Cerca de 55 mil pequenos produtores rurais e extrativistas recebem mais de R$ 6 milhões para iniciativas sustentáveis

No ano marcado pela pandemia, foram várias as iniciativas para ajudar empresas e profissionais a manterem seus negócios. Acontece que para muita gente o auxílio não chegou, principalmente quando se fala em cooperativas, associações e pequenos negócios da agricultura familiar sustentável e do extrativismo. Para tentar ajudar esses negócios que geram renda e impacto positivo ao meio ambiente, o Instituto Conexões Sustentáveis – Conexsus ativou uma Linha de Crédito Emergencial em seu Fundo Socioambiental e liberou, até o momento, R$ 6,4 milhões, de um total esperado de R$ 8,9 milhões.

A análise das 226 organizações inscritas na chamada Linha Emergencial do Fundo Conexsus foi finalizada em 31 de Outubro de 2020, somando R$ 18,7 milhões em crédito requerido, e um número estimado de produtores associados de 55 mil. Desse total, 128 organizações não possuíam nenhum acesso a crédito e, de forma geral, se mostraram muito incipientes na gestão administrativa, financeira e comercial de seus empreendimentos.

O Fundo Socioambiental da Conexsus já foi reconhecido pelo Global Innovation Lab for Climate Finance como um instrumento financeiro inovador para acelerar negócios comunitários e florestais. Ele foi instituído com a ajuda de grandes instituições como o Fundo Vale, a Fundação Good Energies, CLUA (Climate and Land Use Alliance), USAID, Instituto GPA e B3. 

Em 2021, deverá ser estruturado um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), que pretende captar R$ 50 milhões para ampliar seu alcance junto a esse público. Ele contará com 40% de cotas subordinadas para investidores institucionais, que assumem as perdas inicialmente em caso de inadimplência, e 60% de cotas seniores, que terão preferência de recebimento, mas com uma taxa fixa. A expectativa da Conexsus é que a inadimplência fique apenas entre 5 e 10%. 

Do total de pedidos de empréstimo, 178 organizações foram consideradas aptas para submeter um projeto de crédito, mas somente 125 projetos foram recebidos. Até o dia 18 de dezembro (último dia antes do recesso de fim de ano), todos os projetos de crédito que foram concluídos com o apoio da equipe de análise de crédito da Conexsus foram devidamente analisados e submetidos ao Comitê de Crédito do Fundo.

Foram aprovados até o momento 82 projetos, totalizando R$ 6,4 milhões desembolsados. Uma iniciativa que beneficiou mais de 55 mil pequenos produtores rurais e extrativistas que atuam em mais de 30 mil hectares. “Estamos falando de grupos que não atendem aos requisitos dos bancos porque não têm histórico de crédito, então não conseguem acessar o Pronaf, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, por exemplo, que é uma política pública, com juros baixos. Nosso objetivo era criar condições para habilitá-las a acessar futuramente esse crédito”, explica Rafael Ribeiro, Coordenador de Finanças de Impacto do Conexsus. 

Dos projetos aprovados, 24 eram de organizações na Amazônia, que receberam R$ 2,308 milhões. Na região norte, as principais cadeias beneficiadas foram as do açaí e da castanha do Pará. No Cerrado, predominaram as cadeias de polpas das frutas típicas da região e dos hortifrútis que alimentam os brasileiros diariamente. Tiveram ainda destaque cadeias como a do mel e do baru em outros biomas do Brasil. 

Para se candidatar ao auxílio, era necessário cumprir quatro requisitos iniciais: ser uma associação ou cooperativa rural ou florestal, ter mais de 20 associados, CNPJ ativo, e faturamento em 2019. Depois disso, foram priorizadas as que mantêm modos de produção sustentável e que demonstraram capacidade de pagamento do financiamento. O principal diferencial da oferta de crédito da Conexsus, de acordo com a instituição, é que ela vem casada com uma assessoria administrativa e financeira. “A gente quer proporcionar uma boa experiência de crédito às associações e cooperativas. Isso facilita que elas tenham autonomia no relacionamento com o mercado e no acesso ao crédito rural subsidiado”, afirma o coordenador. 

Ele acrescenta que, para isso, também são adotadas estratégias de reorganização da estrutura produtiva, diversificando táticas comerciais e alcançando, consequentemente, mais perenidade e geração de renda. Na Linha de Crédito Emergencial da Conexsus, os beneficiados têm até dois anos para pagar o empréstimo, até um ano de carência e taxa de juros de 6% aa, mais baixa que qualquer banco ofereceria para esse tipo de organização. 

“Não é de hoje que o meio ambiente sofre no Brasil. Mas se o ano foi difícil para grandes empresas, é possível imaginar o que associações e cooperativas que trabalham com cadeias que protegem o meio ambiente e ficaram de fora de políticas assistenciais enfrentaram. Sabemos que no ano que vem ainda sentiremos os efeitos da pandemia, por isso, ficamos felizes em poder suprir deficiências momentâneas de fluxo de caixa que fogem do controle das organizações”, conclui Ribeiro. 

Fotos: Divulgação