Os compradores do agronegócio brasileiro estão cada vez mais atentos aos requisitos socioambientais dos produtos. Isso significa que o setor tem oportunidades de crescer ao comprovar as ações que têm sido feitas para preservar cada aspecto relacionado aos biomas, aos recursos naturais e as comunidades locais e, ao mesmo tempo, restaurar locais onde existe a degradação.
O estudo “Como será o mercado consumidor de carne bovina em 2040?”, divulgado pelo Centro de Inteligência da Carne da Embrapa (CiCarne), em agosto de 2020, indica as mudanças no comportamento dos consumidores de carne nos próximos anos. Nesse sentido, um dos desafios aponta justamente para a tendência de um consumidor cada vez mais exigente e atento às questões como bem-estar animal, adoção de práticas sustentáveis de produção e redução das emissões de gases do efeito estufa.
“Já vemos essa realidade no mercado de frutas mundial. Dos 10 maiores compradores de frutas do Brasil em 2019, 5 eram da Europa; cuja tolerância é zero para qualquer resíduo de defensivos agrícolas”, afirma o engenheiro agrônomo Francisco Beduschi, executivo da NWF – National Wildlife Federation no Brasil. No total, esses países representaram 77% do que foi exportado, ou seja, US$ 616 milhões.
A França é outro exemplo. A Lei Devoir de Vigilance (Dever de Vigilância, tradução livre) responsabiliza as empresas francesas pela compra e comercialização de produtos que causem danos ambientais e sociais. E, ela se aplica às operações dessas empresas na França assim como em outros países, e está servindo de modelo para uma lei semelhante para toda União Europeia.
“Esses são sinais claros que os consumidores querem se sentir bem com o que compram e com o que consomem. Eles querem transparência e rastreabilidade para que possam ter certeza de que o que consomem não tem ligações com práticas prejudiciais que não condizem com os padrões atuais. O consumidor pede mais do que apenas informações genéricas sobre quanto o Brasil preserva, ele quer saber de cada propriedade rural”, ressalta Beduschi.
Neste cenário, a pecuária brasileira, que é bastante competitiva, tem uma grande oportunidade para estabelecer requisitos socioambientais que se tornem exemplos aos outros países e ser reconhecida não apenas pela qualidade da carne e couro bovinos produzidos, mas também pelo tratamento fornecido ao meio ambiente e as pessoas.
Sem dúvida, os produtores já vêm melhorando a produção em ritmo acelerado. Mas, é preciso que a cadeia trabalhe a comunicação para demonstrar os resultados aos consumidores e, com isso, manter e ampliar seu mercado consumidor. Para Beduschi, as ferramentas já existem, como por exemplo, o CAR – Cadastro Ambiental Rural, que é uma grande base de dados sobre as condições ambientais de todas as propriedades rurais. “Agora o CAR precisa ser validado e, se for o caso, os produtores devem fazer os ajustes necessários para que possamos divulgar os resultados”.
Também o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), lembra Beduschi, tem o Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável que, num futuro breve, poderá ser usado para reportar progresso nos diversos elos da cadeia. “A rastreabilidade e a transparência na cadeia produtiva ajudarão a mostrar os bons atores e destacar o grande trabalho que está sendo feito por agricultores e pecuaristas. Só assim a produção do século 21 irá encontrar os consumidores do século 21”, finaliza.