Da roça para a mesa: a cadeia brasileira de orgânicos inova e cumpre padrões de segurança alimentar

Os produtos são saudáveis, o mercado só cresce, a produção não agride ao meio ambiente e os preços não são necessariamente altos. Os alimentos orgânicos vêm ganhando bastante importância em qualquer perspectiva que se analise. Caiu no gosto e nos hábitos de consumo de muitos brasileiros. O mercado nacional de orgânicos movimentou cerca de R$4,5 bilhões no país, em 2020, segundo levantamento da Euromonitor. O número de unidades de produção cadastradas no MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também cresceu 5,4% no ano passado, chegando a 22.427 unidades.

A cadeia dos alimentos orgânicos carrega muita inovação para cumprir padrões ambientalmente responsáveis e de segurança alimentar. Essa evolução valeu a constituição da CSA – Comunidade que Sustenta a Agricultura, balizado no trabalho conjunto entre produtores e consumidores, sendo que os membros da comunidade se comprometem a cobrir o orçamento do plantio por um determinado período de tempo, o que permite que o produtor não fique exposto às pressões do mercado e possa programar melhor sua produção, evitando desperdícios no campo. Na outra ponta, para o consumidor final, muitas redes de supermercados há tempos adotam a seção “Orgânicos” nas gôndolas.

Os resultados que vêm sendo obtidos e a musculatura conquistada no dia a dia viabilizaram a presença desse setor na Anufood Brazil 2022 – Feira Internacional Exclusiva para o Setor de Alimentos e Bebidas, que acontece entre os dias 12 e 14 de abril, no São Paulo Expo. Pela primeira vez, o evento terá um espaço dedicado aos alimentos livre de agrotóxicos: o “Orgânicos em Movimento”, iniciativa coordenada pela Organis – Associação de Promoção dos Orgânicos.

Segundo Michael Fine, gerente da Anufood Brazil, “o espaço vai facilitar o encontro entre aqueles que produzem, os lojistas que buscam produtos diferenciados, os operadores de food service e o público em geral interessado nas novidades do mundo dos alimentos e bebidas saudáveis.”

Para o diretor executivo da Organis, Cobi Cruz, o objetivo da entidade é ampliar o relacionamento com toda a cadeia produtiva do setor, ou seja, gerar mais engajamento e também contribuir com o aumento no consumo de produtos orgânicos.

O executivo alerta que é preciso desmistificar a ideia de que todo alimento orgânico é caro. “A indústria reconhece e busca formas de aumentar sua participação junto aos consumidores. Na prática, é necessário investir em novos processos de produção para que o orgânico ganhe escala, diversidade e se torne cada vez mais acessível à população”.

Exemplos de sucesso

E boas práticas vêm sendo adotadas por produtores rurais como resultado do CSA, proporcionam resultados como os obtidos por Rafael Coimbra, que montou um modelo de gestão bastante diferenciado para o cultivo de orgânicos.

De sua fazenda em Santa Cruz da Conceição (SP), no interior de São Paulo, há a produção do que ele chama de “demanda programada”. O que começou como uma pequena horta apenas para as necessidades da família, em 2015, hoje a Sta. Julieta Bio distribui semanalmente mais de 200 cestas com verduras, legumes, raízes ou tubérculos, ervas para chá, temperos e frutas variadas, além de fornecer orgânicos para 20 restaurantes e três indústrias.

São 130 produtos absolutamente sem nenhum agrotóxico, cultivados ao longo do ano. “A demanda programada é justamente um modelo em que não tem de cumprir os padrões do mercado. Assim, se não é época de berinjela, por exemplo, na cesta que fornecemos irá outro tipo de legume condizente com o seu período de colheita”, explica Coimbra, comemorando o fato de que desse modo, além de essa variedade ser “um diferencial enorme”, também possibilita “a rotação de culturas, permitindo trabalhar melhor os micronutrientes do solo e ainda diminuir o consumo de adubo orgânico externo. A gente preza a biodiversidade, nosso bioma é a Mata Atlântica e assim propomos comer o que a Natureza está trazendo e provendo”, complementa.

Outro exemplo, na parte do varejo, está o Supermago, com cinco unidades localizadas na zona Norte de Porto Alegre (RS). A empresa iniciou a comercialização de alimentos orgânicos em 2014 com produtos como café, açúcar, achocolatado, entre outros. Hoje o Supermago vende desde hortifrútis até itens de mercearia, com crescimento constante ao longo desses anos, segundo a diretora Patrícia Machado.

Atualmente, a rede possui 15 fornecedores de orgânicos, o que inclui também produtos veganos. Quanto aos planos de expansão, Patrícia adianta que a ampliação caminha junto com a demanda e necessidade dos clientes. “Hoje, em nossa cidade, já somos referência nesta linha de produtos nas lojas Jardim Planalto e Central Parque”, afirmou a diretora da rede de supermercados.

A evolução do setor no Brasil

O diretor executivo da Organis conta sua trajetória no mercado de orgânicos. “Em 2018, percebemos um movimento importante no país, com muitos brasileiros participando de feiras do setor de orgânicos aqui e fora para trazer estas experiências para seus negócios, o queisso impulsionou o mercado nacional e, já em 2020, houve um crescimento de 30% no faturamento.

“Ainda temos uma lacuna enorme, se comparado ao faturamento global, que representa cerca de U$ 120 bilhões, sendo que somente os Estados Unidos detém a metade desse faturamento, seguido por Alemanha e França, segundo dado da IFOAM/FbIL. No mercado americano esse setor já está bem organizado, com redes supermercadistas e grandes varejistas de orgânicos”, afirma.

Cobi Cruz ressalta que em quatro anos o mercado de orgânicos no Brasil praticamente dobrou. Mesmo com todos os desafios, o país continua sendo o celeiro do mundo e ainda há muito espaço para crescer. “O trabalho realizado pela Embrapa e outras iniciativas ligadas ao agronegócio e à agroecologia, agricultura familiar, por exemplo, confirmam o potencial que o país tem nesse amplo mercado de orgânicos”.

Foto: Daniel Ferreira