IB-APTA anuncia biotecnologia para controle de nematoides de galhas e cisto da soja

Iniciado em 2013, quando a canadense Lallemand Plant Care procurou o Instituto Biológico (IB-APTA), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, para selecionar cepas de sua coleção de Trichoderma – que possui mais de 120 isolados, ou seja, linhagens de Trichoderma coletadas em diferentes biomas paulistas -, o desenvolvimento de biotecnologia voltada a controle de nematoides de galhas e cisto da soja resultou em sucesso e, segundo comunicado das partes envolvidas, os royalties resultantes do produto serão aplicados em novas pesquisas agropecuárias.

O novo bionematicida chamado Lalnix Resist tem o Trichoderma como base e seu lançamento está previsto para este ano. Os nematoides são vermes fitoparasitas de solo que podem reduzir em até 20% do potencial produtivo da cultura. “O uso de Trichoderma é uma alternativa natural para combater os nematoides, já que os produtos químicos não conseguem ter alta eficiência nesse combate. Como os nematoides são vermes de solo, o controle é dificultado”, explica Ricardo Harakava, pesquisador do IB.


“Este é o primeiro licenciamento realizado pelo Instituto Biológico de forma exclusiva, com o amparo legal da Lei de Inovação e Decreto paulista. Foi um grande aprendizado para os pesquisadores envolvidos, empresa, NIT e fundação de apoio. O licenciamento garantirá o ganho de royalties para a Instituição que será revertido para novas pesquisas, o que é muito interessante”, salienta a diretora-geral do IB, Ana Eugênia de Carvalho Campos.

“A Lallemand é uma empresa com mais de 100 anos de know-how em microrganismos e sempre primou por parcerias com instituições de pesquisas, como o IB, pois entendemos que elas são fundamentais para a evolução e entrega de inovações para o mercado, para o avanço da ciência e a melhoria contínua dos envolvidos. O LALNIX RESIST, fruto dessa parceria, será uma ferramenta de muito valor para o manejo de nematoides, endossando a importância dos biológicos para uma agricultura responsável”, declara Fernando Urban, CEO da Lallemand Plant Care no Brasil.

O contrato de transferência de tecnologia está fundamentado na nova Lei de Inovação (nº10973/2004) e Decreto Estadual nº 62817/17, tendo sido aprovado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) e assinado pela diretoria-geral do IB, com a interveniência da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag).

“Este é mais um marco para a Fundepag, que apoiou o Instituto Biológico através de sua incubadora de conhecimento, a Conexão.f, na aplicação da recente legislação paulista e brasileira de incentivo à inovação. Desta forma, garantimos que a produção de tecnologias pela ciência seja transferida com eficiência e eficácia para a sociedade, agregando valor ao setor produtivo”, afirma Antonio Alvaro Duarte de Oliveira, diretor-presidente da Fundepag.

“É uma celebração para nos encorajar por tantos outros desafios que temos pela frente. E saibam que o Governo de São Paulo está atento a esses desafios. Dentro de nossas possibilidades e esforço, vamos a cada momento fazer mais investimentos no agro”, afirmou Rodrigo Garcia, vice-governador do Estado, no momento do lançamento, realizado em 27 de julho, mostrando-se desejoso de que “essas decisões nos façam permanecer na vanguarda do investimento em pesquisa”.

Parceria

“Este trabalho se iniciou com a pesquisadora aposentada Cleusa M. M. Lucon, que foi responsável também por coletar esses isolados em 52 locais, com diferentes tipos de vegetação nativa como Mata Atlântica e Cerrado. Ao longo de todos esses anos, realizamos um trabalho em conjunto, até chegarmos neste novo produto”, explica Harakava, atualmente líder do projeto.

O diferencial da coleção de Trichoderma do IB é que os isolados passaram por testes para verificar se de fato promovem controle de doenças e se agem no crescimento das plantas, além de terem sido submetidos à identificação molecular por sequenciamento de DNA.

O que é Trichoderma?

Fungos do gênero Trichoderma apresentam crescimento rápido e podem ser utilizados em diversos tipos de indústria, como a de papel, alimentos, química e farmacêutica e, mais recentemente, na produção agrícola, como soja, cana-de-açúcar, algodão e olerícolas, entre outras. Eles controlam doenças causadas por fungos de solo, que infectam as raízes, a base dos caules e o sistema vascular das plantas, ocasionando podridões e murchas.

O uso do Trichoderma nas lavouras também traz outros benefícios, além do controle de nematoides, associados ao crescimento das plantas e à produtividade, principalmente quando aplicados em solos considerados pobres em nutrientes. Segundo o pesquisador do IB, ao melhorar o desenvolvimento das raízes e a solubilização de minerais, esses fungos acabam propiciando o melhor aproveitamento de água pelas plantas e uma maior absorção de nutrientes.

Os ácidos orgânicos e outros metabólitos produzidos pelo Trichoderma colaboram para a solubilização de fosfatos, micronutrientes e outros minerais como ferro, manganês, cobre e zinco. Além disso, como participam da decomposição de matéria orgânica no solo, aumentam a quantidade de nutrientes que podem ser absorvidos pelas raízes. Algumas linhagens produzem ainda um hormônio de crescimento vegetal.

“Mas é importante lembrar que o efeito de Trichoderma na produtividade varia de acordo com a planta cultivada e a linhagem introduzida, bem como com as práticas culturais adotadas pelo produtor que podem ou não favorecer o crescimento e sobrevivência do fungo no local”, explica Harakava.

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