A adesão à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) por parte dos produtores, de modo geral, tem avançado no Brasil (de acordo com dados da Plataforma ABC publicados no site da Rede ILPF, em 2018, eram 15 milhões de hectares com sistemas integrados de produção agropecuária). No entanto, há ainda grande potencial de crescimento em regiões como o Nordeste, que soma apenas 1,3 milhão de hectares implantados. Para tentar ampliar esses números, alguns projetos vêm sendo realizados e apresentam bons resultados. Uma dessas iniciativas acontece no Estado de Alagoas, na região litorânea, também conhecida como Zona da Mata, em Capela, na Fazenda Bandarra.
De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Florestas, Vanderley Porfírio da Silva, que participou da implantação do projeto, o trabalho iniciou-se em 2016 com a plantação de eucaliptos e pastagens. “Embora os dados ainda estejam sendo apurados, já é possível aferir ganhos de produtividade. Antes a atividade era voltada somente para produtos de origem animal, com a integração, agora já há também a produção de madeira”, destacou.
No caso do ensaio instalado na Fazenda Bandarra, a presença das árvores gera um saldo positivo superior a uma tonelada de carbono, equivalente por hectare e em relação à emissão de metano entérico do rebanho presente nos 78 hectares do ensaio silvipastoril. Ou seja, em termos de sustentabilidade ambiental, é uma produção adequada. “Na mesma área, além da produção de carne também se tem madeira, enquanto que as áreas de pecuária tradicional não têm esse produto para ofertar. Enfim, o ensaio que estamos acompanhando no terceiro ano demonstra potencial da ILPF para a região”, destaca o pesquisador.
Para Alex Magalhães de Lima, engenheiro agrônomo e consultor de pecuária que também participou da implantação na Fazenda Bandarra, a ILPF tem se mostrado como uma opção econômica interessante para os produtores locais. Segundo ele, na região que até então havia predominância da plantação de cana-de-açúcar e, diante da crise, passou a migrar para outras culturas como o eucalipto tradicional e também a pecuária. “Com a integração dos sistemas, o produtor passa a ter mais que uma opção de renda na mesma área, sem contar que uma atividade complementa a outra”, destacou.
Na Fazenda Bandarra, é realizado o sistema de recria e engorda de novilhas que são destinadas ao abate, entram com 7 arrobas e saem com 15 para abate. Segundo Lima, os resultados preliminares na propriedade mostram que com a implantação da ILPF a fazenda atingiu a lotação de 1,6 Unidade Animal (UA) por hectare. O resultado é mais do que o dobro da média da região, que atualmente é de 0,7 UA por hectare. “Aperfeiçoando alguns pontos, podemos chegar a mais de 2 UA por hectare”, afirmou.
A propriedade ocupa uma área de 92,14 hectares (HA), destes, 85,41 HA são de área de pastagens. A lotação atual é de 180 animais, com peso médio de 330kg de peso vivo. O ganho médio diário tem sido de 0,540 kg/cabeça/dia, com a produção de 13,84arrobas/HA/ano no custo médio de 6,5 arrobas/HA/ano.
Potencial – De acordo com Thiago Felipe dos Santos Feitosa, RTV da Soesp (Sementes Oeste Paulista), o interesse dos produtores locais pela integração “ainda é pouca, mas devagar eles vão conhecendo a técnica e essa demanda tende a aumentar. O produtor da região acha que para realizar a ILPF precisa de tecnologia muito avançada, de muito recurso ou alto custo, e isso não é verdade. Com certeza a ILPF é o caminho e uma excelente alternativa a eles”, destaca.
Para Alexandre Tenório de Cerqueira Lobo, um dos proprietários da revenda Diagro, parceira da Soesp em Maceió, há muita oportunidade para a ILPF no Nordeste, principalmente em sua região, pois existe muita terra ociosa, antigas áreas de cana-de-açúcar que poderiam ser usadas e que ajudariam a melhorar a economia do Estado, sendo necessário apenas um estudo na região mais aprofundado para o produtor local ter conhecimento dos benefícios da integração. “Precisamos de pesquisas e dados reais sobre a ILPF para a nossa região, e que esses estudos sejam desenvolvidos para a realidade local. Com a informação teríamos totais condições de ter altas produções de forma sustentável e assim surgiria demanda com a chegada de indústrias”, finaliza Lobo.