Cristiano Kruk e Aldo Macri*
Enquanto o PIB do estado paranaense caiu 1% no ano passado, o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária cresceu 3,6% no mesmo período. Este crescimento anual não é um fato isolado. Nos últimos cinco anos, o PIB do estado acumula queda de 5%, enquanto o VBP apresenta um aumento de 4,79%, atingindo R$ 93 bilhões no ano passado. Para entender o sucesso do agronegócio paranaense é necessário analisar as cooperativas agroindustriais.
O estado do Paraná se caracteriza pelos seus baixos índices de concentração de terras do Brasil devido à grande quantidade de pequenos e médios produtores rurais, sendo que este é um dos principais elementos para a cultura cooperativista da região. No passado, para negociar melhores condições com fornecedores de insumos, grupos de agricultores se associavam em torno de uma cooperativa, somando esforços em busca de um objetivo comum e melhoria dos aspectos econômicos e sociais de suas famílias e regiões.
De pequenos grupos de agricultores, as cooperativas paranaenses se transformaram, ao longo das décadas, em grandes complexos agroindustriais, liderando a produção de grãos e proteína animal do país. A importância é tanta que 15 das maiores cooperativas paranaenses já fazem parte do seleto ranking das 50 melhores empresas do Brasil, segundo a revista Forbes. No Paraná, as 62 cooperativas agropecuárias representam 78% do VBP do agronegócio e empregam mais de cem mil pessoas, com mais de 2 milhões de associados. Os números são impressionantes sendo que, ao longo da última década, o faturamento das cooperativas agropecuárias triplicou, passando de R$ 21,7 bilhões em 2010, para R$ 72,6 bilhões no ano passado, transformando muitas das pequenas cooperativas regionais em grandes corporações, com todos os desafios inerentes ao crescimento acelerado.
Esse crescimento exponencial cooperativismo agroindustrial não seria possível sem os grandes investimentos realizados nos últimos anos. Em 2018, foram realizados investimentos de cerca R$ 2 bilhões no fortalecimento da agroindústria, com o objetivo de gerar um maior valor agregado na produção, aumento da capacidade de armazenamento, além dos investimentos em logística e infraestrutura. No que se refere ao armazenamento, as cooperativas são responsáveis por 46% da capacidade estática de grãos do estado do Paraná, representando 14 milhões de toneladas.
Além dos investimentos diretos nas operações, as estruturas administrativas também vêm sendo revolucionadas na última década. A implantação de sistemas de processamentos de dados de última geração, em conjunto com a melhoria contínua de controles internos cada vez mais robustos, atua com um sistema de auto-gestão, implantado e monitorado pela Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR). Esta estabelece melhores práticas, bem como orientar as cooperativas do estado para o atingimento das metas estipuladas no Plano Paraná Cooperativo 100 (PRC100), um planejamento estratégico que tem o ambicioso objetivo de fazer com que o cooperativismo no Paraná atinja R$ 100 bilhões de faturamento ainda este ano.
Para garantir o crescimento sustentável, grande parte das cooperativas vem desenvolvendo uma série de programas de capacitação, para que os seus associados tenham os subsídios necessários para atuarem de maneira efetiva na gestão de suas cooperativas. É essencial preparar as novas gerações de associados para ocupar as posições de liderança das cooperativas, que por meio da atuação ativa nos conselhos fiscais, de administração ou nos outros órgãos de governança que a cooperativa possa ter instituído, deverão adquirir a experiência necessária para permitir fluidez no processo de sucessão, garantindo a perpetuidade dos negócios sem perder a essência do cooperativismo.
É desta forma que o cooperativismo continua contribuindo de maneira relevante para a sustentação do crescimento do agronegócio do estado e do país. Com os investimentos realizados nas estruturas operacionais e organizacionais de gestão, certamente, as cooperativas continuarão a manter relevância para esta e muitas outras gerações que estão por vir.
*Cristiano Kruk é sócio-líder de cooperativas na KPMG e *Aldo Macri é sócio-diretor de Clientes e Mercado na Região Sul na KPMG