ARTIGO – Estudo da CEPEA/USP destaca o impacto negativo na economia causados pelas pragas na lavoura

Fabio Kagi*

Um estudo conduzido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da ESALQ/USP, avaliou os impactos econômicos gerados pelas principais pragas que atacam as plantações de soja, milho e algodão no Brasil, e que respondem por cerca de 86% da área plantada com grãos e cereais, 35% das exportações do agronegócio e 16% dos empregos na agricultura brasileira. 

Com base em resultados de pesquisas agrícolas de eficácia de controle, foram consideradas perdas médias de produtividade, com variação de 9,5% a 40%, de acordo com o tipo de praga analisada e que não foi devidamente controlada. 

É comum associar os danos causados pelas pragas aos prejuízos dos agricultores.  Somente para o controle da ferrugem asiática da soja, principal doença da cultura, os produtores investem diretamente R$ 5,75 bilhões anualmente. Porém, sem o controle adequado, a doença alcançaria patamares alarmantes, chegando a reduzir 30% da produtividade, o que significaria a necessidade de mais de R$ 30 bilhões em investimentos adicionais para compensar a perda – seja com o plantio de novas áreas ou com o aumento dos preços internos, que precisariam ser ajustados em 22,9%. 

Nesse cenário hipotético, com a falta de ações de controle por parte do agricultor, a Receita Bruta teria uma queda de 13,9% e o resultado econômico do plantio de soja no país sairia de um lucro de R$ 8,32 bilhões para um prejuízo de R$ 3,37 bilhões, com perdas de US$ 4,5 bilhões em receitas nas exportações. É importante lembrar que, em 2017, o Brasil comemorou um recorde no superávit comercial, ao alcançar US$ 67 bilhões, sendo que em 2014 o país registrou déficit na casa de US$ 4 bilhões.

Prejuízos da mesma magnitude seriam causados pela falta de controle da Lagarta Helicoverpa armigera, praga que ataca diversas culturas, entre elas o algodão e a soja, e que tem alto potencial de causar danos e reduzir a produtividade das lavouras em torno de 40%. Danos assim também tem reflexos macroeconômicos: 0,57 pontos percentuais no IPCA geral de 2017 e de 1,03 ponto percentual no IPCA de alimentos.

Diante de todos esses números, lembramos que os alimentos são o principal componente da cesta básica do cidadão brasileiro. Isso quer dizer que, aumentar o preço dos insumos alimentícios significa, na prática, penalizar os cidadãos de menor poder aquisitivo, pois boa parte da renda é comprometida com itens básicos para sobrevivência, sem margem de corte de itens supérfluos do orçamento familiar.

É por essa razão que a produção agrícola moderna, com a adoção de insumos próprios para se obter melhor produtividade, traz benefícios ambientais reais pela redução na quantidade de terras aráveis e outros recursos naturais utilizados, bem como benefícios sociais para a distribuição de alimentos a preços justos.

*Fabio Kagi é engenheiro-agrônomo pela Faculdade de Ciências Agronômicas, da Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus de Botucatu, e gerente adjunto de Inovação e Sustentabilidade da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

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