Manoel Pereira de Queiroz é superintendente de Agronegócio do Banco Alfa, membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP e conselheiro da Associação dos Ex-Alunos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Adealq)
As preocupações começaram no início de fevereiro com as sanções anunciadas a Belarus, terceiro maior exportador de Cloreto de Potássio do mundo e responsável por cerca de 20% das exportações mundiais. Mais recentemente com o início das sanções, a Lituânia impediu que a exportação do fertilizante daquele país fosse feita através dos seus portos, causando um enorme baque na cadeia de suprimentos e acendendo o alerta de que poderia faltar o nutriente para a próxima safra de verão brasileira.
Aí o imponderável aconteceu: a Rússia, segundo maior exportador de cloreto de potássio e de nitrogenados do mundo, além de terceiro maior exportador de adubos fosfatados, invadiu a vizinha Ucrânia e passou também a sofrer sanções internacionais de todos os tipos. A agricultura brasileira, que importa em média 85% do adubo que consome, se viu, de uma hora para outra, exposta a uma enorme ameaça. É possível, até mesmo provável, que não haja adubo para todos. Além disso, é possível que quem não comprou fique sem e que quem já adquiriu e ainda não recebeu, não receba na totalidade. Todos os atores da cadeia do agronegócio, sejam eles grandes indústrias de fertilizantes, revendas, cooperativas ou agricultores passaram a ter que encarar de frente um enorme problema.
É claro que o governo, as associações setoriais, as federações e os sindicatos patronais, além da própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês), estão acompanhando o caso de perto e planejando ações para solucioná-lo. Porém, devemos chamar a atenção para o que cada empresa ou agricultor pode fazer individualmente para mitigar o seu próprio risco. Um administrador responsável não pode ficar somente na mão de soluções institucionais. Crises desta proporção exigem planos de ação bem estruturados, acompanhamento da sua execução e, não menos importante, comunicação com total transparência.
Os planos de ação podem ser, por exemplo, quotas de comercialização por cliente, no caso de empresas de suprimentos; ou planejamento agronômico emergencial, no caso de produtores, que levem à uma diminuição de dosagem com o menor impacto econômico possível, uso de variedades menos exigentes ou até mesmo a diminuição da área de plantio. Os profissionais do nosso agro são muito bons nisso, uma vez que eles reconheçam o problema, não terão dificuldades nesse ponto. Por outro lado, a comunicação e a transparência são igualmente importantes e nem sempre são das melhores.
Apenas para ficar na minha área, bancos e investidores já estão monitorando esses riscos desde os primeiros sinais. Nessas situações, o capital se retrai, a oferta de crédito diminui, os custos dos empréstimos aumentam, assim como a exigência de garantias. Para esses agentes, tão importante como fazer um plano de ação crível e colocá-lo em prática, monitorando cada fase, é mostrar que ele existe, que tem começo, meio e fim e que será efetivo para aliviar os efeitos da crise sobre o seu negócio.
Não subestime o risco da falta de fertilizantes, ele não é trivial. Monte um plano de ação e comunique-o ao mercado com a maior transparência possível, mantendo uma linha de comunicação aberta durante toda a sua execução. Não permita que um problema de suprimento vire um problema de crédito.