Eventos online realizados nas últimas semanas, debateram a redução do uso de antibióticos na produção de aves, prática cada dia mais combatida e questionada, inclusive pelos consumidores que buscam, cada dia mais, informações sobre a origem dos alimentos disponíveis para consumo.
A Biomin, por exemplo, promoveu encontros com autoridades de renome internacional sobre o tema: Dr Juan Lubroth, ex-diretor e coordenador de Resistência Antimicrobiana na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); e Daniel Parker, médico-veterinário do Slate Hall Veterinary Practice, da Inglaterra.
Lubroth, argumentando ser impossível reduzir o uso sem uma ampla abordagem multissetorial, que leve à modificação do manejo e a implantação de boas práticas de higiene para garantir animais saudáveis, afinal “o uso se tornou comum em grandes sistemas de criação, onde as condições de alojamento são propícias para a proliferação de doenças”.
“A integração deve ocorrer em nível global, com países cooperando para a produção sustentável de proteínas animais, monitorando riscos e compartilhando relatórios de vigilância. Também é preciso desenvolver um documento que traga orientações para o uso prudente de antibióticos na alimentação animal”, disse o Lubroth. Capacitação e treinamento para a administração de medicamentos também foram citados como forma de garantir seu uso correto.
O especialista também relata que os incentivos econômicos para o uso de antibióticos também facilitam a prescrição inadequada. Como exemplos de práticas bem-sucedidas, citou a Europa, que retirou os antibióticos promotores de crescimento em 2006, e o programa ESVAC (European Surveillance of Veterinary Consumption), que monitora o uso de medicamentos em toda a região.
Intestino merece atenção especial, ressalta Parker
“Durante esses seis anos, a indústria avícola conseguiu reduzir em 80% o uso de antibióticos críticos e importantes. Em 2017, usamos 7,1% do total de antibióticos licenciados para produção animal; em 2012 essa parcela representava 21%”, aponta Daniel Parker, que recomenda investimento em infraestrutura para que os resultados sejam efetivos, com aplicação correta dos protocolos de biosseguridade, monitoramento de umidade e temperatura, assim como qualidade da cama, itens que resultam em um ambiente menos propício ao aparecimento de doenças.
Essa atenção, segundo ele, é prioritária inclusive devido a muitos patógenos infectarem os animais através do trato gastrointestinal, fazendo com que a saúde e boa integridade dos intestinos sejam uma barreira de proteção. Para melhorar a saúde intestinal das aves, Parker sugere a aplicação de soluções naturais na nutrição, como probióticos, prebióticos, óleos essenciais e ácidos orgânicos.
“As células epiteliais ficam juntas, impedindo a translocação destes microrganismos nocivos do intestino para a corrente sanguínea. Foi comentado que o estresse térmico por calor e a presença de micotoxinas podem levar a alterações no epitélio intestinal. O aumento do calor e micotoxinas como as Fumonisinas podem separar as células do tecido intestinal, deixando o caminho livre para a infecção”, alerta o médico veterinário.
Daniel Parker ainda compartilhou sua visão sobre os sucessos recentes da substituição de antibióticos por soluções naturais e apresentou conceitos práticos usados na indústria avícola, responsáveis pela redução de 80% do uso total de antimicrobianos, comparando o período entre de 2012 a 2018, no Reino Unido.
“O esforço para promover a correta administração das soluções naturais em substituição aos antibióticos vai além do objetivo intermediário de reduzir o uso de antimicrobianos. É sobre a necessidade de ter medicamentos disponíveis que garantam saúde e bem-estar para humanos e animais. Acima de tudo, os esforços visam reduzir a ocorrência de resistência microbiana, que ameaça o arsenal limitado de antibióticos que temos disponíveis para tratar doenças”, analisa o especialista inglês.
Temas atuais
Falando sobre a realização da série Antibiotic Reduction, pela Biomin, Luciano Sá, diretor técnico regional da empresa, lembra que a meta é “fomentar o debate do uso racional de antibióticos com o apoio de profissionais renomados para mostrar que a ciência está engajada em oferecer tecnologia e inovação para animais cada vez mais saudáveis e produtivos.
“Esse é um momento atípico e, mais do que nunca, precisamos continuar difundindo conhecimento para o mercado, com estudos acadêmicos, pesquisas e conteúdo técnico sobre os caminhos da produção animal sustentável e segura”, frisa Sá, informando que a Biomin realizará mais palestras técnicas no formato online, possibilitando aos participantes acesso a temas atuais e de grande importância para as cadeias de proteínas animais.