DESTAQUE – Nobel para o Brasil pode vir pelo agro e pela paz

O diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/Esalq), Prof. Durval Dourado Neto, em 22 de janeiro de 2021, protocolou no Conselho Norueguês do Nobel (The Norwegian Nobel Committee) indicação do ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli para o prêmio Nobel da Paz.

A informação foi ventilada no final de dezembro de 2020 e, em 26 de janeiro, em coletiva de imprensa on-line, foram apresentados os detalhes da indicação, estudos e documentos enviados ao Comitê Norueguês. Além do diretor da Esalq, participaram da coletiva o próprio Paolinelli e o ex-Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), Márcio Lopes de Freitas, e Francisco Matturro, presidente da Agrishow.

O movimento, tendo à frente Roberto Rodrigues, reúne diversas entidades do agronegócio, universidades e profissionais do setor. Até o momento, o movimento recebeu119 cartas de apoio de instituições do Brasil e do exterior, representando 24 países.

Entre os argumentos para a candidatura, destacam-se o papel desempenhado por ele na década de 1960, quando fundou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa), que posteriormente teve novo impulso com a modernização que promoveu quando estava como ministro da Agricultura (1974 a 1979). Também foi eleito deputado federal, integrando a Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988. Em 2006, ganhou o prêmio World Food Prize, equivalente ao Nobel da Alimentação.

Aos 84 anos, Paolinelli soma muitas conquistas e entre as mais relevantes – e que dá sustentação à indicação ao Nobel – está o fato de ter sido um dos principais responsáveis por tornar viável a produção em larga escala de grãos no Cerrado brasileiro, tida como a maior revolução tropical agrícola.

Secretário de Agricultura de Minas Gerais por três vezes, hoje exerce a função de presidente-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e do Instituto Fórum do Futuro. É natural de Bambuí (MG) e formou-se engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras (MG).

Sua atividade, hoje, é totalmente focada na sustentabilidade, via o Instituto Fórum do Futuro, que mobiliza organizações de ciência para a realização do Projeto Biomas Tropicais, sonhando com nova revolução científica e sustentável na agricultura dos trópicos, a favor das pessoas e pela paz.

REDE PAOLINELLI
Para desenvolver o complexo processo da nomeação de Alysson Paolinelli ao prêmio, foi criada uma rede de entidades sob a liderança do ex-ministro Roberto Rodrigues. A iniciativa teve propósito de realizar os estudos sobre a contribuição de Paolinelli e a documentação perante o Comitê Norueguês do Nobel. Roberto Rodrigues destaca o extraordinário engajamento de lideranças e profissionais de destaque da sociedade civil no Brasil e exterior.

Para desenvolver suas ações, a Rede Paolinelli Nobel da Paz 2021 está organizada em grupos gestores:
Conselho Coordenador – É o órgão máximo de gestão, composto pelas instituições que participam da Rede. Coordenado por Roberto Rodrigues, conta com a participação de Agroceres, Abia, Abiove, Abag, Abpa, Abramilho, Aprosoja Brasil, Asbram, Baldan, Bradesco, CNA, Cocamar, Fiesp, Grupo Maubisa, Ibá, Jacto, John Deere, OCB, Sicoob, Sicredi, Sincs, SNA, Syngenta e Unica.

O Comitê Executivo, responsável pela gestão integrada das ações da Rede, é composto por Roberto Rodrigues
(Coordenador); Evaldo Vilela (Academia); Francisco Matturro (ABAG); Jacyr Costa Filho (FIESP); João Martins Filho (CNA), Manuel Otero (IICA); Márcio Lopes de Freitas (OCB); e Mônika Bergamaschi (IBISA).

Há, também, um Comitê Acadêmico, formado por profissionais responsáveis pelo relacionamento com a Academia, no Brasil e no exterior, tendo como coordenado Evaldo Vilela, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

Já o Comitê Internacional, composto por profissionais que atuam junto a entidades no Exterior, é coordenado por Manuel Otero, diretor geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

A Gestão Técnica está a cargo de um grupo de especialistas em economia e política agrícola, desenvolvimento
sustentável, tecnologia e comunicação, com coordenador de Ivan Wedekin (Wedekin Consultores); enquanto a Gestão Administrativa e Financeira é realizada pelo IBISA (Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade do Agronegócio), entidade sem fins lucrativas, que tem Mônika Bergamaschi como presidente executiva.

REVOLUÇÃO AGRÍCOLA TROPICAL SUSTENTÁVEL
Um dos fatos econômico-sociais mais marcantes na segunda metade do século XX foi a inédita revolução agrícola sustentável realizada nos trópicos. Este evento, que aconteceu a partir da década de 1970, no Brasil, mudou o cenário de segurança alimentar no país e no mundo, com a ocupação econômica do Cerrado Brasileiro. Foi uma revolução pacífica e embasada na sustentabilidade, liderada por um engenheiro agrônomo visionário, Alysson Paolinelli. Ele abriu uma nova página para a história da agricultura mundial.

Como professor, Secretário de Estado, Ministro da Agricultura, membro do Congresso Nacional e líder rural, Paolinelli comandou o desenvolvimento de sistemas de produção para os biomas do Cerrado, dando origem à revolução agrícola tropical sustentável. Dedicou-se a esta tarefa a vida inteira e hoje, aos 84 anos, mantém sua cruzada pela segurança alimentar e pelas contribuições que a agricultura tropical pode oferecer para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Principais dimensões – Na década de 1970, o Brasil era importador líquido de alimentos básicos e a revolução agrícola garantiu a autossuficiência alimentar e a redução do peso da alimentação nos gastos de consumo das famílias. O País se transformou no fiel da balança da segurança alimentar mundial, representando hoje 16,2% da exportação mundial de alimentos básicos.

Para impulsionar esse salto agrícola, Paolinelli priorizou a ciência. Estruturou um sistema de pesquisa agropecuária tropical único no mundo, cujo grande destaque foi a EMBRAPA, a maior empresa de tecnologia agropecuária do mundo tropical, hoje com 2.600 pesquisadores e 42 unidades descentralizadas de pesquisa, 26 delas criadas quando ele era Ministro da Agricultura.

Paolinelli também estabeleceu as raízes que a revolução agrícola tropical sustentável precisava para crescer e frutificar. Como Ministro criou instituições, políticas e organizações que viabilizaram a modernização da agricultura tradicional. Uma das principais foi o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO), que formulou políticas agrícolas para a região. Essa e outras iniciativas foram essenciais para institucionalizar a estrutura de governança que impulsiona a expansão da revolução agrícola tropical até hoje.

Alimentos e efeito poupa-terra – Atualmente, os 1.102 municípios situados no bioma Cerrado produzem 46% da safra de soja do país, 49% do milho, 93% do algodão e 25% do café. Na pecuária é responsável por 32% do rebanho de bovinos, 22% dos frangos e 22% dos suínos, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre 1970 e 2020, a produção brasileira de grãos, que era de 39,4 milhões de toneladas, cresceu 6,4 vezes e atingiu 251,9 milhões de toneladas, enquanto a área plantada apenas dobrou, passando de 32,8 para 65,2 milhões de hectares. Foi uma verdadeira revolução agrícola tropical.

Esse aumento da produtividade proporcionou um efeito poupa-terra de 128 milhões de hectares, de 1961 a 2018. Essa seria a área adicional necessária para atingir a produção de cereais e oleaginosas do Brasil em 2018 (230,6 milhões de toneladas), caso não tivessem ocorrido ganhos notáveis de produtividade no período. Como resultado dessa eficiência, o Cerrado brasileiro conserva 54% de área com cobertura vegetal natural, sendo que 35% é protegido por lei e vedado à exploração econômica.

Desenvolvimento humano e energia limpa – O salto produtivo proporcionado pela revolução agrícola tropical sustentável reduziu o custo relativo da alimentação dentro do orçamento familiar e liberou renda para outros consumos, dinamizando a economia brasileira. Também interiorizou do desenvolvimento, gerando empregos, aumento de renda e melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) nas regiões de base agropecuária, com elevação de 73% de 1990 a 2010.

O Ministro Paolinelli ainda participou da criação do Proálcool (1975), o primeiro programa mundial de produção em larga escala de combustível limpo e renovável a partir de biomassa. Hoje, o balanço de emissões neutralizadas pelo programa está na casa dos 200 milhões de toneladas de CO² por ano, com benefícios diretos para a saúde e bem-estar das populações.

Sustentabilidade e paz – Do fomento tecnológico à segurança alimentar, dos saltos de produtividade ao desenvolvimento econômico e melhoria social – todas as conquistas alinharam-se com conceitos de sustentabilidade.

Tanto que 11 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU recebem até hoje impactos positivos do legado da revolução agrícola tropical sustentável de Paolinelli.

Desenvolvimento humano e energia limpa – O salto produtivo proporcionado pela revolução agrícola tropical sustentável reduziu o custo relativo da alimentação dentro do orçamento familiar e liberou renda para outros consumos, dinamizando a economia brasileira. Também interiorizou do desenvolvimento, gerando empregos, aumento de renda e melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) nas regiões de base agropecuária, com elevação de 73% de 1990 a 2010.

O Ministro Paolinelli ainda participou da criação do Proálcool (1975), o primeiro programa mundial de produção em larga escala de combustível limpo e renovável a partir de biomassa. Hoje, o balanço de emissões neutralizadas pelo programa está na casa dos 200 milhões de toneladas de CO² por ano, com benefícios diretos para a saúde e bem-estar das populações.

Sustentabilidade e paz – Do fomento tecnológico à segurança alimentar, dos saltos de produtividade ao desenvolvimento econômico e melhoria social – todas as conquistas alinharam-se com conceitos de sustentabilidade. Tanto que 11 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU recebem até hoje
impactos positivos do legado da revolução agrícola tropical sustentável de Paolinelli.