Em 2019, o Grupo Montana comemora 25 anos de trabalho pela produção, seleção e melhoramento genético de reprodutores compostos com foco na qualidade da carne e ganho de peso. Os resultados podem ser medidos por mudanças incorporadas no mercado e que estão acessíveis aos produtores de todo o País. Para falar sobre melhoramento genético da raça, GestAgro 360° entrevistou Gabriela Giacomini, gerente de Operações do Composto Montana.
Segundo ela, a formação foi um desafio superado com muito trabalho, pois “tudo começou numa época em que o acesso à informação e à genética não eram fáceis. O Montana já nasceu com avaliação genética calculada, feito que algumas raças até hoje não conseguiram implantar. Hoje temos um ‘gadão’ em mãos. Os objetivos do início do projeto foram atingidos, temos um rebanho ganhador de peso, muito precoce, estável, uniforme, gerador de heterose, melhorador e com carne da melhor qualidade”.
Confira a entrevista!
Como surgiu a ideia do programa?
A ideia do composto remonta ao Clay Center, em Nebraska (EUA). Em várias pesquisas estavam sendo desenvolvidos compostos entre bovinos taurinos britânicos e continentais para aumento de heterose e complementaridade entre raças. A ideia de um composto tropical partiu de uma visita de um grupo de pecuaristas brasileiros aos EUA, quando conheceram o centro de pesquisas, os compostos MARC e a família Leachman. Daí partiram os primeiros delineamentos de como o projeto deveria ser conduzido.
Nesses 25 anos, quanto foi investido em desenvolvimento genético das matrizes?
Difícil saber responder a essa pergunta. Foram 25 anos de investimento no trabalho dos geneticistas, técnicos, compra de sêmen e de touros, softwares, viagens. Sem dúvida, o salto evolutivo que o gado deu nesses anos compensou todo esse investimento.
Que resistências teve de vencer para que o projeto tivesse sucesso?
Primeiro de tudo, a dificuldade de controlar as composições raciais. Quando são apenas 2 raças envolvidas é fácil, mas quando passam a ser “n”, fica bem complicado. Para isso foi criado o sistema NABC, que “encaixa” as diversas raças nos vários grupos raciais: N (zebuínas), A (adaptadas), B (britânicas) e C (continentais). Em seguida era a metodologia para cálculo das avaliações genéticas multirraciais. Quais as raças a serem usadas e quais não dariam certo. Muitas foram bem, outras nem tanto. A escolha dos melhores indivíduos dentro de cada raça. Por fim, o preconceito contra o novo. Mostrar para as pessoas que a tecnologia também servia para a pecuária de corte. Deixar de fazer o que os antigos faziam para buscar uma pecuária mais eficiente e lucrativa.
Como foi essa jornada, em termos de aprendizado?
Foi longa e gratificante. É realmente muito interessante perceber alterações ano após ano e, depois de 25, perceber que ainda é possível avançar e aprender cada vez mais.
Que qualidades definem o sucesso de um empreendedor em um caso como o do Projeto Montana?
Foco, foco, método e coragem. É preciso estar focado e ser metódico para colher as informações, envia-las à USP, receber os dados de volta. Depois é preciso ter coragem para descartar o que tem que ser descartado, por melhor que pareça aos olhos e usar os números e a razão para colher os resultados. É preciso encarar a fazenda como um negócio, nunca um hobby. E em qualquer negócio, o que queremos é lucro.
Qual foi o índice médio de crescimento?
O Montana saiu de 0 a 15.000 matrizes envolvidas no projeto, número atual de fêmeas. Nesses 25 anos de produção, comercializamos mais de 22.000 touros. Atualmente comercializamos cerca de 1000 touros por ano, todos com o CEIP (Certificado Especial de Identificação de Produção), obtido em 2002, o que garante que nosso touros fazem parte de uma elite genética dos melhores 26.5% nascidos na safra. Hoje, as DEPs (Diferenças speradas nas Progênies) de carcaça também são realidade. Todos os anos medimos praticamente todos os animais da safra e a USP – Campus Pirassununga gera as DEPs de área de olho de lombo, espessura de gordura e marmoreio, fundamentais para selecionarmos animais cada vez melhores. Outro destaque são as premiações, como as conquistas de melhor animal, melhor carcaça e carne mais macia no concurso anual promovido para Associação Rural do Uruguai, um dos mercados mais exigentes do mundo.
Qual a meta de crescimento para os próximos anos?
Pretendemos continuar crescendo a cada ano. Temos alguns projetos ainda em planejamento que poderão trazer um crescimento exponencial ao Montana, mas basicamente esperamos um crescimento anual em torno de 5%. Pretendemos avançar nas avaliações de consumo individual, gerando animais cada vez mais eficientes, e também em genômica. Pretendemos expandir o número de selecionadores de touros para aumentar a oferta de animais no mercado. Também queremos aumentar a presença em centrais de inseminação, mostrando que o Montana é uma excelente opção para a IATF (Inseminação Artificial a Tempo Fixo) e pode ser repassado a campo, sem a necessidade de mudar de raça.
Quais os números, hoje do Composto Montana?
São 11 criadores pelo Brasil (nos estados do RS, SP, MS, GO, MG e TO), Uruguai (departamento de Rivera) e Paraguai (Alto Chaco – Agua Dulce). O principal cliente é o criador de gado de corte que usa os touros Montana tanto em vacas Nelore como em cruzadas para produzir bons bezerros para corte. Mais recentemente os pecuaristas estão percebendo que as vacas cruza Montana são excelentes e também estão trabalhando essas vacas com touros Montana, formando rebanho composto. O Montana conta, atualmente, com rebanho de mais de 10 mil matrizes. São cerca de 1.000 touros comercializados ao ano. Desde 1995, já foram vendidos mais de 22 mil touros. Em uma taxa conservadora de prenhez, os reprodutores Montana já geraram por volta de 1.158.000 crias. Além de conduzir as avaliações de carcaça via ultrassom, o Montana é o único projeto no país que exige esta avaliação de 100% da safra.
O Grupo Montana afirma que o projeto já nasceu com avaliação genética calculada, feito que algumas raças até hoje não conseguiram implantar. Como essa avaliação foi feita e por quem?
Essa avaliação foi feita pelos geneticistas da USP/Pirassununga. As informações de campo foram coletadas pelos criadores e pelos técnicos do Montana e processadas pelos geneticistas, que estiveram envolvidos no projeto desde o primeiro dia até hoje.