Paulo Cesar Ferreira*
Considerando que uma propriedade rural tem similaridade com fábricas onde cada setor tem um supervisor e um papel a cumprir e o conhecimento da sua atividade específica é fundamental para trazer os melhores resultados para o todo; no campo, gradativamente, começa a ser regra a particularização das etapas de produção onde, seus especialistas são treinados para executar com olhar crítico para cada parte do processo de plantio, que grosso modo, sempre foi visto como uma atividade simples. Bastava determinar a área, preparar os equipamentos, definir os operadores e “largar” no campo para plantar.
Mas a ciência, a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico foram gradativamente avançando e hoje já não se pode mais tratar o plantio como um simples ato de jogar semente no solo. Em outras palavras, se nos primórdios da agricultura havia somente a intuição e as mãos para planejar e executar a semeadura, atualmente tem-se um acumulado gigantesco de conhecimento agronômico consolidado e um notável aparato tecnológico à disposição, o que lhe permite a ir muito além.
O resultado da pesquisa e experimentação agronômica, já comprovou o impacto que faz um centímetro a mais ou a menos na posição da semente do solo, permitindo ao agricultor a definição da melhor profundidade, até em função do tipo de solo. E nas máquinas e sistemas, já se tem equipamentos com inteligência artificial e componentes usados pela indústria automobilística para gerar alta performance, capazes de melhorar cada vez mais o espaçamento correto entre sementes em cada linha de plantio considerando, inclusive, situações de curva e áreas de sobreposições. Após tanto avanço, chegou-se a uma realidade que chamamos de encruzilhada ou, no jargão popular, sinuca de bico. O dilema é: para onde iremos agora?
Mesmo que estejamos entrando na era da Agricultura Digital, Big Data, sensores e até de condução autônoma de tratores, a realidade no campo mostra que há uma carência significativa de ter mais Pessoas! O novo cenário vislumbrado agora, pela Geração Agro a partir de anos de experiências dedicados ao Campo, exclusivamente ao plantio, é de que este setor, assim como noutros, carece de gestores capazes de tomar em suas mãos as rédeas do processo de plantio. Assim, este profissional poderá entender o que acontece em todo o ciclo para que, ao final, se dê a cada semente a chance de germinar e se tornar uma planta em condições de expressar seu máximo potencial produtivo.
Por mais intuitivo que seja, deve-se frisar que nenhuma tecnologia é capaz de compensar a perda de potencial produtivo de uma semente mal plantada. Nenhuma máquina, por mais moderna que seja a tecnologia embarcada, assegurará um plantio perfeito se o time não estiver engajado, treinado e entendendo a importância de cada processo do Ciclo do Plantio.
A pergunta que desde já aparece então é, quem cuidaria de supervisionar toda a operação de plantio? De modo algum é possível que seja o produtor/proprietário, dadas todas as suas atribuições. Estando no topo da pirâmide, seu foco é gerir o negócio e analisar indicadores de produtividade e rentabilidade, eventualmente disponibilizando novas ferramentas para melhorá-los.
O segredo então está na posição intermediária da pirâmide, a primeira com alguma autonomia e, claro, chance de reconhecimento e crescimento pessoal e profissional. Trata-se do supervisor de plantio, um profissional cuja presença tem sido cada vez mais necessária dentro do processo e requisitada, conforme demonstra o aumento de demanda da nossa formação deste tipo de profissional.
Ele precisa ser metódico, ter senso de urgência e, sobretudo, de importância. Alguém capaz de assumir a responsabilidade pelo sucesso do plantio, gerando ganhos significativos na hora da colheita. Suas principais funções são o planejamento do plantio e o acompanhamento contínuo e detalhado da operação, fazendo os ajustes necessários para assegurar o resultado esperado: um plantio de excelência.
Por fim, mas não menos importante, resta-lhe ainda missão de conduzir a equipe de plantio, exercendo plena e natural liderança sobre os funcionários da propriedade que compõem a base da pirâmide, os mecânicos e operadores. Cabe inclusive ao Supervisor de Plantio fazer o planejamento e cobrar para que os mecânicos deixem a plantadeira em ordem para os operadores bem antes do dia do plantio.
A partir do momento que este profissional é formado e começa a atuar na propriedade, mesmo que de forma terceirizada, sua figura passa a fazer parte da fazenda e ele exerce um papel central para o sucesso do plantio. Ele se torna um ponto de apoio dos operadores e mecânicos, possibilitando inclusive que formações direcionadas a esses grupos tenham maior aproveitamento graças ao seu acompanhamento.
A base da pirâmide, grupo mais numeroso, é caracterizado por respeito à hierarquia e boa vontade. Contudo, nem sempre conseguem tomar boas decisões diante de imprevistos, por falta de conhecimento. Contratar gente com brilho nos olhos e vontade de acertar é importante, mas não basta. Treiná-los corretamente, na companhia de um Supervisor de Plantio, falando a língua deles, confrontando-os com situações que lhes sejam conhecidas é o caminho.
No final, o bom supervisor terá uma boa equipe. E no momento, mais do que de novas máquinas, é deste conjunto de Pessoas, competências e talentos que o plantio precisa para dar seu próximo salto! É hora de ter alguém focado na qualidade do plantio. Só assim o produtor vai ter o planejamento corretamente executado no qual as sementes estabelecerão uma lavoura bem formada, gerando altas produtividade por hectare e, portanto, mais retorno financeiro ao final da safra.
*Paulo Cesar Ferreira é engenheiro agrônomo, diretor Técnico da Geração Agro
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