Rio Doce: mapeamento cria plataforma digital e estudos comprovam recuperação

A Expedição Rio Doce é uma expedição imersiva para mapeamento detalhado dos cursos d’água da região impactada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). O resultado desse mapeamento – um dos maiores já feitos em uma bacia hidrográfica – está disponível em plataforma da Fundação Renova e está incorporado às plataformas do Google Street View, com possibilidade de acesso de qualquer pessoa.

Na plataforma digital está o material captado durante 55 dias por uma equipe do Instituto Renova ao longo de 600 km de percursos fluviais, marítimos, terrestres e aéreos, partindo do rio Gualaxo do Norte, em Mariana (MG), até chegar à foz do rio Doce, em Regência, no Espírito Santo. São 190 mil imagens, minidocumentários e vídeos que registram personagens que têm suas vivências atreladas ao rio. Contabilizando a visita técnica e a descida no rio, foram percorridos de carro cerca de 37 mil quilômetros. Somando todo o material audiovisual, entre fotos e vídeos – captados por câmeras, drones, servidores, computadores, barcos, geradores, baterias, placas solares, ferramentas e suprimentos, além de um hovercraft, um tipo de aerobarco para transporte em superfícies difíceis – foram 134 horas de captação, com 291.500 arquivos registrados na ação

A esse conteúdo somam-se informações relacionadas à qualidade da água produzidas por um dos maiores programas de monitoramento do país, realizado pela desde 2017. O projeto objetiva dar transparência às atuais condições socioambientais do rio e também gerar conhecimento sobre os trabalhos de reparação e compensação realizados pela Fundação Renova ao longo da bacia.

Estudos

Para monitorar, embasar e direcionar os trabalhos de reparação na bacia do rio Doce estudos científicos são fundamentais. Dois deles se destacam pelos resultados, feitos por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ambos indicam que há significativo e progressivo retorno das condições registradas no curso d’água antes do rompimento da barragem de Fundão, assim como a melhoria constante na qualidade do solo, demonstrando que não há impedimentos à sua regeneração nem ao plantio na área afetada pelo rejeito.

Um dos estudos, realizado pelo professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos E. M. Tucci, aponta que o rio Doce está se recuperando. A pesquisa simula uma projeção de dez anos a partir de 2020 com a aplicação de uma técnica de modelagem numérica. Por intermédio de um software, a técnica simula as características do meio ambiente, do curso d’água e da interação do sedimento com o rejeito ao longo dos anos nas porções atingidas da bacia do rio Doce.

De acordo com as análises, em alguns pontos afetados do rio Doce, principalmente a jusante da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), já há uma tendência ao retorno das condições de transporte de sedimentos que ocorriam antes do rompimento. Os estudos concluíram, portanto, que os valores de descarga de sedimentos tendem a se aproximar ou até já se aproximaram dos valores históricos medidos antes do desastre.

A pesquisa também aponta que, ao final dos dez anos simulados, grande parte dos rejeitos tendem a se consolidar ao longo do tempo a partir das ações da reparação da Fundação Renova, de crescimento da vegetação local e da estabilização do fundo dos rios afetados, com a formação da camada mais grosseira (areia, cascalho etc) dos sedimentos naturais.

Já o estudo coordenado pela doutora Maria Catarina Kasuya, especialista em microbiologia do solo e professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV), comprovou que a revegetação emergencial feita logo após o rompimento acelerou o aumento da diversidade de microrganismos no solo, o que possibilita cultivar mudas nativas resistentes a ambientes críticos. A pesquisa embasa a produção de mudas em viveiros na bacia do rio Doce para contribuir com o reflorestamento da bacia. Em Mariana e Barra Longa, viveiristas locais de trechos atingidos já aplicam a técnica em suas unidades de produção, com subsídio da Fundação Renova.

Outra pesquisa, coordenada pelo pós-doutor Carlos Schaefer, especialista em solos da UFV, demonstra que não há limitações para o cultivo de plantas direto no rejeito. Em campo desde 2015, o especialista coletou amostras de solo em 60 pontos, distribuídos entre a barragem de Fundão, em Mariana, e a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, no município de Rio Doce, que possibilitam análises periódicas sobre a toxicidade do solo e a natureza do rejeito depositado.

O estudo comandado pelo professor Sebastião Venâncio, doutor em botânica pela Unicamp e professor titular do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, apontou que o conjunto de ações de restauração florestal ativa e passiva tem possibilitado uma rápida cobertura do rejeito; a melhoria na sua fertilidade e o aumento da diversidade nas áreas atingidas.

Foram plantadas 41 mil mudas de espécies nativas em 41,5 hectares de área impactada. Diferentes experimentos demonstraram uma alta capacidade de regeneração do solo com rejeito, diversidade de plantas cultivadas e um bom desenvolvimento de mudas. A pesquisa também constatou que o rejeito não representa um impedimento para a regeneração natural por não conter substâncias tóxicas.