ESPECIAL – Empresas e instituições apoiam protagonismo das mulheres do agro

O protagonismo feminino vem sendo exaltado em muitos segmentos da economia, e no agronegócio isso não é diferente. Claro que pensando em mulheres em cargos de liderança nas empresas da cadeia do agro, para aqueles que não vivem o dia a dia do setor, é facilmente entendido. No entanto, quando o tema é a mulher no comando de propriedades agropecuárias, ainda há estranheza por parte inclusive das mulheres da cidade grande.

As empresas da cadeia do agronegócio e as cooperativas têm papel importante nesse reconhecimento e, principalmente, na divulgação de ações e de mulheres que se destacam nesse cenário, da mesma forma que muitas instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu 15 de outubro como Dia Internacional das Mulheres Rurais em reconhecimento pelo importante papel da mulher no meio rural.

Brandt e Gavilon do Brasil estão entre as fabricantes de insumos que apoiam o protagonismo feminino no agro. No ramo de cooperativas, a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo, por meio do Núcleo Jovem Coplacana, divulga membros femininos da nova geração do setor que mantém legado familiar no agronegócio.

A Brandt – empresa norte-americana, especialista em fisiologia, nutrição vegetal e tecnologia da aplicação, presente em mais de 65 países e com forte atuação no Brasil – tem participado do crescimento feminino no campo e trabalha para que produtores e produtoras tenham em mãos tecnologias que respeitem os investimentos para garantir a nutrição vegetal eficaz e entregar resultados mais produtivos.

Os números não deixam dúvidas de que o cenário no campo está mudando e se tornando gradativamente mais feminino. Pesquisa realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as mulheres conduzem cerca de 20% das propriedades rurais no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social no campo.

Essa pesquisa do MAPA e IBGE identificou 947 mil mulheres à frente dos negócios no campo. A maioria está no Nordeste (57%), seguida pelo Sudeste (14%), Norte (12%), Sul (11%) e Centro-Oeste, que concentra (6%) do universo de mulheres dirigentes. Do total geral de propriedades identificadas pela pesquisa (5,07 milhões), as mulheres são proprietárias de 19% e administram cerca de 30 milhões de hectares no Brasil, o que corresponde a 8,5% da área total ocupada.

Ocupando espaços

Entre o público feminino atendido pela Brandt está Carla Rossato, produtora paranaense, responsável por duas propriedades no Paraná, sendo uma no município de Sertaneja e outra em Santa Mariana, avalia que grande parte dos avanços nas áreas de gestão e manejo ocorreram devido à participação de mais mulheres no agronegócio. “Nas últimas décadas, a mulher conquistou um grande espaço em todos os setores da economia, e isso não foi diferente no agronegócio. As mulheres do campo já há alguns anos deixaram de ser as filhas e esposas dos proprietários de terra para se tornarem produtoras, engenheiras, agrônomas e técnicas. Ainda há muito espaço para melhorarmos, mas demos um passo muito importante”, afirma Rossato, que atua há 15 anos na administração das fazendas e ressalta que, para o bom andamento dos negócios, homens e mulheres devem estar alinhados.

Já para a produtora rural Anna Paula Nunes que administra uma fazenda em Boa Esperança do Sul, interior de São Paulo, “a tendência é o crescimento do agronegócio e ainda que seja um setor usualmente ocupado pela figura masculina, a mulher tem se especializado, implementando estratégias para uma gestão focada em relacionamento e em resultados”.

Sônia Bonato, proprietária de uma fazenda em Ipameri, interior de Goiás, exalta a resiliência feminina. “Enxergamos o agronegócio de uma maneira diferente e por sermos mais resilientes, nos destacamos em uma visão empreendedora, voltada para as negociações junto a fornecedores. A presença feminina pode somar na gestão do campo”.

A formação de uma rede de apoio às mulheres que querem ingressar no agronegócio é sugerida por Carla Rossato, ao afirmar: “Hoje em dia o caminho é mais fácil, a mulher tem mais suporte, e precisamos nos unir ainda mais para eliminar resistências à presença feminina. À medida em que mais mulheres ingressem no agronegócio, mais intensificado será esse movimento e melhores as chances de quebra de barreiras”.

Maior participação feminina à frente das instituições que regulam o setor é cobrada por Sônia Bonato, pois “é preciso ter mais mulheres em postos de comando, tomando decisões em sindicatos e órgãos do governo. Precisamos de mais mulheres que nos representem, por exemplo, para igualdade de crédito e ampliação do acesso à assistência técnica. Temos muitos desafios, mas já conseguimos demonstrar quanto a presença feminina agrega à agricultura brasileira”.

Segundo essas produtoras esse é o caminho para também atender a Campanha Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos, focada em dar visibilidade às mulheres que vivem e trabalham em um contexto de desigualdades estruturais e desafios sociais, econômicos e ambientais, instituída em parceria, em 2015, pelo Ministério da Agricultura e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), e se alinhar à Agenda 2030 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que cita no documento a importância de se investir mais no acesso da mulher rural à propriedade da terra e os efeitos negativos ao não cumprimento desses direitos, considerando o importante papel da mulher na agricultura familiar no Brasil.

Parcerias femininas

A Gavilon – como garante Luis Simões, gerente Regional dessa trading de commodities do grupo japonês Marubeni – “está cada vez mais focada na inclusão de ações práticas para aumentar a participação das mulheres em todos os níveis hierárquicos dentro da companhia. Para a Gavilon do Brasil, a presença feminina no campo tem um papel de extrema contribuição para o setor e considera fundamental reforçar o trabalho das mulheres no segmento, estimulando o crescimento dos negócios nas regiões em que atua”.

Fundamentando sua posição, cita a 8ª Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor Rural, divulgada no fim de maio, desse ano, que constata que a força feminina representa, hoje, 26% dos cargos de decisão e comando das propriedades rurais. Para 94% dos produtores consultados, a mulher é vital ou muito importante no negócio rural.

“Trabalho com Agro há mais de 15 anos, sendo que na Gavilon estou há 4 anos atuando na originação de grãos. É gratificante trabalhar em uma empresa que valoriza as mulheres em todos os setores e está sempre inovando e dando oportunidades de crescimento. Hoje é possível observar que as mulheres tanto na administração de propriedades rurais, como nas cooperativas, cerealistas e tradings estão mais presentes nos papeis de liderança”, afirma Adriana Vidotti, Trader da Gavilon.

Simões também fala sobre as ações da empresa junto às profissionais de seu quadro de colaboradores, promovendo o desenvolvimento interno de mulheres, e o estímulo a parcerias com fazendas, como a Esplanada do Sol tem uma história de superação que levou ao sucesso nos negócios da família, com a liderança feminina. “Combinando conhecimento local, inteligência de mercado e rede de distribuição global, a Gavilon reforça a importância da parceria com as produtoras locais no gerenciamento das commodities agrícolas. A companhia acredita que dessa forma cria valor no mercado de exportações no País e fortalece um de seus pilares, que é contribuir com o desenvolvimento das regiões em que atua”, garante ele.

“Quase sempre as mulheres têm uma jornada dupla, são mães e muitas vezes administradoras do lar. E ainda, estão lutando por igualdade com os homens neste setor. Apesar de estarmos em um momento tão moderno, ainda há muito domínio masculino no agronegócio. Por isso, parcerias como a da Gavilon contribuem para que, nós mulheres, tenhamos mais espaço neste mercado desafiador”, afirma Clarice Bee, Sócia Proprietária da Esplanada do Sol.

Mulheres e o legado familiar

Primeira cooperativa de plantadores de cana a ser fundada no Estado em 1948, a Coplacana entende que o agronegócio vive um novo momento, mais jovem e inclusivo, como mostrado também no Censo Agropecuário do IBGE de 2017 ao identificar que 947 mil mulheres estão no comando de propriedades rurais no Brasil.

Valentina Casonatto e Bruna Scotton fazem parte da nova geração do agronegócio, com jovens que cresceram no campo e após formados se voltaram às atividades agrícolas entusiasmados por inovação e tecnologia. No caso das jovens, filhas e netas de cooperados da Coplacana, de Piracicaba (SP), ambas relatam os desafios de ser uma profissional feminina dentro e fora da porteira e como o Núcleo Jovem Coplacana, iniciativa da cooperativa, vem auxiliando no processo de continuidade familiar e troca de experiências sobre o agronegócio.

Aos 21 anos, Valentina Casonatto faz parte da terceira geração de produtores rurais que trabalham na cooperativa. Seu avô foi cooperado e junto do irmão decidiu dar início ao plantio de cereais, exclusivos para subsistência, como arroz, milho e feijão. Com o tempo, os dois passaram a se dedicar à cultura de cana-de-açúcar, que seria o começo do legado da família Casonatto.

Com o agro fazendo parte de seu dia a dia, essa jovem se interessou pelo setor e decidiu cursar engenharia agronômica para que pudesse manter a tradição da família. “O Núcleo está sendo um canal essencial e o que está mais próximo a mim no momento. Eu sei que o projeto vai me ajudar tanto no caminho para uma possível sucessão, quanto no mercado de trabalho ou na propriedade da minha família”, diz Valentina.

Assim como seu pai, a jovem passou a dominar a cultura de cana-de-açúcar e considera incrível a capacidade da planta de renovação, nascer, brotar e se desenvolver: “Eu acho isso muito bonito na cana, e por ser da minha região, estar no meu convívio e da minha família, são fatores que influenciaram minha escolha”.

Bruna Scotton, membro do Núcleo Jovem Coplacana, assim como Valentina, nasceu no sítio e quando pequena assistia seu pai trabalhando com gado de corte que mantinham na propriedade. Em seguida, o pai da jovem passou a mexer apenas com cana-de-açúcar, cultura que estaria muito presente no futuro da engenheira agronômica, que hoje trabalha na Raízen, empresa integrada de energia com presença nos setores de produção de açúcar e etanol

Apesar da resistência de seu pai, que pensava que o trabalho no campo não era para mulheres ou que não dava retorno financeiro, ela se encantou ainda mais pela profissão no ensino médio quando realizou uma visita à EsalqTEC.

“Eu acho que mulheres no agro são um orgulho. A gente vê muitas influencers, muitas mulheres que sentem orgulho e isso impulsiona as outras”, conta Bruna.

Atividades no campo como aragem da terra, plantio, irrigação, colheita e todas as outras etapas até que o alimento chegue à mesa, automaticamente são associadas a homens, por serem serviços braçais, entretanto, inclusive nessas áreas, mulheres vêm ganhando protagonismo.

“Posições que antes eram totalmente masculinas, como operadora de colhedora, estão com maior atuação de mulheres. Elas são mais cuidadosas com o equipamento, deixam mais limpo e tem o medo de não quebrar o equipamento”, relata a jovem.

De acordo com a agrônoma, até mesmo as empresas passaram a mudar seus conceitos para ter mais equidade de gênero dentro das instituições. “Por mais que ainda tenha machismo, eu sinto que a gente está indo pelo caminho certo. Começamos a trilhar essa trajetória para equidade e isso me deixa muito feliz”, celebra Bruna.