Congresso Brasileiro de Fertilizantes reúne 4.000 pessoas e debateu temas fundamentais para o setor

O dia 23 de novembro, das 9h às 13h15, reuniu cerca e 4.000 pessoas na edição virtual do Congresso Brasileiro de Fertilizantes, realizado pela ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos e um dos principais eventos do agronegócio brasileiro. Em sua 8º edição, o evento contou a participação da Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, na abertura, e promoveu intenso debate sobre três temas fundamentais para o setor: “Mercado Brasileiro e Mundial de Fertilizantes”, “A Economia no Brasil e as Expectativas para o Agronegócio” e “Logística e Infraestrutura como Desenvolvimento do Agro Brasileiro”. 

Além disso, ainda na cerimônia de abertura, a ANDA lançou o Prêmio “Carlos Florence”, com o objetivo de fomentar a pesquisa científica no setor e contar com uma acervo técnico-científico relevante sobre os principais temas relacionados a esse segmento. A premiação homenageará pesquisas com caráter inovador e está direcionado aos acadêmicos de agronomia na graduação e na pós-graduação. Para se inscrever, é só entrar no site da ANDA: http://anda.org.br/

O GestAgro 360° é apoiador de mídia do evento.

ABERTURA

A Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, anunciou, durante a solenidade de abertura do 8º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, a criação de um Comitê Temático no dia 29 de novembro, para debater os principais temas ligados ao setor de insumos, incluindo a área de fertilizantes, com a participação da inciativa privada e de entidades setoriais, a fim de garantir o fornecimento dos insumos para as próximas safras brasileiras.

De acordo com a Ministra, está prevista uma viagem ainda em dezembro para o Canadá, com o intuito de manter conversas com esse país e com seus fornecedores sobre o tema de fertilizantes. Ela fez um resumo sobre a reunião empresas russas e com o Ministério de Desenvolvimento daquela nação, que asseguraram o cumprimento dos contratos já estabelecidos. “Foi uma conversa alinhada, no qual ressaltaram que o Brasil é um parceiro estratégico”, pontuou Tereza Cristina, que acrescentou que eles iriam também estudar a possibilidade de estudar algum excedente ao país.

Em sua participação no evento da ANDA, a Ministra comentou sobre sua reunião com outras empresas globais, incluindo fornecedor da Bielorrússia, cuja preocupação está nas sanções econômicas que aquele país deverá receber por parte da União Europeia e dos Estados Unidos, gerando dificuldades para suas exportações. Todas essas ações realizadas ou programadas pelo MAPA foram decorrentes de um encontro com o setor de fertilizantes que expôs seus desafios atuais.

Na abertura, Eduardo de Souza Monteiro, Presidente do Conselho de Administração da ANDA, ressaltou a contribuição do setor de fertilizantes para a competitividade, produtividade e sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Ano passado, o segmento alcançou o recorde de 40 milhões de toneladas vendidas, o que representou um crescimento de 12% comparado a 2019, de 36 milhões de toneladas comercializadas. “Consultorias estimam um novo recorde em 2021”, afirmou. 

Ele comentou sobre a alta dependência das importações no setor e, em decorrência desse cenário, o Governo Federal iniciou um debate para a criação de um plano federal de fertilizantes para contribuir com o desenvolvimento ainda maior do segmento. A ANDA tem participado ativamente dessa iniciativa, assim como seus associados, por meio de diversas frentes de trabalho, que sugerem a desoneração da tributação de toda a cadeia de produção, o estímulo de novas tecnologias, do uso consciente de fertilizantes e de uma infraestrutura logística e de armazenamento mais eficientes.

No encerramento, Monteiro, anunciou que o 9º Congresso Brasileiro de Fertilizantes será realizado de forma presencial, em São Paulo, no dia 23 de agosto de 2022.

PAINEL 1 – Mercado Brasileiro e Mundial de Fertilizantes

O primeiro painel “Mercado Brasileiro e Mundial de Fertilizantes” mostrou a importância de se investir em fertilizantes, mesmo diante da alta dos preços. Alzbeta Klein, CEO e diretora geral da International Fertilizer Association (IFA), comentou os três pontos de disrupção que afetou o setor, como os eventos de clima que culminaram em perdas de plantações, como os furacões nos Estados Unidos; o cenário global econômico, com a elevação do preço de energia, e as questões geopolíticas, como sanções para alguns setores e países. Ela analisou ainda que a produção brasileira de fertilizantes permanece abaixo da necessidade do consumo doméstico e, por isso, o país é um dos principais importadores mundiais do setor. 

Já Corrine Ricard, sênior VP e presidente da Mosaic Fertilizantes Brasil, destacou que o agronegócio brasileiro não é apenas um sucesso econômico, mas também na área de sustentabilidade ambiental, ao adotar práticas sustentáveis. A seu ver, os preços dos fertilizantes estão alinhados à demanda, mesmo que eles possam parecer frustrantes aos produtores rurais no curto prazo. Contudo, ela ponderou outros insumos também tiveram aumento em seus preços, afetando igualmente o setor. Além disso, sua companhia conta com um índice pra analisar o aumento dos preços e o aumento dos insumos, o que colabora na compra de nutrientes no momento mais assertivo para um melhor retorno. 

No painel, Carlos Cogo, fundador da Cogo Inteligência em Agronegócio, trouxe como os fertilizantes contribuem para o aumento de produtividade no agro, e mostrou, por meio de uma simulação, que o produtor brasileiro tem mais rentabilidade do que o americano. Era preciso apenas de 6,4 sacas de soja para aquisição do pacote de fertilizantes para 1 hectare nas regiões Sul/Sudeste. Hoje, seriam 13,9 sacas de soja, 2,5 a mais do que está sendo plantado. Mesmo assim, a rentabilidade se manteria. A seu ver, o produtor nacional comprou os fertilizantes em patamar mais baixos para a safra 2021/2022. 

De acordo com a Universidade de Illinois, os Estados Unidos enfrentarão a alta dos preços de fertilizantes, pesticidas e sementes neste momento, em que estão comprando para a safra 2022-2023 e, como consequência, haverá redução expressiva na rentabilidade tanto na soja como no milho. 

Segundo Cogo, as projeções até 2025 indicam que o modal brasileiro passará de rodoviário para hidroferroviário. “Vai trazer muita competitividade, com o custo do frete do Centro-Oeste para os portos do Norte menor, em torno de 40%”, ponderou. 

Kauanna Navarro, jornalista especializada em agronegócios da Argus Media Brasil, ressaltou o fator energético, como as crises na China e na União Europeia, que atingiu diretamente a produção de nitrogenados. Comentou ainda a importância de o país buscar alternativas para aumentar a produção nacional, diminuindo a dependência da importação. Segundo ela, há estudos, por exemplo, na área de cloreto de potássio, com jazidas na bacia Amazônica que poderiam ajudar nesse tema. A seu ver, um risco existente é haver a diminuição da aplicação do uso de fertilizantes, devido aos preços, mas essa prática deixaria o produtor rural exposto ao clima.

PAINEL 2 – A Economia no Brasil e as Expectativas para o Agronegócio

O desequilíbrio entre a oferta e demanda global gerou oportunidades robustas para o agronegócio brasileiro, especialmente na Ásia. Conforme explicou Marcos Jank, coordenador do Centro Insper Agro Global, após a crise da peste suína, a China mudou seu modelo de negócios nesse tipo de produção, o que culminou em aumento no consumo de soja, de carnes e sua entrada no milho. “É provável que o país se consolide como um grande importador global desse grão”, afirmou o especialista, durante o segundo painel do 8º Congresso Brasileiro de Fertilizantes.

Em sua avaliação, o Brasil poderia ter se beneficiado ainda mais. Contudo, a incerteza política foi um fator que impediu um melhor aproveitamento do país diante daquele cenário. Para o próximo ano, esse fator somado à desaceleração das reformas econômicas, a piora na situação fiscal, a instabilidade do dólar e o abaixo crescimento da indústria podem afetar a economia nacional, porém o agronegócio, em sua visão, continuará a crescer, mesmo diante de um cenário possível de menor margem para o produtor rural na próxima safra (2022-2023) devido à alta da inflação, ao cenário internacional bastante afetado com a crise energética, e ao aumento dos preços dos insumos.

Diante desse panorama, Marcello Brito, Presidente do Conselho Diretor da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, observou que os grandes produtores estão melhor preparados para as adversidades, enquanto os pequenos e médios produtores não possuem caixa suficiente, além das culturas de longo prazo, mais perenes, que precisam decidir hoje sem a garantia de como os preços serão negociados daqui a dois ou três anos. Ele considerou ainda que é preciso que a indústria cresça e não apenas o agronegócio. “Não há condição de nosso setor manter o mesmo nível de expansão, com os demais definhando. Daqui a pouco, o muro subirá e o agro não conseguirá pular”, disse Brito, que trouxe o exemplo da Malásia, cuja a produção de palma gera um retorno de R$ 16.500,00 por hectare, enquanto a soja brasileira, de R$ 5.000,00 por hectare. “Temos uma grande oportunidade”, pontuou. 

O segundo painel contou ainda com a participação de Guilherme Bastos Filho, Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que tratou dos esforços do MAPA para destravar e modernizar as ferramentas financeiras rurais, por meio de ajustes legais que possam incrementar as finanças privadas do agro, ampliar os conceitos da CPR e a possibilidade de trabalhar com outros setores vinculados à área. Ele destacou ainda a estimativa de R$ 1,3 bilhão para o seguro rural, que é fundamental para fornecer sustentabilidade econômica, e a expectativa positiva quanto ao Fiagro.

Já Gustavo Zaitune, vice-presidente de Product Costumers & Supply Chain da Yara Fertilizantes Brasil, que salientou algumas oportunidades de mercado, com as soluções digitais o mercado de carbono. Para ele, o futuro do setor passa por momentos disruptivos, que elevam a rentabilidade do produtor rural e contribuem para o volume cada vez maior do consumo de fertilizantes. Outro ponto trazido por ele foi a importância das boas práticas e regras de compliance e a proteção do planeta de forma responsável, ao mesmo tempo, em que há o fornecimento de alimentos para o mundo. 

PAINEL 3 – Logística e Infraestrutura como Desenvolvimento do Agro Brasileiro

No terceiro painel “Logística e Infraestrutura como Desenvolvimento do Agro Brasileiro” do Congresso Brasileiro de Fertilizantes, Lieven Cooreman, CEO da EuroChem Fertilizantes Tocantins, trouxe dados sobre a importância de ampliar a infraestrutura, especialmente, o modal ferroviário; e analisou que é preciso melhorar a logística para escoamento de grãos a um preço competitivo. Ele ressaltou que o Brasil é o país que mais irá receber investimentos de sua companhia, em relação às outras nações onde a empresa atua, o que demonstra que, mesmo diante de todas as dificuldades, o setor de fertilizantes acredita no potencial nacional.

O ex-Ministro Roberto Rodrigues, coordenador do FGVAgro, ponderou que a insegurança jurídica e a paralisação das reformas estruturantes afetam a vinda de investimentos estrangeiros no país bem como a falta de uma política de renda no campo dificultam um avanço ainda maior do agro nacional. A seu ver, é preciso realizar uma diplomacia de resultados, sendo uma das ações, a realização de grandes acordos com nações, como a Índia e a Indonésia, que possuem potencial de crescimento devido ao suas populações. Por fim, ele disse que o plano nacional de fertilizantes é um projeto de longo prazo e que a estratégia logística para fertilizantes precisa ser prioritária.

Em sua participação, José Velloso, presidente executivo da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, destacou a conectividade para o agronegócio elevar sua produtividade. Segundo ele, qualquer máquina está ligada às grandes redes, trabalhando em nuvem. “As ferramentas da indústria 4.0 aplicadas aos equipamentos melhoram a produtividade do uso de fertilizantes e a própria produção agrícola. Por isso, é preciso investir na conectividade”, explicou Velloso, que acrescentou que apenas 14% das propriedades rurais estão conectadas. Ele falou ainda que o Ministério da Infraestrutura vem trabalhando de forma correta, mas ainda o Brasil está muito aquém do necessário.