ação dos agentes nocivos, mais resistentes aos agroquímicos, mais agressivos e seletivos. Importante enfatizar a relevância do ambiente tropical, extremamente desafiador devido ao clima úmido e quente e à produção o ano inteiro. O cenário é perfeito para as pragas. Sem os defensivos, a produtividade seria, em média, 40% menor, ceifando 100 milhões de toneladas de alimentos todos os anos”.

Em contrapartida, as pragas também têm tido ampliados seus níveis de resistência. No primeiro semestre de 2020, por exemplo, as pragas estiveram mais agressivas do que nunca, demandando, por parte dos agricultores, cada vez mais tecnologia dos defensivos agrícolas para o sucesso da agricultura.

Foi preciso, então, o uso de estratégias diferenciadas com produtos fitossanitários no manejo para a proteção dos cultivos. No cenário de doenças resistentes, o aumento de produtos de multisítio ou chamados de fungicidas protetores foram os mais utilizados, informa o Sindiveg, ressaltando que essa crescente exigência de defensivos fez com que no segundo trimestre (abril a junho) a área tratada com defensivos crescesse 9,8%, atingindo 142,4 milhões de hectares – contra 129,8 milhões ha no mesmo período de 2019. Em termos de produtos, os fungicidas apresentaram avanço de 8,6% sobre igual período de 2019. O uso de herbicidas foi 8,5% menor e o de inseticidas caiu 3,6%.

“Uma análise mais ampla, como a do 1º semestre de 2020, permite visão mais clara do impacto do uso dos defensivos agrícolas nos mais diferentes cultivos, mostrando não apenas os maiores desafios fitossanitários, mas destacando o essencial papel dos defensivos para a agricultura brasileira”, ressalta o presidente do Sindiveg, informando que os números apresentados resultam de pesquisa contratada pelo Sindiveg junto a consultoria privada.

No entanto, os desafios atingem até a indústria, que, em termos de faturamento em dólar, registrou queda de 3,1%, atingindo US$ 1,36 bilhão, aponta o Sindiveg, esclarecendo que a desvalorização cambial é outro grande desafio para a indústria, que adquire insumos importados e ainda não conseguiu repassar integralmente o aumento desta variação integral ao mercado.

“Vale lembrar o importante papel das indústrias de defensivos agrícolas como financiadoras da produção agrícola brasileira. Nosso prazo de financiamento médio atingiu 240 dias, aumentando mais de 20%.As empresas do setor agroquímico comprometeram-se e estão se esforçando muito para conseguir garantir recursos suficientes para financiamento do setor”, destaca o presidente do Sindiveg, entidade que reúne 26 associadas, distribuídas pelos diversos Estados e que, juntas, representam aproximadamente 40% do mercado.

Resultados por cultura – A soja exigiu diferentes mecanismos de defesa para combater uma doença muito agressiva de difícil controle: a ferrugem asiática – o principal desafio fitossanitário da cultura. Percevejos e ácaros foram os insetos que mais necessitaram de tratamentos e, no caso de ervas daninhas, capim amargoso e buva exigiram modos de ação diferenciados para combatê-los. Em relação ao milho safrinha, foi preciso aumentar o uso de inseticidas para combater cigarrinhas e percevejos, e manchas foliares e ferrugem demandaram mais aplicações de fungicidas. Quanto ao algodão, a doença mais agressiva continua sendo a ramulária, levando os agricultores a usar mais fungicidas. O manejo de resistência também foi intensificado na primeira metade do ano.

“Soja, milho, algodão e cana, juntos, representam cerca de 80% do mercado de defensivos agrícolas no país. Os exemplos acima mostram o tamanho do desafio da prevenção e do controle de pragas, doenças e ervas daninhas nas propriedades rurais, assim como reforça o importante papel das novas tecnologias fitossanitárias para ajudar os agricultores a vencer esses desafios. No final, estamos falando em cumprir uma função essencial para o aumento da produtividade. São mais alimentos na mesa dos consumidores e mais commodities para o mercado internacional, fortalecendo a economia brasileira”, ressalta Julio Garcia.

A cultura destaque do segundo trimestre do ano foi o milho safrinha, com crescimento de 83,6% na área tratada na comparação direta com abril a junho de 2019, atingindo 24 milhões de hectares e tem previsão de colher 73 milhões de toneladas. Julio Garcia destaca lista, entre os diversos desafios dessa cultura, “especialmente lagartas e percevejos. Motivados pelos bons preços do mercado global, os agricultores estão cultivando 14 milhões de hectares, área 3,9% superior à da safra anterior (13,5 milhões ha), destaca Julio Garcia.

Soja (+33%), milho (+29%) e algodão (+18%) puxaram o crescimento da área tratada por defensivos agrícolas no acumulado de janeiro a junho de 2020. Segundo o Sindiveg, no período foram tratados 643,2 milhões de hectares, com crescimento de 6% sobre o 1º semestre de 2019. Em receita, o resultado foi de US$ 6,04 bi (2020) e US$ 6,03 bi (2019).

Quanto aos produtos, no 1º semestre de 2020 os inseticidas representaram 36%, os fungicidas 33% e os herbicidas 22%.

Mato Grosso foi o estado que mais demandou defensivos agrícolas no período, representando 28% do total, seguido por São Paulo (13%), Matopiba (12%), Paraná (10%), Goiás e DF (10%), Mato Grosso do Sul (8%), Rio Grande do Sul e Santa Catarina (8%) e Minas Gerais (4%).

Foto e imagens: Sindiveg