Recordes de importação, pesquisas e novos produtos em épocas de déficit no fornecimento de insumos agropecuários

As importações de fertilizantes pelos produtores brasileiros atingiram nível recorde no ano passado, chegando a 41,6 milhões de toneladas entre janeiro e dezembro de 2021. É o que mostra o Boletim Logístico deste mês, divulgado em 28 de janeiro, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Em paralelo a esse cenário, o Brasil vive dificuldades com relação à disponibilidade de insumos e ao preço praticado, reduzindo a rentabilidade do produtor rural, que iniciará a safra 2022-2023 com custos de insumos mais elevados do que os registrados nesta em andamento, com gargalos em ofertas de insumos e matérias-primas decorrentes da pandemia e ainda não equacionados. Nesse contexto, entre as alternativas está a busca de economia na aplicação desses insumos já na safra 2021-2022.

Visando a contribuir para a economia na aplicação dos insumos, em especial dos fertilizantes – que, especificamente, são os que mais estão impactando economicamente esta safra, com formulações chegando a 100% de aumento –, a área de solos, nutrição e sistemas de produção da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), realiza há inúmeras safras pesquisas voltadas à redução da adubação.

Outro estudo que merece destaque foi realizado por Aline Deon, pesquisadora da Proteplan, e apresenta alternativas de combinações de herbicidas para dessecação da soja na colheita.

Além disso, indústrias como Adama, Ihara e Rizobacter, entre outras, chegam ao mercado com novidades.

Redução da adubação requer atenção

Felipe Bertol, mestre em Ciência do Solo e pesquisador de Solos  & Sistemas de Produção da Fundação MT, falando sobre as pesquisas que vem realizando na instituição, diz que, para fazer o balanço ideal da quantidade de fertilizante a ser aplicado visando à possível redução da adubação, “é preciso uma análise de solo e caracterização ambiental muito boa e, a partir daí, temos um mundo a explorar”.

Uma orientação genérica para a decisão de reduzir a adubação, segundo o pesquisador, é a lógica da poupança. “Se na safra passada o produtor fez o manejo da adubação com a perspectiva de produzir mais, mas em razão das condições climáticas ele produziu menos, então nesta safra é possível aproveitar o que não foi exportado ano passado. Mas tem de avaliar qual a dinâmica do nutriente a ser poupado, o papel dele na planta e as características do solo, e estando com sobras, a redução pode ser feita com tranquilidade, como é o caso de nutrientes como fósforo e potássio em solos de fertilidade construída”, explica Felipe.

Por outro lado, se o solo é frágil, com textura mais arenosa, é necessário ser ainda mais criterioso com a redução, mesmo que seja uma área com investimento na adubação em toda safra. “É possível reduzir sim, sobretudo em sistemas produtivos com acidez do solo corrigida, ciclagem de nutrientes através de plantas de cobertura na entressafra e boa cobertura vegetal ao longo do ano. Ou seja, é necessário ser mais criterioso para a redução da adubação, visto a fragilidade do sistema. Isto somente é possível com manejo do sistema bem feito, histórico de cultivos e amostragem de solo de qualidade”, destaca Bertol. Em todo o País, inclusive em Mato Grosso, a maioria das regiões agrícolas apresentam solos mistos a arenosos, muito comum em regiões de baixadas, próximos a rios e matas (vide gráfico).

“Se a poupança da adubação existe no solo, feita em safras anteriores quando os preços dos fertilizantes eram relativamente mais baixos, o agricultor também pode optar por reduzir a zero a adubação nas próximas safras, ou ainda fazer a manutenção apenas do que é exportado pela cultura em cada ciclo. No entanto, o pesquisador orienta que o monitoramento dos teores no solo e na planta é essencial, sendo essa uma opção e não uma prática contínua”, reforça o pesquisador, acrescentando que “o impacto na produtividade pode acontecer futuramente, caso o agricultor não invista no momento certo para elevar os nutrientes novamente”.

“Num ano como esse, em solos argilosos de alto teto produtivo, se o agricultor tem o histórico, se fez tudo certo, manteve os nutrientes em níveis altos, então possivelmente ele pode trabalhar com redução da adubação, sem impactar na produtividade, vai ter retorno econômico igual ao que já teve, perante a resposta da redução, claro. Mas, deve-se monitorar , não pode normalizar essa situação. E, futuramente, quando a situação econômica estabilizar, deve-se voltar a reinvestir na poupança”, esclarece Bertol, alertando que “para o agricultor ter clareza se reduz ou tira a adubação, a conta deve ser feita a partir dos níveis de fertilidade do solo”.

“Os níveis baixos, médios, altos e muito altos no solo determinam acurva de resposta e probabilidade de retorno. Um solo que apresenta nível baixo de fertilidade indica que a disponibilidade de nutriente para a planta é baixa, logo se ocorrer o aporte de nutriente via fertilização a probabilidade de resposta produtiva é alta”, explica. Já em solos com média e alta fertilidade, a probabilidade de resposta é menor, sendo a probabilidade de resposta baixa ou quase nula, respectivamente.

Herbicidas para a soja

Outra alternativa encontrada envolve combinações de herbicidas para dessecação da soja na colheita. Neste caso, tipo de produto, dosagem e época de aplicação podem interferir no resultado, com tratamentos bem feitos na cultura da soja garantindo eficácia dos produtos e boas produtividades. O contrário disso pode pesar no bolso do produtor. Pesquisas mostram que alguns tratamentos dão diferença de dois a cinco sacos de soja por hectare entre uma lavoura bem tratada e outra não.

De acordo com Aline Deon, pesquisadora da Proteplan, existem muitas alternativas de combinações de herbicidas para a sojicultura e para esta fase da cultura, que é da colheita, é importante considerar o tipo, a dosagem e como será a aplicação.

“As decisões sobre as ferramentas que serão usadas têm que ser bem pensadas, e planejadas com segurança. Um passo errado pode trazer danos e prejuízos. Nesta safra o produtor ainda está tendo que lidar com falta de produtos no mercado. Uma das saídas é fazer combinações de herbicidas, garantir o controle e manejo dos fatores restritivos de produção”, explicou a pesquisadora.

Na safra atual, Deon conduziu três ensaios nos municípios mato-grossenses de Campo Novo do Parecis, Campo Verde e Sorriso, com objetivo de demonstrar ao público alternativas para dessecação pré-colheita da soja, controle de tigueras na cultura e ainda sobre o travamento químico da soja.

“Ter atenção quanto ao herbicida, sua dose e momento de aplicação utilizado para a finalidade de travamento da soja ajuda a reduzir acamamento, travar as hastes principais da planta, estimular a produção de ramos produtivos, ter maior entrega de números de vagens, consequentemente maior número de grãos e assim aumentar produtividade”, reforçou a especialista em herbologia da Proteplan.

As indústrias e suas novidades

Em momento de falta de insumos, Adama inicia produção de novo fungicida; Ihara lança inseticida para soja e milho e herbicida específico para o milho; e o Ministério da Agricultura libera fungicida microbiológico da Rizobacter.

Armero é a novidade da Adama. O produto, que começou a ser produzido no Brasil no final de 2021, “atua no combate às doenças na cultura de soja, protegendo a produtividade das lavouras e garantindo resultados efetivos aos agricultores”, explica Luiz Felipe Gubiani, agrônomo de Desenvolvimento de Mercado da empresa.

A solução tem em sua formulação dois ingredientes ativos, uma combinação de diferentes modos de ação, garantindo proteção à cultura da soja. Conta ainda com tecnologia exclusiva formulação líquida que facilita a operação, promove maior aderência às folhas da soja e traz alta eficácia no combate das doenças da soja.

No programa de manejo com fungicidas, “Armero é recomendado nas primeiras aplicações, garantindo maior proteção e sanidade do baixeiro e, como consequência, melhores resultados de produtividade da lavoura”, comunica Gubiani.

As novidades da Ihara são o Hayate e o Sonda. O Hayate consiste em inseticida para o combate das principais lagartas de difícil controle, que causam grandes prejuízos a produtividade nos cultivos de soja e milho, “protegendo a lavoura por mais tempo e agindo na paralisação imediata da alimentação dessas pragas”, comenta Bruno Lucas, gerente de Marketing Regional da empresa.

Já para o milho, a empresa traz o Sonda, “um herbicida seletivo com ação sistêmica que age com alta eficiência no controle das principais plantas daninhas no milharal como o amendoim-bravo, corda-de-viola, picão-preto e trapoeraba”, garante Lucas, salientando que “por conta de sua tecnologia inovadora, o Sonda pode ser aplicado em doses menores e possui um maior espectro de controle em relação aos herbicidas disponíveis no mercado. Além disso, esta solução apresenta melhor efeito residual e menor lixiviação, o que garante ótimos resultados no combate de folhas largas e total seletividade a cultura do milho”.

Por sua vez, o Rizoderma TSI – um produto com formulação 100% líquida e composto por um fungo chamado Trichoderma afroharzianum, já ativo na embalagem – acelera o tratamento contra doenças no solo e na semente, em diversas culturas, como soja, trigo, arroz e milho. Fruto de pesquisas desenvolvidas durante dez anos pela Rizobacter, este fungicida microbiológico foi aprovado em dezembro pelo Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

”Sua formulação fluída garante uma maior aplicabilidade no tratamento de sementes de uma forma geral, além disso, permite que as células fúngicas sejam mais estáveis e com maior poder fungicida, o que significa maior proteção no campo. Desta maneira, atua mais rápido colonizando a raiz da planta, que terá a produção de metabolitos secundários, entre eles os antibióticos, que vão inibir ou matar outros fungos, além de produzir fito hormônios, que são responsáveis pelo crescimento e metabolismo vegetal”, destaca Lucas Lopes, gerente de produto da linha de Controle Biológico e Tratamento de Sementes e Grãos da Rizobacter.

O produto combina múltiplos mecanismos de ação que “naturalmente previnem e retardam as possibilidades de desenvolvimento e ataque de patógenos”, informa Lopes, explicando: “As biomoléculas produzidas são absorvidas e ativam os mecanismos fisiológicos e bioquímicos de defesa na planta e, assim, dão maior tempo de proteção durante todas as fases de crescimento da cultura. Outro diferencial do Rizoderma é o fungo já estar ativo dentro da embalagem. Uma vez aplicado, já entra em ação e consegue uma maior eficiência e melhores resultados comparados com os produtos em que o fungo está inativo”.

Foto: Ivan Bueno