Brasil produzirá Coenzima Q10 a partir da biofermentação da cana-de-açúcar reduzindo necessidade de importação

Substância com propriedade antioxidante, a coenzima Q10 é fundamental para a produção de energia nas mitocôndrias das células, sem a qual o organismo não consegue funcionar. É produzida naturalmente pelo corpo humano e pode ser obtida também por meio da ingestão de certos alimentos. No entanto, há situações em que se faz necessário a reposição por meio de suplementos. É recomendada para indivíduos que possuem problemas cardíacos, musculares ou que praticam exercícios físicos. A substância é utilizada em medicamentos e suplementos nutricionais.

Pensando em reduzir a importação da Q10 pelo Brasil, a BioGrowth iniciou, em maio deste ano, pesquisa para produção dessa coenzima a partir da cana-de-açúcar, processo que, segundo o diretor de Operações da empresa de biotecnologia, Ivo Rischbieter Junior, há vários processos de extração da coenzima Q10, mas como o Brasil ainda depende de importação, com o desenvolvimento e a produção locais “a tendência é que o preço de medicamentos e suplementos à base da substância se tornem mais baratos e o risco de escassez diminua bastante, já que a cana-de-açúcar é o que não falta no Brasil”.

“Estamos muito confiantes porque a biofermentação bacteriana é um processo que dominamos totalmente. Com esse know-how produziremos coenzima Q10 de alta qualidade para o mercado nacional e até mesmo para exportação ou licenciamento para produção em outros laboratórios”, comenta o executivo da BioGrowth.

Além da pesquisa ser conduzida por uma empresa privada, outra novidade é que seu financiamento não envolve recursos públicos. Todo o dinheiro é proveniente de investidores privados por meio de uma operação de captação comandada pela Hurst Capital. Funciona da seguinte forma: a BioGrowth cedeu royalties de seu estudo por meio de uma operação conhecida como equity crowdfunding, regulamentada pela Resolução 88 da CVM.

Cada investidor interessado pode aportar qualquer valor a partir de R$ 5 mil. A operação terá duração de 43 meses e a rentabilidade prevista é de 29,18% a.a. no cenário base. A projeção mais otimista é de retorno do 44,01% e a mais pessimista 19,92%. Além da rentabilidade, os investidores, dentro do prazo estipulado, serão proprietários do protocolo de produção que está sendo criado. Assim, eles terão direito a tudo o que gerar receita, como o licenciamento para indústrias farmacêuticas do Brasil e do Exterior.

É uma operação que deve mudar paradigmas quando o assunto é financiar trabalhos científicos. Hoje, praticamente toda a pesquisa brasileira é financiada com recursos públicos. O problema é que o Estado sozinho não consegue suprir os trabalhos científicos de empresas, universidades e demais instituições. Em tempos de crise econômica, como o atual, o que se vê é corte de gastos e cientistas brasileiros buscando oportunidades em outros países. “É a primeira vez que adotamos esse modelo para captação de recursos e sei que se trata de uma operação inédita no Brasil. Ela conta com a inteligência de estruturação da Hurst e faz todo sentido para nós”, afirma Ivo Rischbieter Junior.

Segundo Arthur Farache, CEO da Hurst, a parceria com a BioGrowth é apenas o início de um projeto maior. O objetivo é montar um time especializado para originar operações de investimento em pesquisa científica, mitigando principalmente os riscos de mercado. Ou seja, apenas aprovar projetos que tenham viabilidade econômica clara e direta para que o investidor tenha seu dinheiro de volta. Dessa forma o poder público ficará responsável apenas pelo financiamento de projetos de mais longo prazo, geralmente mais ligados à ciência pura.

“Queremos ser a ponte entre o capital e os ativos ligados à ciência, arte e tecnologia. Com essa iniciativa, nós proporcionaremos o financiamento de pesquisas científicas. Temos estudado esse tema há cerca de um ano e percebemos que a ciência no Brasil tem três problemas: o financiamento público não é suficiente e deveria ser direcionado para a ciência pura, enquanto o capital privado (que não há) deveria ser usado para a ciência aplicada; a fuga de cérebros para países em que há recursos disponíveis; e distanciamento entre pesquisa científica e mercado”, explica Farache.

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